Arnaldo V. Carvalho
Meu amigo Ary Bon é declaradamente favorável ao chamado “anarco-capitalismo”. Muito do que defende está alinhado com o pensamento econômico da chamada Escola Austríaca.
Para argumentar sobre a política Temer, ele me indicou o IMB, organização que defende e propaga tais ideias. Muitos esquerdistas talvez considerem a Escola Austríaca como “o pior dos capitalismos”, enquanto que os de direita conservadores consideram a teoria dessa escola como “radical” e dissociada de um princípio mínimo de realidade.
Fato: Eles dão uma tremenda aula de economia para leigos , muito proveitosa, no artigo:
A redação é de Fernando Ulrich, mestre em Economia da Escola Austríaca.
Indico que leiam o artigo e também os comentários, do mais alto nível. Ele conta com links e mais links internos e outros, que te levam a uma imersão em um novo mundo.
Minha opinião?
Não é fechada. O socialismo (teórico) defende um Estado ativo, honesto, capaz de organizar e dar conta das demandas sociais para uma sociedade mais justa, para todos. Isso tem ocorrido com sucesso nos países escandinavos. Pelo que entendi, a Escola Austríaca não considera isso uma possibilidade. Eles querem é o FIM do Estado, ou sua máxima redução. Acreditam que a economia 100% livre, que as pessoas não serão nunca iguais mesmo, e que o enriquecimento do país sempre oferecerá qualidade para todos, do que tem menos acesso aos que tem mais. Daí surgem umas teorias malucas atreladas, como uma certa defesa à monarquia constitucionalista (!!!).
Um problema de teorias materialistas (seja de que lado elas pintem) é o esquecimento do fator humano.
No final das contas, para mim, o sistema econômico não importa, mas sim o caráter consciente e a empatia. Se as pessoas de uma dada sociedade forem sensíveis umas com as outras, pode-se usar o sistema econômico e político que se quiser. Enquanto os ricos seguirem dormindo tranquilos em não fazer nada por pessoas passando fome, não vai dar certo. Naturalmente estamos falando dessa sensibilidade atrelada à consciência. A cultura de esmola e da caridade para o mero alívio de culpas precisa ser banida do mapa. O privilegiado precisa lutar para que todos possam ter um desfrute semelhante ao seu. De outro lado: enquanto os pobres seguirem acreditando que o governo tem que resolver a situação para eles, que o patrão é sempre um monstro, que trabalhar é uma #$!@ (com todas as consequencias que isso causa) não vai dar certo. Enquanto não vencermos a cultura de privilégios do Cabral (o Pedro Álvares, tá?*), que segue sendo o cerne da forma do brasileiro funcionar na vida (do menos ao mais poderoso!), não vai dar certo**. Mas se isso tudo muda, se mudam as mentalidades, vai dar certo seja lá qual sistema ocorra. Sem uma reforma humana e de sua cultura, nada poderá funcionar.
Sobre isso, os detentores de capital, os investidores dos diversos portes podem ajudar muito: se ao menos migrarem de um capitalismo predatório a la Warren Buffet e passarem a colocar o dinheiro tão e somente só em papeis de empresas que de fato proporcionem desenvolvimento humano, as coisas já podem melhorar bastante. Conclamos aos que investem em ações: busquem seus lucros, mas com escrúpulos. Comprem apenas ações de empresas que vão para além do lucro. É isso: é preciso patrocinar o desenvolvimento humano! E os ricos podem ganhar dinheiro com isso. Já pode ser um começo.
Bem, vai lá, lê. Mas lê também os historiadores socialistas de alto nível como Perry Anderson e Edward Thompson. E ouve o que as outras teorias do mundo têm a dizer. Busca sobre economia solidária, sobre o chamado “capitalismo consciente” (é possível?). Leia sobre. Finalmente, leia o “Escuta, Zé Ninguém” e a Teoria de Massas do Fascismo”, de Wilhelm Reich. Aí ficará bom para aprendermos juntos.
Abraços!
* Já na carta de Caminha segue um pedido de emprego ao sobrinho!
** Ver Laura de Mello e Souza, “O Sol e a Sombra”, pela Cia. as Letras (2006); e o grupo de estudos coordenado por Ronald Raminelli, da UFF: As Origens dos Privilégios no Brasil (dicas quentes de Nívia Pombo).