Lamento pelas quedas
Arnaldo V. Carvalho*
Toda e qualquer polarização, onde há um “vencedor” e um “perdedor”, o Todo perde. Perdemos sempre. Tornamo-nos piores.
Não comemoro quedas: Collor, Cunha, Garotinho, Cabral… Não comemoro a captura de bandidos, corruptous ou assassinos. Não comemoro punições de qualquer ordem. Sempre que esses episódios ocorrem, que uma realidade hedionda vem a tona, me entristeço. A humanidade perdeu de novo. Ter que prender e punir é a materialização da incompetência da sociedade em construir bases éticas, materiais, afetivas, psíquicas, sociais, entre os seus.
Com os anos, fui deixando de achar graça em irônias, escárnios, comemorações ácidas de derrotas, mesmo de “inimigos” (veja meu artigo sobre a “risada sem graça” de Michel Temer). Eu realmente só lamento, lamento muito. Sinto tristeza por esses políticos. Sinto, como dizem agora os jovens, “vergonha alheia”. Chegaram a lugares de poder muito altos. Podiam ter feito tanta coisa a mais e melhor… Podiam ter sido mais felizes e feito tanta gente mais feliz.
Mas não. Especulo que não foram gerados ou nascidos com amor, nem amparados nos contornos necessários ao nascimento. Fato: não foram criados com amor ou limites (o que dá no mesmo). É isso: pessoas assim parecem não ter senso de limite – e talvez por isso estejam incapacitados de amar.
É preciso um mundo que pare de precisar prender. É preciso um ser humano que não sinta necessidade de roubar ou matar. É preciso, é urgente, que a gente encare de forma um pouquinho menos resignada, e mais madura e responsável, o fato de que vivemos uma sociedade que cria esse tipo de gente, com tamanhos distúrbios de caráter – e tantas instituições espelhadas nessa que é uma intensa psicopatia humana. Combater uma sociedade que, como um diz Tomio Kikushi, é mais do que louca: é enlouquecedora.
A saída, a grande virada, não está na escola ou na família, no governo ou na iniciativa privada: está no coração de cada um. Nele, e só nele, há a capacidade de escolha pelas doses amorosas de auto-limites, que cada um precisa se dar, em nome da Vida dos outros.
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* Arnaldo V. Carvalho, terapeuta, pai, cidadão.