Almas perfumadas a habitar o Universo

Em fins de março de 2004, postei a mensagem abaixo no grupo de aromaterapia. A autoria só foi conhecida após o comentário de Suzy Belai aqui nesse post do Blog.  É com essa mensagem que inauguro o arquivo das minhas postagens naquele grupo…

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Para as almas perfumadas que aqui habitam…
Cuidem-se, abraços a todos.
Arnaldo

Almas Perfumadas

Ana Jácomo

Tem gente que tem cheiro de passarinho
quando canta.
De sol quando acorda.
De flor quando ri.
Ao lado delas, a gente se sente
no balanço de uma rede
que dança gostoso numa tarde grande,
sem relógio e sem agenda.
Ao lado delas, a gente se sente
comendo pipoca na praça.
Lambuzando o queixo de sorvete.
Melando os dedos com algodão doce
da cor mais doce que tem pra
escolher.
O tempo é outro.
E a vida fica com a cara que ela tem de verdade,
mas que a gente desaprende de ver.
Tem gente que tem cheiro de colo de Deus.
De banho de mar quando a água
é quente e o céu é azul.
Ao lado delas, a gente sabe
que os anjos existem e
que alguns são invisíveis.
Ao lado delas, a gente
se sente chegando em casa
e trocando o salto pelo chinelo.
Sonhando a maior tolice do mundo com o
gozo de quem não liga pra isso.
Ao lado delas, pode ser abril, mas parece
manhã de Natal do tempo em que
a gente acordava e encontrava o presente do
Papai Noel.
Tem gente que tem cheiro das estrelas
que Deus acendeu no céu e daquelas
que conseguimos acender na Terra.
Ao lado delas, a gente não acha que
o amor é possível, a gente tem certeza.
Ao lado delas, a gente se sente
visitando um lugar feito de alegria.
Recebendo um buquê de carinhos.
Abraçando um filhote de urso panda.
Tocando com os olhos os olhos da paz.
Ao lado delas, saboreamos a delícia
do toque suave que sua presença sopra
no nosso coração.
Tem gente que tem cheiro de cafuné sem pressa.
Do brinquedo que a gente não largava.
Do acalanto que o silêncio canta.
De passeio no jardim.
Ao lado delas, a gente percebe que
a sensualidade é um perfume
que vem de dentro e
que a atração que realmente nos move
não passa só pelo corpo.
Corre em outras veias.
Pulsa em outro lugar.
Ao lado delas, a gente lembra que no

instante em que rimos Deus está conosco,
juntinho ao nosso lado.
E a gente ri grande que nem menino arteiro.

 

Intercâmbio de informações sobre Aromaterapia pela Internet: Conheça o grupo “Aromaterapia e Óleos Essenciais”, no Yahoogrupos!

De 30 de outubro de 2002 até 30 de maio de 2008, exatamente, participei ativamente (tendo sido inclusive moderador por alguns anos) daquela que era e ainda é a maior lista de discussão sobre aromaterapia e óleos essenciais. Essa lista, idealizada por Fabián Lazló para sua empresa Lazló Ind (então denominada Aromalândia), rendeu várias sugestões e descrições por mim redigidas, sobre o que fazer utilizando aromaterapia e fitoterapia em diversos casos. Ao todo, foram 866 postagens, que ficam ali registradas, e contribuiram para com o auge da lista em termos de participação entre 2004 e 2007. Entre as postagens, análises de casos sob o ponto de vista psicossomático, naturopático, da MTC, mas principalmente o meu ponto de vista, que se baseia nestes fundamentos todos e mais alguns.

Conheça o grupo Aromaterapia e Óleos Essenciais, em http://br.groups.yahoo.com/group/aromaterapia_e_oleos_essenciais/

Aos poucos, as minhas contribuições passarão a figurar, de forma revisada, atualizada, adaptada e por vezes ampliada para o Blog. Os textos, é claro, perderão por algum lado, pois não estarão mais interagindo com outras vozes, algumas brilhantes como as de Alessandra Kali, Ary e Carmen Bon, Daniela Sim, Nelson Mairesse, o próprio Fabián e tantos outros que por ali passaram ou seguem colaborando para esclarecer, compartilhar e crescer dentro do saber da aromaterapia (são muitos os nomes importantes nessa lista!). Contudo, talvez se popularizem um pouco mais, e assim possam servir mais vezes ao propósito a que se destinam.

