Não são de Paulo Freire

Frase e poema a ele atribuídos não são deles.

Não é dele.

A bela citação “a educação não muda o mundo, a educação muda as pessoas, as pessoas mudam o mundo” NÃO É de Paulo Freire. É de Carlos Rodrigues Brandão. Segundo o Instituto Paulo Freire (IPF), a referência correta é: BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Minha Casa o Mundo. Aparecida-SP: Ideias & Letras. 2008, p. 164.

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Carlos R. Brandão

Na real, a frase de Brandão, na íntegra, é:

Paulo sabia bem que por conta própria a educação não muda o mundo. A educação
muda as pessoas. As pessoas mudam o mundo
.

Pelo menos foi assim que a encontrei em outro livro de Brandão (esse eu tenho), “Paulo Freire, educar para transformar: fotobiografia”, publicado pela Mercado Cultural em 2005.

A confusão, no entanto, não é a toa. Carlos R. Brandão (1940-), livre docente da UNICAMP, é um importante educador Freireano. Eu o li algumas vezes. Na primeira, anos atrás, no livrinho de bolso da Coleção Primeiros Passos “O que é Método Paulo Freire”. Para a educação, Brandão escreveu ainda nesta coleção “O que é educação”, “o que é educação popular”, e ainda “O que é Folclore”. Mas ele escreveu dezenas de livros, sobre a educação amorosa, pacífica e crítica. E sobre Paulo Freire – com certeza! Desde o retorno ao exílio Brandão foi amigo de Paulo Freire e com ele fez muitas viagens.

Ele dá um recado interessante nesse vídeo:

“A Escola”

O poema “A Escola” também não é dele. Segue a resposta original do IPF:

  • De acordo com os filhos de Paulo Freire, esse poema não foi escrito por ele e sim por uma educadora que estava assistindo a uma palestra dele. Com base no que ouvia, ela foi escrevendo o poema utilizando frases e ideias de Freire. No final da palestra aproximou-se dele e lhe entregou o papel, sem se identificar. Freire nunca publicou esse poema em nenhum de seus livros, embora suas ideias sobre a escola tenham sido captadas pela autora e traduzidas no poema. 

Seguem aí meus amigos, mais uma libertação da verdade, pelo fim dos apócrifos. Não precisamos de falsas autorias, por propósito algum. Precisamos, por outro lado, conhecer a verdadeira assinatura por trás das escritas ou as fontes confiáveis, a fim de que o estranhamento seja o primeiro passo para a a verdade.

Arnaldo V. Carvalho, pai, escritor, educador, terapeuta e caçador de apócrifos nas horas que não tem.

Caçador de apócrifos de citações lúdicas (1)

Não, Platão não falou sobre jogar para conhecer alguém

Por Arnaldo V. Carvalho*


Pois é. Quem estuda ludicidade e jogos de tabuleiro está sempre a citar grandes pensadores da humanidade… Mas sem checar. Já tem tempo que implico com isso, como sabem…

Então vamos à algumas das mais famosas que, em exame, percebe-se serem falsas ou terem sido “forçadas”:

"Você pode descobrir mais sobre uma pessoa em uma hora de jogo do que em um ano de conversa". (atribuída a Platão)

De acordo com o site americano de verificação de citações “Quote Investigator“, a autoria é falsa. Eles explicam que a menção a essa frase, embora pitoresca, nem positiva é: em 1670 o manual de conduta “A Letter of Advice to a Young Gentleman Leaveing the University Concerning His Behaviour and Conversation in the World” [Uma carta de conselho a um jovem cavalheiro que deixa a universidade sobre seu comportamento e conversação no mundo], escrito pelo reverendo Richard Lingard, refere-se (negativamente) aos jogos de azar.

Cópia do livro republicado em 1907, explica que esse foi o primeiro livro publicado em Nova Iorque! Um manual de conduta dedicada a Lord Lanesborough, recomendando entre outras coisas a moderação nos jogos**.

Traduzo aqui o trecho onde se encontra a frase original, que aos poucos foi se modificando, passou por citação sem autoria, e em algum momento atribuiu-se a Platão:

Fique atento ao jogar dados ou jogos de azar com frequência ou de forma intensa, pois isso é mais cobrado do que os sete pecados mortais; você até pode se permitir uma certa quantia que seja tranquila para gastar no jogo, agradar os amigos e passar as noites de inverno, e isso o tornará indiferente ao evento. Se você observar a disposição de um homem ao vê-lo jogar (apostar), então aprenderá mais sobre ele em uma hora do que em sete anos de conversa, e pequenas apostas irão o levarão rapidamente às grandes quantias, quando então ele estará fora da proteção do Senhor.

