“Uma Mensagem ao Universo”
por Kazuo Ohno, 1998
TRADUÇÃO: Arnaldo V. Carvalho
“À beira da morte, as pessoas revisitam os momentos alegres de uma vida.
Seus olhos ficam olhando admirados para a palma da mão, vendo a morte, vida, alegria e tristeza com uma sensação de tranquilidade.
Este estudo diário da alma, será este o início da jornada?
Sento-me perplexo no playground dos mortos. Aqui eu desejo dançar e dançar e dançar e dançar, a vida da grama selvagem.
Eu vejo a grama selvagem, eu sou a grama selvagem, eu me torno um com o universo. Essa metamorfose é a cosmologia e o estudo da alma.
Na abundância da natureza eu vejo as bases da dança. Será que é porque minha alma deseja fisicamente tocar a verdade?
Quando minha mãe estava morrendo eu acarinhei seu cabelo por toda a noite, sem conseguir emitir uma única palavra de conforto. Depois disso, percebi que não era eu quen estava cuidando dela, mas era ela quem estava cuidando de mim.
As palmas da mão de minha mãe são uma preciosa grama selvagem para mim.
Eu desejo dançar a dança da grama selvagem até o mais alto limite de meu coração”.
Ohno, 1998.
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Palavras de Chris Way acerca de Ohno e sua obra (publicado em janeiro de 2009)
I fico pensando sobre o que Ohno quis dizer. A dança da grama selvagem: pode ser que aqui nós convergimos, se é que isso é possível, com a mãe uterina com a mãe natureza; com ambas ao mesmo tempo? Onde nós expressarmos criativamente (na dança, na arte, em sorrisos, no amor, no canto) tanto prazer na vida – “prazer” não como função da felicidade, mas simplesmente fluidez do sangue e expiração – que nós nos misturamos com a essência dentro de nós [nosso passado, nossos genes, nossa biologia] e externamente nós [nossos parceiros no solo, no ar, na terra, nas minúsculas celulas das menores das partículas; tudo o que também é nós, composto da mesma coisa que nós]?
Criatividade e expressão como atos de reconciliação radical entre nós mesmos e nós mesmos.
Oferecemos a melhor atenção possível a seu outono, já lamentando por seu fim após passarmos a primavera e o verão de nossa vida humana com ela, movimentando-a num desconfortável conjunto de gestos. Na realidade, ela é quem cuida de nós, e segue permitindo-nos viver e respirar, comer, e usufruir e sobreviver pela teia que, embora desgastada lentamente, permanece bem entrelaçada, com sua vitalidade conectando abelhas, flores, pássaros, vento, solo, sol, folhas, oxigênio, nós, nós.
Não há nada a fazer além de sentir isso na raiz.

FONTE: Blog Snail Crow, do Chris Way. O autor publicou isso em seu Blog um ano antes da morte de Ohno. Muito lindo, obrigado, Chris!