Espero assim seguir sendo útil.

Um abraço a todos,
Arnaldo

Mais três textos – toooodos da Martha!

AS RAZÕES QUE O AMOR DESCONHECE

Martha Medeiros


Você é inteligente.

 

Lê livros, revistas e jornais. Gosta de filmes de Woody Allen, do Hal Hartley e do Tarantino, mas sabe que uma boa comédia romântica também tem seu valor.

É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido em comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco.

Gosta de viajar, de música, tem loucura por computador e seu fettuccine ao pesto é imbatível. Você tem bom humor não pega no pé de ninguém e adora sexo.

Com um currículo desses, criatura, por que diabo está sem namorado?

Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento,  mas uma equação matemática : eu linda + você inteligente = dois apaixonados.

Não funciona assim. Ninguém ama a outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não-fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo-lhes à porta.

O amor não é chegado a fazer contas, não obedece a razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar. Costuma ser despertado mais pelas flechas do Cupido que por uma ficha limpa.

Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai ligar e não liga, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário, ele adora o Planet Hemp, que você não suporta. Ele não emplaca uma semana nos empregos, está sempre duro e é meio galinha. Ele não tem a menor vocação para príncipe encantado, mas você não consegue despachá-lo. Quando a mão dele toca em sua nuca, você derrete feito manteiga. Ele toca gaita de boca, ele adora animais, ele escreve poemas. Por que você ama esse cara? Não pergunte a mim.

Você ama aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas a que ela não respondeu, você deu flores que ela deixou murchar, você levou-a para conhecer sua mãe e ela foi de blusa transparente. Você gosta de Rock e ela de MPB, você gosta de praia e ela tem alergia a sol, você abomina o Natal e ela detesta o Ano Novo, nem no ódio vocês combinam. Então? Então que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais viciante que LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome.

Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, se veste bem e é fã do Caetano. Isso são referências, só. Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá ou pelo tormento que provoca. Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera. Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o Amor tem de indefinível. Honestos existem aos milhares, generosos tem às pencas, bons motoristas e bons pais de família, está assim, ó.

Mas só o seu amor consegue ser do jeito que ele é.

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SENTIR-SE AMADO

Martha Medeiros

O cara diz que te ama, então tá. Ele te ama.

Sua mulher diz que te ama, então assunto encerrado.

Você sabe que é amado porque lhe disseram isso, as três palavrinhas mágicas. Mas saber-se amado é uma coisa, sentir-se amado é outra, uma diferença de milhas, um espaço enorme para a angústia instalar-se.

A demonstração de amor requer mais do que beijos, sexo e verbalização, apesar de não sonharmos com outra coisa: se o cara beija, transa e diz que me ama, tenha a santa paciência, vou querer que ele faça pacto de sangue também?

Pactos. Acho que é isso. Não de sangue nem de nada que se possa ver e tocar. É um pacto silencioso que tem a força de manter as coisas enraizadas, um pacto de eternidade, mesmo que o destino um dia venha a dividir o caminho dos dois.

Sentir-se amado é sentir que a pessoa tem interesse real na sua vida, que zela pela sua felicidade, que se preocupa quando as coisas não estão dando certo, que sugere caminhos para melhorar, que coloca-se a postos para ouvir suas dúvidas e que dá uma sacudida em você, caso você esteja delirando. “Não seja tão severa consigo mesma, relaxe um pouco. Vou te trazer um cálice de vinho.”

Sentir-se amado é ver que ela lembra de coisas que você contou dois anos atrás, é vê-la tentar reconciliar você com seu pai, é ver como ela fica triste quando você está triste e como sorri com delicadeza quando diz que você está fazendo uma tempestade em copo d’água. “Lembra que quando eu passei por isso você disse que eu estava dramatizando?” Então, chegou sua vez de simplificar as coisas. “Vem aqui, tira esse sapato.”

Sentem-se amados aqueles que perdoam um ao outro e que não transformam a mágoa em munição na hora da discussão. Sente-se amado aquele que se sente aceito, que se sente bem-vindo, que se sente inteiro. Sente-se amado aquele que tem sua solidão respeitada, aquele que sabe que não existe assunto proibido, que tudo pode ser dito e compreendido.

