Direita ou Esquerda, sólido ou líquido

Na era Líquida, esquerda e direita exibem um desfile de antolhos sólidos

Por Arnaldo V. Carvalho

Depois que uma pessoa passa por uma educação com tanta imposição de filtros, sempre a pender para um certo lado, ela pode ler o que quiser… Vai seguir modulando tudo por esses filtros.

Há uma séria dose de leitura reflexiva, neutra, honesta, incapaz de ser feita nos meios atuais. Mesmo a ciência como queria Carl Sagan – capaz de perseguir a verdade para além dos ideais de uma cultura – anda contaminada por esse indômito uso de antolhos, colocados cada vez mais cedo, em bases cada vez mais graves.

Daí que o pêndulo direita e esquerda do campo político costuma esmagar relações e provocar ainda mais cegueira. Aos ponderados a procurar uma visão sem antolhos, a permanente crítica dos radicais: Há os que julgam que estes estão à esquerda, outros os pensam à direita, e existe os que acusam a ponderação de ser “em cima do muro”. É o que ilustra o vídeo do Leandro Karnal (vide abaixo).

No fim das contas, creio que vivemos numa terra de muito discurso e pouca leitura. Ou pior, acesso tardio a leitura.

O que estou dizendo pode ir para muitos lados. O fato é que a Modernidade Líquida de Bauman pode estar esbarrando num sério problema estrutural: o arcabouço que faz a sociedade e as relações humanas convergirem para a liquidez está “montada” por cima de um núcleo extremamente sólido… E neurótico.

Aos lúcidos, cabe a realista desesperança. Aos “extra-lúcidos” (ou que tal “translúcidos”), o movimento pela possibilidade dos seres humanos serem criados de outra forma.

De que forma? Isso dá uma tese. Mas vou gostar de saber das ideias dos leitores deste blog.

(Arnaldo)

 

* Arnaldo V. Carvalho, pai, terapeuta, pedagogo.