Paul de Selfie, para não deixar dúvida que chegou para mim via zap de um fã dos Beatles. Linda foto! Alguém arrisca o ano? (Arnaldo)
Mês: Novembro 2017
Cartões da Saúde – Arte Mariana Massarani (4): Arroz com Feijão!
Esse é o quarto de uma série de cartões postais que estou publicando aqui no Blog. Linda arte, ótima mensagem, maravilhosa proposta da Binky para o Elos da Saúde, com ilustração da Mariana Massarani.
Encontro histórico
Um amigo me mandou pelo whatsapp essa foto maravilhosa: John Lennon e Chuck Berry tocando juntos. Sensacional!!! E fica o mistério: quem será o felizardo baterista-cowboy, que ao fundo participava desse sarau lendário? (Arnaldo)
E atenção: Um primo viu o post e já mandou logo o vídeo épico desse encontro. Valeu Tony!:
Maravilha ficou completa.
83 anos de medo, dor, abandono, sofrimento e ódio.
Sugestão de músicas para ouvir enquanto lê esse texto: “Sound of Silence“, “Blackbird“, “Guaranteed” e ou “One day at a time”
A morte do marginal Charles Manson aos 83 anos mais uma vez traz à mídia o retrato de uma sociedade doente
Arnaldo V. Carvalho*
Ainda mais para quem não é americano, os crimes e [demais] loucuras cometidos pela chamada “Família Manson” no final dos anos 60 já jazia na poeira do tempo, até que a imprensa publicitou sobre a morte de seu protagonista maior, Charles Manson.
Nos cientes de sua existência, a sensação geral foi de alívio. Em mim, apenas um baixar de olhos, porque confesso, espelhei suas sombras nas minhas.
Eu conheço a raiva do mundo, da vida, da dor e do prazer. Fui uma criança explosiva, brigona, com uma solidão estranha, levada para depressões na juventude; e tive muito, muito medo de tudo. Raiva é medo disfarçado. Ou é filha do medo. Me acredito quase “salvo”, porque o amor das pessoas que me criaram me salvou. Aqui, destaco meus irmãos com paciência infinita, que me neutralizavam quando eu muito pequeno os atacava com toda a minha força física e falavam baixo para só me liberarem quando eu me acalmasse. Isso me deu contornos, limites, e me manteve sóbrio. Mesmo assim, meu destempero eclodiu muitas vezes ao longo dos anos e ofendeu as pessoas que mais amei nessa vida.
Eu seria diferente de Manson se tivesse sido rejeitado desde a concepção, e estuprado, violentado, drogado, tudo desde sempre? Eu teria morrido, de um jeito ou de outro.
Se conseguirmos por um segundo esquecer acerca de todo o mal que sua vida doentia conseguiu proporcionar à Vida: pensando apenas no sofrimento acumulado, 83 anos é pesado muita, muita coisa. Não sei como ele viveu. Não sei.
Mas sei que para sobreviver com um background desses, rompe-se com cultura, normalidade, com a razão e com a emoção. No lugar dele, duas possibilidades são aparentemente as únicas possíveis ao corpo-mente: pelo menos um dele tem que morrer. Se não é o corpo arrebatado pela energia anti-vida, então será a mente. O X na testa que Manson se fez dizendo-se “estar fora” daquela sociedade, daquela jurisdição, daquele mundo, já estava feito há tanto tempo em seu coração. O corpo encarcerado por tantas décadas era o de um natimorto-vivo, o mais atormentado dos zumbis, cujo destino tornou-se devorar mentes e levar outros a conhecer o inferno com ele, durante toda a sua longa existência e até o fim. Me surge uma primeira pergunta: Psicopatas serão sobreviventes físicos de recônditos profundos de almas torturadas e mortas mesmo antes do nascimento?
A força de um “ninguém”
Notem, usei no título o termo “marginal”. Nada mais apropriado: Manson ficou à margem da sociedade desde seu nascimento. Uma vez perguntaram a ele “quem era Charles Manson”. Caretas depois, ele disse: “ninguém”. É o que ele foi, desde sempre.
Manson já era “menos um” há tempos. Me preocupo com os “ninguéns” soltos por aí, influenciando pessoas, semeando a trágica doença da perversidade silenciosa e oculta. Me preocupo com os ninguéns sendo neste momento fabricados por essa sociedade bizarra. E estou atento a meus ninguéns e os de vocês, pessoas “normais” que me leem.
