O Museu Nacional se foi. Estive lá há pouquíssimo tempo. Pela última vez. Visitei o museu mais vezes que visitei qualquer outro espaço público fechado. O que havia lá, não havia em nenhum outro museu do mundo. Muitas peças únicas, muita coisa oferecida aos brasileiros sem que eles precisassem viajar para a Europa para encontrar peças do mesmo quilate. A história por parte de boa parte das peças, aliás, está ligada ao amor ao conhecimento por parte da família imperial, por um lado, e por outro, como as grandes conquistas da ciência brasileira, em todos os campos ligados à história da Vida da Terra e da Humanidade.
Com o incêndio, fica claro que o Estado Brasileiro não está muito longe de realidades como a do conflito que arrasou o Iraque e destruiu uma parte significativa das obras do museu de Bagdá, ou as declaradas destruições de monumentos históricos por talibãs no Afeganistão: os números de mortos que apresentei há uns anos em meu blog e que superam os de locais assolados por guerras, agora se somarão à dura realidade da destruição de nossa memória, nossa cultura, nossa identidade.
Quando já nos aproximamos de meio século de vida, temos mais noção do que nunca do que representa um século, dois, três… Pudemos observar tantas transformações, tantos lugares desaparecerem ou se transformarem… Infelizmente, posso dizer que, de tudo o que observei mudar no país, vi muito pouco que de fato tornasse o que temos de melhor bem cuidado, e menos ainda tornando o que temos de pior um pouco melhor.
Meu repúdio a todas as autoridades, a todos os ricos pobres de espírito, a todos os que tem poder e nada fazem, a todos os que não se importam. Meu repúdio ao egoísmo e a ignorância. Estou, mais uma vez em tão pouco tempo de luto. Na “Guerra Brasil”, morrem pessoas, lugares… Agoniza, a cada dia, a esperança.
Arnaldo V. Carvalho
PS: Estarei nos próximos dias reproduzindo aqui diversos artigos, comentários e observações que retratam fragmentos do que foi esse descaso, esse absurdo, esse descalabro.