Sente-se amado quem se sente seguro para ser exatamente como é, sem inventar um personagem para a relação, pois personagem nenhum se sustenta muito tempo. Sente-se amado quem não ofega, mas suspira; quem não levanta a voz, mas fala; quem não concorda, mas escuta.

Agora sente-se e escute: eu te amo não diz tudo.

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Em maio de 98, escrevi um texto em que afirmava que achava bonito o ritual do casamento na igreja, com seus vestidos brancos e tapetes vermelhos, mas que a única coisa que me desagradava era o sermão do padre: “Promete ser fiel na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, amando-lhe e respeitando-lhe até que a morte os separe?” Acho simplista e um pouco fora da realidade. Dou aqui novas sugestões de sermões:

– Promete não deixar a paixão fazer de você uma pessoa controladora, e sim respeitar a individualidade do seu amado, lembrando sempre que ele não pertence a você e que está ao seu lado por livre e espontânea vontade?

– Promete saber ser amiga e ser amante, sabendo exatamente quando devem entrar em cena uma e outra, sem que isso lhe transforme numa pessoa de dupla identidade ou numa pessoa menos romântica?

– Promete fazer da passagem dos anos uma via de amadurecimento e não uma via de cobranças por sonhos idealizados que não chegaram a se concretizar?

– Promete sentir prazer de estar com a pessoa que você escolheu e ser feliz ao lado dela pelo simples fato de ela ser a pessoa que melhor conhece você e portanto a mais bem preparada para lhe ajudar, assim como você a ela?

– Promete se deixar conhecer?

– Promete que seguirá sendo uma pessoa gentil, carinhosa e educada, que não usará a rotina como desculpa para sua falta de humor?

– Promete que fará sexo sem pudores, que fará filhos por amor e por vontade, e não porque é o que esperam de você, e que os educará para serem independentes e bem informados sobre a realidade que os aguarda?

– Promete que não falará mal da pessoa com quem casou só para arrancar risadas dos outros?

– Promete que a palavra liberdade seguirá tendo a mesma importância que sempre teve na sua vida, que você saberá responsabilizar-se por si mesmo sem ficar escravizado pelo outro e que saberá lidar com sua própria solidão, que casamento algum elimina?

– Promete que será tão você mesmo quanto era minutos antes de entrar na igreja?

Sendo assim, declaro-os muito mais que marido e mulher: declaro-os maduros.

Ao contrário da série Jabor & Martha, o que mais gosto aqui é o último.

Arnaldo V. Carvalho

Um olhar crítico sobre o e-mail dos golfinhos da Dinamarca

Um certo e-mail vêm circulando e já chegou por diversas mãos (eletrônicas) à minha caixa de correio. Nele, mostram-se fotografias de uma época do ano quando, num certo local da Dinamarca, milhares de golfinhos são abatidos ao mesmo tempo, em águas rasas (que ficam completamente vermelhas de sangue), e com a presença de crianças. Prato cheio para os brasileiros olharem para fora e esquecerem-se de si e de sua realidade. O texto abaixo é a minha resposta ao tal e-mail.

Os maravilhosos cientistas do mundo inteiro enfiam eletrodos na cabeça de macacos e testam-lhes os limites da dor; pegam coelhinho e jogam todo tipo de produto ácido na pele para ver o que dá – e assim nascem muitos produtos para tirar espinhas, fazer peelling, etc… Sofrimento animal em prol da beleza da pele humana com eternos 20 anos. Não há abaixo-assinado circulando pela internet contra a experimentação animal.

As escolas brasileiras ainda acham interessante, com tanta tecnologia de ensino audio-visual, que todos os anos milhares ou milhões de sapos e preás continuem sendo dissecados, quando não vivisseccionados (todo mundo tem um relato de ter começado a abrir o bichinho e notal que “estranhamente” o coração ainda pulsa, a respiração ainda existe…) por estudantes entre 12 e 15 anos. Cadê o abaixo-assinado?

Os bois abatidos no Brasil choram na fila o ano inteiro e sobre isso, não há abaixo-assinado, ninguém classifica como vergonha.