São Mansons que promovem o “Jogo da Baleia Azul”, são Mansons que ensinam adolescentes a se cortarem para “aliviar sofrimento”, são Mansons os que misturam hoje prazer com humilhação, e espalham em mais de cinquenta tons de cinza a ideia de prazer misturado com dor. Nesse instante, eles estão na Grande Rede, aliciando menores, incitando à morte por assassínio ou suicídio, incentivando aos jovens que se apartem de vez de suas famílias. Eles estão usando a solidão depressiva dos jovens que estão desprovidos de referências adultas concretas (porque os pais são ausentes, trabalhando o dia inteiro, ou formaram outras famílias, ou ou ou…). E para concluírem seu intento, de formar novos Mansons iguais a eles, sugerem toda a forma de descaracterização da pessoa como parte da vida coletiva. Descaracteriza-se o gênero, consome-se substâncias ilícitas ou aparentemente ilícitas, ouve-se músicas que reforçam o mote, usam-se redes sociais que não as gerais, cria-se um “submundo” onde eles são acolhidos.
A “promessa” Manson é a promessa do Fauno, com desafios e uma espécie confusa de valorização da condição do abandonado, presa fácil uma vez que caia no labirinto emocional oferecido por pessoas assim.
Para o mundo, o demonio-marginal Charles Manson, parafraseando Gentileza, era um ninguém indigesto. Uma verdade inconveniente. Porque ele é mais um produto de nossa sociedade que como disse Tomio Kikushi, não é somente louca, mas enlouquecedora.
Resposta reichiana
Manson mostrou ao mundo como um ninguém pode se tornar uma ameaça. O psiquiatra Wilhelm Reich (1897-1957), pouco antes de Manson nascer, tentou precaver a sociedade sobre a “peste emocional”, o ninguém que vive nas pessoas, e que quando “assume o controle” – é o caso – possui um poder destrutivo e contaminante.
“… olhando prudentemente em torno, entendi o que te escraviza: ÉS TU TEU PRÓPRIO NEGREIRO” . (REICH, 1974, p.24)
Ele estudou como esse mal coletivo se forma e espalha, e apontou soluções. Mostrou o caminho do Amor Natural e ao mesmo tempo, denunciou o “Pequeno Homem”* que nos habita, e é oriundo do medo e da repressão. Mas não foi ouvido. Otimista, o Reich da década de 1930 errou quando previu que a sociedade de cinquenta anos depois poderia estar mais preparada para o que ele tinha a dizer. Seguimos afastados do amor, reprimidos, hipócritas, e com isso perversos, cruéis, violentos, doentes sexualmente, psiquicamente, corporalmente.
A estruturação sadia da psiquê parece ter um limite sensível às experiências vividas, e talvez por isso eu não conheça uma biografia de gente que nasceu e cresceu em condições tão brutais e terminou bem (saudável, inclinado à vida, e a inspirar outras vidas). É possível manter-se são mesmo após grandes sofrimentos, e nem é preciso recorrer à exemplos místicos como Jesus Cristo, Buda ou Krishna (todos nascidos e criados com amor); temos muitos mártires e heróis contemporâneos que nos provam isso. Mas eles conseguiram porque já estavam estruturados. Convido ao leitor a me apresentar uma grande pessoa que tenha sido condenada ao nada desde sempre.
O questionamento, então, passa a ser: quando a sociedade vai abrir os olhos para o impacto do nascimento, da força do Amor, incluindo o contorno do limite infantil que também é expressão de afeto e interesse verdadeiro pela criança?
Ou pior: quantos Charles Mansons ou mais grave, quantas famílias Mansons seguirão sendo formadas até que a sociedade finalmente se liberte das velhas fórmulas morais, punitivas e adoecedoras das almas?
Na restauração da sanidade coletiva da humanidade, a única revolução possível, e a única saída para o caos crescente segue sendo Ele, o Amor.
***
* Um livro simples, direto e esclarecedor sobre esse “ninguém” que há em nós foi escrito por Reich em 1948 e traduzido no Brasil como “Escuta, Zé Ninguém“. Antes disso ele já falava da doença anti-vida, em publicações como a “Psicologia de Massas do Fascismo”, de 1933, entre outros, e depois, em 1952, o “Assassinato de Cristo”, mais uma grave denúncia à peste emocional deflagrada pela coletividade de “Ninguéns”. Reich antecipava os passos de Charles Manson, e isso rende outro e bem mais complexo artigo.
Maddox Manson, mais Mad do que manso. Louco, psicopata, “do mal”. Quantos Mansons existem hoje por aí, promovendo mortes de almas inteiras?