Tradução livre do excerto citado no Quote Investigator, por minha autoria (Arnaldo)

Para dar crédito à dúvida, ainda busquei pelos textos de Platão disponíveis em língua portuguesa, e nada encontrei. O estudo do Quote Investigator, portanto, me parece completo, é fantástico e merece a leitura. Mas o básico aí está.

***


* Arnaldo V. Carvalho, pedagogo e terapeuta, estuda jogos de tabuleiro e suas aplicações educacionais. Seu mestrado em educação pesquisa o chamado “professor do tabuleiro”, ou seja, educadores que hoje se encontram envolvidos com abordagens pedagógicas lúdicas, com ou baseadas em jogos não eletrônicos.

** Em inglês, há uma diferença importante entre jogo (game) e jogar (play), sendo jogo [game] tanto substantivo como verbo; quando verbo, ainda mais no contexto em que o texto foi escrito, o jogo é especialmente associado ao jogo de apostas ou de azar.

Refutando a Filó

REFUTANDO A FILÓ

(Arnaldo V. Carvalho)

Corre nos meios eletrônicos um texto de frases curtas atribuídas à “Dra. Filó”. De fácil sedução, possui diversos pequenos componentes ideológicos, que comprometem os pensamentos gerais com alguma importância. Me chamou atenção que tenha sido repassado a mim por pessoas esclarecidas. Eles não perceberam as entrelinhas. Viram o geral, se identificaram com questões que são mesmo fundamentais na criação de filhos (limites, comunicação, verdade, superficialidades, necessidades, etc.), presentes no texto, mas não chegaram a uma análise mais profunda do que ali está. É complicado mesmo. Afinal, o texto foi escrito para elas: uma classe média que tem capacidade de oferecer objetos caros aos filhos, como celulares e televisão no quarto, que recebe influências conservadoras das instituições que lhes perpassam, e que hoje trabalha muito, tem seus filhos e encontra imensa dificuldade de dedicação a eles, por uma série de razões que se combinam e geram muita angústia.

Com a corrida do dia a dia, a enxurrada de informações criam vulnerabilidades a esse tipo de armadilha textual… É compreensível. Lê-se as palavras chaves, aprova-se o que se avaliou superficialmente como compatível com os próprios pensamentos, e repassa-se sem muito mais.

Aí vem o chato aqui, leitor lento por natureza, crítico semi-permanente, e habituado a caçar apócrifos, mensagens subliminares e tendenciosismos, para frear minimamente a viralização do conteúdo sem um filtro mínimo. Alguns amigos acham inútil (“já circulou, já era”). Eu sigo matando a baratinha e acreditando que, mesmo tendo pisado em uma só, posso ter evitado muitas que viriam daquela.

Abaixo, vai o texto em questão, e em seguida, a minha análise, frase a frase:

Extratos da palestra da Dra. Filó, pediatra, em BH.
13/3/2019

"Rio só existe porque tem margem.
A criança só será um adulto completo se tiver limites".

Criança tem que ser monitorada.

Mãe tem que ser chata.

Filho só pode ver aquilo que é próprio para a idade dele.

Filho não pode ver aquilo que está além da sua capacidade de compreensão.

Tome a frente das regras da sua casa.

Criança não dorme com celular no quarto. Recolha. Vigie.

Criança tem que dormir com tranquilidade.

Quarto não tem que ter televisão. Quarto é para dormir.

Não compare a casa do outro com a sua.

Na sua casa você tem que cuidar da integridade mental dos seus filhos.

Criança não fica trancada no quarto jogando.

Filho tem que 'socializar', tem que ver, estar com pessoas. Corpo a corpo. Olho no olho.

Criança que é rejeitada por outros tem uma tendência a buscar redes sociais. Cuidado. Isso pode causar dependência.

Precisamos ter a coragem de olhar para a vida dos nossos filhos.
As coisas acontecem debaixo dos nossos olhos. 
Criança é esperta, mas temos que ser mais ainda. Pai e mãe têm que estar perto.

Criança não tem que ter senha.

Essa tal de privacidade é só quando eles saem de casa, só quando pagam as próprias contas.

O celular do filho não pode ser igual ao do pai. 
Tem que haver hierarquia.

Cada mãe conhece o filho que tem. Mãe, no fundo, sabe o que está acontecendo com o filho. Não ignore suas sensações como mãe. 
Elas são verdadeiras. 
A mãe não erra o diagnóstico. Confie nos seus sentimentos de mãe.