Ninguém classifica como vergonha castrar animais domésticos amadíssimos, e há quem chegue a lhes arrancar cordas vocais, rabos, etc. Isso porque são animais muito queridos, tanto como alguém da família! Já deu pra entender o que acontece dentro da família.. A castração moral dos novos, a humilhação pela fragilidade dos velhos. E os internautas brasileiros estão mais preocupados com os golfinhos da Dinamarca. É…

Castrar o boi de corte, à faca, o porco à agulhada, tudo “a frio”, sem anestesia, e sim com muito sofrimento… Não há vergonha alguma sobre nada disso, muito menos abaixo-assinado. Até porque na hora que está no prato, o que vale é a “carninha esquizofrenizada” – todo mundo sabe que a carne do açougue e do supermercado veio de um animal com 99% de chances de ter sido criado com diversas situações de crueldade e distrato. Mas ali, mas na hora todo mundo “surta” e desconecta-se dessa mesma realidade. Sem qualquer vergonha!

Os chineses comem cães,os japoneses e dinamarqueses matam golfinhos e baleias, os brasileiros matam peixe-boi (tampando suas narinas com rolhas! e vocês não sabiam disso né?), fazem briga de galo e comem animais mantidos e abatidos sob condições cruéis.

Quem é melhor?

A cultura de um povo não deve ser alvo de críticas, enquanto não se concentra e se conserta o que há dentro da própria cultura interna.

Esse e-mail a circular é grave, mas não é menos grave matar de fome um bando de meninos no nordeste todo ano.

Arnaldo V. Carvalho
PS: quem quiser ver na íntegra o e-mail dos golfinhos, é só procurar na Internet. É bem fácil achar. Recuso-me a fornecer links diretos.

Relacionamento, amor, sexo e sacanagem (três textos, um do outro Arnaldo, outro da Martha Medeiros…)

Três textos simples(mente fantásticos). Dois de Arnaldo Jabor, outro da Martha Medeiros (mas que circula aí como se fosse do Arnaldo Jabor, ou mesmo do John Lennon(!):

SACANAGEM

Vou falar de amor, mas não vou falar sobre ursinhos de pelúcia nem sobre bombons. O momento é ideal para falar de sacanagem.

Se dei a impressão de que o assunto será ménages-à-trois, sexo selvagem e práticas perversas, sinto muito desiludi-los. Pretendo, sim, falar das sacanagens que fizeram com a gente.

Fizeram a gente acreditar que o amor mesmo, amor pra valer, só acontece uma vez, geralmente antes do 30 anos. Não contaram pra nós que o amor não é racionado nem chega com hora marcada.

Fizeram a gente acreditar que cada um de nós é a metade de uma laranja, e que a vida só ganha sentido quando encontramos a outra metade. Não contaram que nascemos inteiros, que ninguém em nossa vida merece carregar nas costas a responsabilidade de completar o que nos falta: a gente cresce através da gente mesmo. Se estivermos em boa companhia, só é mais rápido.

Fizeram a gente acreditar numa fórmula chamada “dois em um”, duas pessoas pensando igual, agindo igual, que isso era que funcionava. Não nos contaram que isso tem nome: anulação. Que só sendo indivíduos com personalidade própria que poderemos ter uma relação saudável.

Fizeram a gente acreditar que o casamento era obrigatório e que desejos fora de hora devem ser reprimidos.

Fizeram a gente acreditar que os bonitos e magros são mais amados, que os que transam pouco são caretas, que os que transam muito não são confiáveis, e que sempre deve haver um chinelo velho para um pé torto. Ninguém nos disse que chinelos velhos também têm seu valor, já que não nos machucam, e que existem mais cabeças tortas do que pés.

Fizeram a gente acreditar que só há uma fórmula de ser feliz, a mesma para todos, e os que escapam dela estão condenados à marginalidade. Não nos contaram que estas fórmulas dão errado, frustram as pessoas, são alienantes, e que poderíamos tentar outras alternativas menos convencionais.

Sexo não é sacanagem. Sexo é uma coisa natural, simples – só é ruim quando feito sem vontade.

Sacanagem é outra coisa. É nos condicionarem a um amor cheio de regras e princípios, sem ter o direito à leveza e ao prazer que nos proporcionam as coisas escolhidas por nós mesmos.