Para saber mais sobre Charles Manson
http://fenix1374.blogspot.com.br/2013/03/charles-milles-maddox-manson-nascido-em_20.html
http://justificando.cartacapital.com.br/2014/11/26/charles-manson-louco-ou-genio-crime/
Não há quem detenha a voz humana
“Tinham as mãos amarradas, ou algemadas, e ainda assim os dedos dançavam, voavam, desenhavam palavras. Os presos estavam encapuzados; mas inclinando-se conseguiam ver alguma coisa, alguma coisinha, por baixo. E embora fosse proibido falar, eles conversavam com as mãos.
Pinio Ungerfeld me ensinou o alfabeto dos dedos, que aprendeu na prisão sem professor:
— Alguns tinham caligrafia ruim — me disse —. Outros tinham letra de artista.
A ditadura uruguaia queria que cada um fosse apenas um, que cada um fosse ninguém: nas cadeias e quarteis, e no pais inteiro, a comunicação era delito.
Alguns presos passaram mais de dez anos enterrados em calabouços solitários do tamanho de um ataúde, sem escutar outras vozes além do ruído das grades ou dos passos das botas pelos corredores. Fernandez Huidobro e Mauricio Rosencof, condenados a essa solidão, salvaram-se porque conseguiram conversar, com batidinhas na parede. Assim contavam sonhos e lembranças, amores e desamores; discutiam, se abraçavam, brigavam; compartilhavam certezas e belezas e também dúvidas e culpas e perguntas que não tem resposta.
Quando é verdadeira, quando nasce da necessidade de dizer, a voz humana não encontra quem a detenha. Se lhe negam a boca, ela fala pelas mãos, ou pelos olhos, ou pelos poros, ou por onde for. Porque todos, todos, temos algo a dizer aos outros, alguma coisa, alguma palavra que merece ser celebrada ou perdoada.
GALEANO, Eduardo. O livro dos abraços. L&PM
Cartões da Saúde – Arte Mariana Massarani: Amor de pai
Esse é o terceiro de uma série de cartões postais que estou publicando aqui no Blog. Linda arte, ótima mensagem, maravilhosa proposta da Binky para o Elos da Saúde, com ilustração da Mariana Massarani.
O fim da naturopatia
Quando mestres livros e memórias se vão… E é preciso encarar tudo isso
Por Arnaldo V. Carvalho*
Passou por esta vida meu querido mestre Douglas Carrara. Encerrando-se a passagem do sol pelo signo de Leão em fins de agosto, despediu-se após 74 anos dedicados à Vida, em seu sentido mais verdadeiro, intenso, puro.
Mais do que qualquer outro professor que tenha tido, a naturopatia era Douglas: o antropólogo, botânico, fitoterapeuta, tinha na visão científica sua forma de ir ao encontro e defender a natureza e os povos que nela vivem mais integrados do que nós. Sertanejos, indígenas, seus fazeres e saberes, e o meio que os cercava foram a principal bandeira deste homem que se mostrou incansável por tantas e tantas décadas.
Douglas também foi responsável pelo Naturo-data, o banco de dados sobre plantas medicinais mais completo que já vi. Escrito inteiramente em uma “língua morta” de computador, Douglas preparava-se para finalmente ver seu projeto, executado de forma rigorosa, ganhar asas sendo convertido para Java(1) através de uma parceria. Torço que sua esposa Jania e seus filhos levem o projeto adiante, pois é um bem da humanidade, e creio, seria de profundo desejo dele.
Primeiras memórias
Lembro-me de meu primeiro contato com o Professor Douglas. O Centro de Estudos de Naturopatia Aplicada (CENA) aguardava por um palestrante, que falaria aos novos alunos, numa espécie de cerimônia para marcar o início da formação. Eu era um dos alunos que aguardava e, no atraso, um dos presentes começou a conversar conosco, demonstrando grande conhecimento acerca dos saberes naturopáticos. Lá estava aquele senhor magro, barbado, óculos e fala pausada, a costurar tramas de pensamentos cuja profundidade se fazia alcançar pela eloquência. Quando a coordenadora do curso desistiu de aguardar o palestrante, pediu ao Douglas que falasse a nós. Ele já falava, e nós já estávamos todos encantados. Lembro de olhar para os olhos de algumas colegas, e todos – como o meu – brilhavam.
A fitoterapia era a área mais forte na formação do CENA. Dedicada a ela, uma constelação de professores atuou diretamente conosco por um ano e meio somente nos desdobramentos deste assunto: o biólogo e raizeiro Ary Moraes, o fitoterapeuta Fernando Fratane, o médico suíço Dario Laüppi e o Professor Douglas. Quando as disciplinas de botânica e fitoterapia começaram, foi Douglas quem nos introduziu a esse conhecimento. Estudamos a taxonomia vegetal com alguém que falava dela como se referisse a parentes bem conhecidos. O conhecimento fluía naturalmente dele para nós, e de suas lições, nunca esqueci.
A consciência das políticas nacionais e internacionais de proteção à fauna, à flora e aos povos da floresta, a biopirataria, o indigenismo, os bancos de sementes e DNA vegetal, bem como os últimos estudos nestas e outras áreas, eram assuntos que permeavam os conteúdos de aula. Assim, descobríamos como identificar labiadas ou asteráceas, que vegetais produziam alcalóides, mucilagens, terpenóides, etc., onde cada espécie crescia, como se aclimatava, que usos tradicionais se observava em diferentes grupos sociais no Brasil e mundo, mas aprendíamos também sobre um todo na interação humanidade-natureza. Após a formatura de minha turma, o CENA fechou. Em uma cascata que levou embora uma série de cursos similares, na mesma época.
A velha naturopatia, alternativa mais a margem das profissões de saúde que qualquer outra, por se aproximar “perigosamente” das falas e saberes de raizeiros, rezadores, parteiras e indígenas, daria lugar à renovada Naturologia, que fugia de competir com a alopatia e se firmava pelas evidências científicas produzidas no loco acadêmico.
Praxis naturopática
Mas minha atividade continuou, e meus contatos e aprendizados com Professor Douglas persistiram… até hoje. Douglas me narrou muitos casos de tratamento, verdadeiros mistérios por ele desvendados após exaustivas pesquisas. E me enveredou por esse espírito detetive, que habitua meu caminho profissional e me torna bastante dedicado em compreender um caso clínico com profundidade bem além dos protocolos. Esse espírito investigativo nos aproximava muito e rendeu muitos encontros entusiasmados, onde um inspirava o outro em novas elaborações e conjecturas no resolver de casos de saúde.
No tempo do Portal Verde(2) convidei-o mais de uma vez para dar palestras, cursos, participar de debates. Juntos, estivemos em congressos, e seguimos trocando ideias confabulando oportunidades de levar a público o conhecimento sobre a relação entre o ser humano e as coisas da natureza. E assim ele seguiu sendo meu mestre informal, de quem aprendi e por quem gostaria de ter feito muito mais do que fiz.
A partida do meu professor decreta meu próprio fim na atividade profissional que abracei por bastante tempo: a naturopatia. É um momento difícil, mas são horas.
O fim da minha naturopatia
Até aqui, guardei meu trabalho de curso sobre a Salvia officinalis, corrigido por ele. Chegou a hora de me despedir. Assim como este simplório trabalhinho, o restante de minha biblioteca sobre plantas medicinais, alimentação natural, geoterapia e outros temas relevantes da naturopatia, que levei vinte anos compondo com autores selecionados e algumas preciosidades, vão embora para outros ares, outras mentes – e que possam ser tão úteis, lidos e luminosos como foram para mim.
Com os livros, vai-se embora mais um naturopata, atrás de seu mestre. Um lado inteiro de mim.
Talvez possa dizer que me despedi mais aos poucos do que ele. Já não sou um verdadeiro naturopata. Meu contato com a natureza tem se tornado cada vez mais circunscrito. Tenho feito pouco pela causa natural, já não divulgo minha expertise profissional e apenas aqueles que me conhecem há mais tempo ainda me procuram para orientação profissional nesses termos. A medida que reduzi minha experiência ao contexto da somatopsíquica(3), foram ficando para trás meus anos de estudos sobre ervas medicinais, alimentação, e técnicas diversas oriundas da natureza, aprendidas sobretudo na fusão Carrariana da etnomedicina com a ciência.
Agora, me restará buscar fundo a naturopatia e Prof. Douglas em recônditos de mim, para não permitir a insipidez da mente humana dissociada do corpo natural, do indivíduo e de Gaia.
***
* Arnaldo V. Carvalho: pai, terapeuta, gente. Ex-naturopata.
Notas
(1) Java é uma linguagem de computador, amplamente utilizada na atualidade, e que pode permitir ao Projeto Naturo-data alcançar finalmente a Internet.