MARTHA MEDEIROS*

* Martha Medeiros nasceu em 20 de agosto de 1961 em Porto Alegre, onde vive até hoje. É formada em Publicidade e Propaganda e trabalhou como redatora e diretora de criação em várias agências da capital gaúcha. Em 1993, deu um tempo e foi morar em Santiago do Chile, onde passou 8 meses apenas escrevendo poesia. Já tinha, nesta época, publicado 3 livros, o primeiro deles “Strip-Tease”, que saiu pela coleção Cantadas Literárias da editora Brasiliense, de São Paulo.

Quando retornou ao Brasil, foi convidada a escrever crônicas para o jornal Zero Hora, o que nunca havia feito. Deu certo. Desde 1994 é titular de uma coluna no caderno ZH Donna, que circula aos domingos, e de outra coluna que circula às quartas-feiras, na página 3 do jornal. Desde 1998 escreve uma coluna semanal para o site Almas Gêmeas e é colaboradora também da revista Viagem e da revista Claudia, ambas da editora Abril.

Hoje, Martha tem 14 livros publicados, sendo que o seu maior sucesso literário é o livro de crônicas “Trem-Bala”, que foi adaptado com êxito para o teatro, sob direção de Irene Brietzke. Entre outros livros estão “Topless”, “Poesia Reunida”, “Cartas Extraviadas e Outros Poemas” e “Montanha-Russa”, editados pela L&PM (www.lpm.com.br) e “Divã”, lançado pela editora Objetiva. Martha adoraria morar um tempo em Londres, gosta de dirigir, de cinema, de shows de rock, de ler livros, de vinho tinto e de bordar tapetes. É casada e tem duas filhas.

Blog da Martha

Twitter da Martha

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Amor é propriedade. Sexo é posse. Amor é a lei; sexo é invasão.

O amor é uma construção do desejo. Sexo não depende de nosso desejo; nosso desejo é que é tomado por ele. Ninguém se masturba por amor. Ninguém sofre com tesão. Amor e sexo, são como a palavra farmakon em
grego: remédio ou veneno – depende da quantidade ingerida.

O sexo vem antes. O amor vem depois. No amor, perdemos a cabeça, deliberadamente. No sexo, a cabeça nos perde. O amor precisa do pensamento. No sexo, o pensamento atrapalha.

O amor sonha com uma grande redenção. O sexo sonha com proibições; não há fantasias permitidas. O amor é o desejo de atingir a plenitude. Sexo é a vontade de se satisfazer com a finitude. O amor vive da impossibilidade – nunca é totalmente satisfatório. O sexo pode ser, dependendo da posição adotada. O amor pode atrapalhar o sexo. Já o contrário não acontece. Existe amor com sexo, claro, mas nunca gozam juntos.

O amor é mais narcisista, mesmo entrega, na ‘doação’. Sexo é mais democrático, mesmo vivendo do egoísmo. Amor é um texto. Sexo é um esporte. Amor não exige a presença do ‘outro’. O sexo, mesmo solitário, precisa de uma ‘mãozinha’. Certos amores nem precisam de parceiro; florescem até na maior solidão e na saudade. Sexo, não – é mais realista. Nesse sentido, amor é uma busca de ilusão. Sexo é uma bruta vontade de verdade. O amor vem de dentro, o sexo vem de fora. O amor vem de nós. O sexo vem dos outros. ‘O sexo é uma selva de epilépticos’ (N. Rodrigues). O amor inventou a alma, a moral. O sexo inventou a moral também, mas do lado de fora de sua jaula, onde ele ruge.

O amor tem algo de ridículo, de patético, principalmente nas grandes paixões. O sexo é mais quieto, como um caubói – quando acaba a valentia, ele vem e come. Eles dizem: ‘Faça amor, não faça a guerra’. Sexo quer
guerra. O ódio mata o amor, mas o ódio pode acender o sexo. Amor é egoísta; sexo é altruísta. O amor quer superar a morte. No sexo, a morte está ali, nas bocas. O amor fala muito. O sexo grita, geme, ruge, mas
não se explica.

O sexo sempre existiu – das cavernas do paraíso até as ‘saunas relax for men’. Por outro lado, o amor foi inventado pelos poetas provençais do século XII e, depois, relançado pelo cinema americano da moral cristã.
Amor é literatura. Sexo é cinema. Amor é prosa; sexo é poesia. Amor é mulher; sexo é homem – o casamento perfeito é do travesti consigo mesmo. O amor domado protege a produção; sexo selvagem é uma ameaça ao bom
funcionamento do mercado. Por isso, a única maneira de controlá-lo é programá-lo, como faz a indústria da sacanagem. O mercado programa nossas fantasias.