(2) Portal Verde é um projeto de fomento à saúde e a qualidade de vida iniciado em 1999 por mim e dois parceiros (Luiz Otávio Miranda e Altamiro V. Carvalho). Entre 2000 e 2008 funcionou como centro de terapias em Niterói. Desde seu fechamento, permaneceu na Internet como um site divulgador de notícias relacionadas à uma vida naturalmente mais saudável.
(3) Somatopsíquica é como podemos chamar a compreensão de como os processos corporais (soma) interferem na mente (psiquê). É o inverso da Psicossomática. Atualmente basicamente meu trabalho consiste em observar como a mente transfere informações para o corpo e como este lhe retorna. O trabalho terapêutico passa essencialmente pela compreensão desse endo-relacionamento, e de como isso se comunica com o meio externo, em especial nos interrelacionamentos.
Mais sobre Douglas Carrara:
http://www.bchicomendes.com/cesamep/poscurri.htm
http://www.recantodasletras.com.br/autores/douglascarrara
http://www.constelar.com.br/constelar/121_julho08/mapatestedouglas_mapa2.php
Cartões da Saúde (2) – Arte Mariana Massarini: Diversidade religiosa
Esse é o segundo de uma série de cartões postais que estou publicando aqui no Blog. Linda arte, ótima mensagem, maravilhosa proposta da Binky para o Elos da Saúde, com ilustração da Mariana Massarani.
Trabalho de conclusão de curso disserta sobre o método de ensino no Shiatsu e suas possibilidades para a Pedagogia Escolar
A redação do ENEM e os comentários de Boechat (minha carta aberta a ele)
Hoje de manhã, pela rádio Band News FM, o jornalista Ricardo Boechat, cujos comentários costumam acertar muito mais do que errar, falou sobre o tema da redação do ENEM. O tom era de dura crítica, mas os argumentos, menores do que o tamanho deste competente profissional.
Basicamente, ele diz que “mesmo tendo sido bom em redação, mesmo assim enquanto estudante teria ido mal na prova”, comparando a importância do tema com “estudo de borboletas da Turquia” (já não recordo o país exato mas o sentido era esse). Infelizmente, suas palavras rebaixam o sentido da inclusão na escola, desvaloriza a comunidade surda no Brasil, nossa segunda língua oficial (LIBRAS) e única verdadeiramente brasileira. E de outro lado, não alcança o sentido político (logo ele) de se optar por um “assunto branco”.
Por isso mesmo tomei o cuidado de ir ao site de seu programa tecer algumas análises, muito breves para não tomar seu tempo, para que ele reconsidere. Como aparentemente fui ignorado (natural, são mais de mil e quintos comentários ao longo do programa, fica mesmo difícil), ao menos trago o assunto a público, pois pode ser útil a outros.
“Querido Ricardo Boechat, sou um ouvinte atento, e ao longo dos anos você tem aberto meus olhos muitas vezes. Humildemente, digo que talvez eu possa contribuir pela primeira vez c/om os seus.
Há sim motivos sérios para criticar o tema do ENEM, mas não os que você apresentou. A falta de contato com a realidade urgente do país para mim é o grande drama. O INEP optou por um “tema branco”, demonstrando claramente uma posição de proteção em relação ao panorama político. Essa proteção pode ser visto como uma esquiva às complicadas relações do governo com as ações institucionais, que tem sofrido represálias que nos fazem lembrar tempos de Censura.
Por outro lado, tanto eu como você pertencemos a gerações que jamais vivenciaram em sala de aula o tema da inclusão. Estavamos em nossas carteiras sem qualquer colega cego, surdo, ou outro. Eles estavam ou em casa, as vezes sendo tratados como retardados, ou os sortudos estavam nos poucos institutos a eles dedicados.
Já os jovens de agora não, eles estão o tempo todo em contato com todo tipo de aluno de inclusão e a comunidade surda é enorme. Então, para eles esse tipo de discussão é relevante, consonante com um mundo onde as deficiências vêm sendo superadas com informação e não apartamento.
Você sabia que LIBRAS, a língua de sinais, é oficialmente segunda língua brasileira? Sabia que a comunidade no Brasil de hoje temos quase 10 milhões de pessoas com diferentes graus de deficiência auditiva? Imagine o tamanho dessa silenciosa comunidade, aumentada se levamos em conta todos os familiares envolvidos.
Há relevância, sim! Mas concordo que parece asséptico, aparentemente dissociado do momento político e social do país.
Um abraço Boechat e equipe”.
Arnaldo V. Carvalho