Não há ‘saunas relax’ para o amor, onde o sujeito entre e se apaixone. No entanto, em todo bordel, finge-se um ‘amorzinho’ para iniciar. O amor virou um estímulo para o sexo.

O problema do amor é que dura muito, já o sexo dura pouco. Amor busca uma certa ‘grandeza’. O sexo é mais embaixo. O perigo do sexo é que você pode se apaixonar. O perigo do amor é virar amizade. Com camisinha, há
‘sexo seguro’, mas não há camisinha para o amor.

O amor sonha com a pureza. Sexo precisa do pecado. Amor é a lei. Sexo é a transgressão. Amor é o sonho dos solteiros. Sexo, o sonho dos casados.

Amor precisa do medo, do desassossego. Sexo precisa da novidade, da surpresa. O grande amor só se sente na perda. O grande sexo sente-se na tomada de poder. Amor é de direita. Sexo, de esquerda – ou não, dependendo do momento político. Atualmente, sexo é de direita. Nos anos 60, era o contrário. Sexo era revolucionário e o amor era careta.
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx JABOR xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

Sempre acho que namoro, casamento, romance, tem começo, meio e fim.

Como tudo na vida. Detesto quando escuto aquela conversa:

– Ah,terminei o namoro…

– Nossa, estavam juntos há tanto tempo…..

– Cinco anos…que pena…acabou….

– é…não deu certo…

Claro que deu! Deu certo durante cinco anos, só que acabou.

E o bom da vida, é que você pode ter vários amores.

Não acredito em pessoas que se complementam. Acredito em pessoas que se somam.

Às vezes você não consegue nem dar cem por cento de você para você mesmo, como cobrar cem por cento do outro?

E não temos essa coisa completa.

Às vezes ela é fiel, mas é devagar na cama.

Às vezes ele é carinhoso, mas não é fiel.

Às vezes ele é atencioso, mas não é trabalhador.

Às vezes ela é muito bonita, mas não é sensível.

Tudo junto, não vamos encontrar.

Perceba qual o aspecto mais importante para você e invista nele.

Pele é um bicho traiçoeiro.

Quando você tem pele com alguém, pode ser o papai com mamãe mais básico que é uma delícia.

E as vezes você tem aquele sexo acrobata, mas que não te impressiona…

Acho que o beijo é importante…e se o beijo bate…se joga…se não bate…mais um Martini, por favor…e vá dar uma volta.

Se ele ou ela não te quer mais, não force a barra.

O outro tem o direito de não te querer.

Não brigue, não ligue, não dê pití.

Se a pessoa tá com dúvidas, problema dela, cabe a você esperar…. ou não.

Existe gente que precisa da ausência para querer a presença.

O ser humano não é absoluto. Ele titubeia, tem dúvidas e medos, mas se a pessoa REALMENTE gostar, ela volta.

Nada de drama.

Que graça tem alguém do seu lado sob pressão?

O legal é alguém que está com você, só por você. E vice versa.

Não fique com alguém por pena. Ou por medo da solidão.

Nascemos sós. Morremos sós. Nosso pensamento é nosso, não é compartilhado.

E quando você acorda, a primeira impressão é sempre sua, seu olhar, seu pensamento.

Tem gente que pula de um romance para o outro.

Que medo é este de se ver só, na sua própria companhia?

Gostar dói.

Muitas vezes você vai sentir raiva, ciúmes, ódio, frustração…..

Faz parte. Você convive com outro ser, um outro mundo, um outro universo.

E nem sempre as coisas são como você gostaria que fosse….

A pior coisa é gente que tem medo de se envolver.

Se alguém vier com este papo, corra, afinal você não é terapeuta.

Se não quer se envolver, namore uma planta. É mais previsível.

Na vida e no amor, não temos garantias.

Nem toda pessoa que te convida para sair é para casar.

Nem todo beijo é para romancear.

E nem todo sexo bom é para descartar… Ou se apaixonar… Ou se culpar…

Enfim…quem disse que ser adulto é fácil ?????’

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx  JABOR  xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

Esse último texto é o que menos gosto.. Acho que é porque comecei a reconhecer que ser adulto é difícil.

Arnaldo V. Carvalho.