A missão como pais é muito maior do que podemos imaginar. 
E não é uma missão fácil.

Mais do que dar coisas, se dêem a seus filhos.

Questione seus filhos. Pergunte! Vigie! Investigue!

Existem muitos e muitos distúrbios psiquiátricos na infância.

O segredo da prevenção é família e amor.

Criança tem que ser amada.

Filho vai tentar se impor. Mas regras devem existir. 
Tem que haver respeito. 
Tem que haver hierarquia.

Filho tem que desejar! 
Tem que querer ganhar alguma coisa! 
Tem que esperar ansiosamente pelo presente.

As coisas não são descartáveis.

Coloque na vida do seu filho que somos criadores, que vamos criá-los e que temos sonhos para eles.

Que a vida tem que ter sentido, além do dinheiro, do poder e de todas as possibilidades.

Que a vida os desafiará, mas a vida não encerra. 
Cuidado!

O que os filhos trazem para o mundo é o que plantamos neles.

Estimule-os a serem verdadeiros. A verdade abre caminhos.

Converse. Incansavelmente.

Temos que nutrir a confiança.

Olhe para os seus filhos e entenda o que eles precisam."

Mande para todos seus contatos... Formação das crianças brasileiras.

Aqui vai a radiografia comentada do texto em questão, linha por linha, e depois no encadeamento ideológico geral. Que seja útil, e que possamos refletir sobre o texto com tempo. (Arnaldo).

_”Rio só existe porque tem margem. A criança só será um adulto completo se tiver limites”._

Eu acho que todo mundo concorda com isso, limites são vitais na estruturação humana. Mas diferentes origens dos limites na criação/educação causam diferentes consequências, de modo que, se esta fonte de limitação e seus modos de agir não estiverem bem delimitados, é possível criarmos uma noção superficial que incorra a erros, do radicalismo, à modos de educar neurotizantes. A metáforas que alude à natureza para simbolizar a natureza humana, nesse sentido, não funciona a contento. Quem dá limite ao Rio é a natureza, quando falamos dos limites humanos, onde está a natureza cumprindo seu papel? Vivemos em uma sociedade apartada da natureza e isso força artificialmente que os limites sejam oferecidos. Então temos humanos dando limites a humanos. E a forma com que esses limites são criados não são quase nunca na forma de oferta, mas com base em imposição em contextos bastante neuróticos/neurotizantes. Quanto a isso preciso explicar uma coisa para vocês, chamada “elemento frustrador”. Faz MUITA diferença QUEM frustra uma criança. E frustração é outro nome para o que dá contorno e limite, no começo. Para de frustrar depois que a margem está definida, porque a energia (pensamentos, sentimentos, ações) encontra outro caminho para fluir. O elemento frustrador não deve ser apenas uma pessoa o tempo todo. Não deve ser o tempo todo uma voz humana. A frustração tem de vir também daquilo que não tem cara nem boca nem braços. Tem de vir do cair no chão porque tentou andar no meio fio, do susto que tomou ao querer desafiar o mar, da coisa errada que resolveu botar na boca e doeu. O limite também tem que vir das experiências de viver e se frustrar, e receber em seguida orientação, cuidados, etc. As crianças não podem mais viver isso, e talvez para muitas o que salve é a bronquinha que tomam de um eventual irmãozinho canino. Da importância dos limites e do equilíbrio entre o sim e o não ninguém tem dúvida. Mas é preciso compreender como estão sendo vividas tais experiências nos dias de hoje.

Outra coisa: um texto que chame a atenção das pessoas responsáveis quanto à questão dos limites deve oferecer soluções concretas e viáveis aos seus leitores. Primeiro porque muitos foram crianças já criados com muitas ausências de contato com os pais, o que implica também nessa falta de limites. Então por vezes eles nem sabem por onde começar. Segundo porque é preciso resolver a necessidade (mental, material, etc.) dos desses responsáveis, caso precisem trabalhar o dia inteiro o tempo todo. Senão, o discurso passa a ser só um ingrediente a mais para a culpa que tantas mães e pais hoje carregam. O que só prejudica ainda mais essas relações de criação. “Dê seu jeito” é jogar na piscina para ver se nadam… Alguns pais até conseguirão, outros ficarão ainda mais frustrados, e podem ter certeza, transmitirão isso aos filhos, que não vão mesmo querer saber de ter os seus (uma escolha que não teria problema, caso não fosse por esse motivo).

_Criança tem que ser monitorada._

Me pergunto como um cidadão do século XIX se sentiria ao ler os dizeres “sorria, você está sendo filmado”, ou caso a ele fosse apresentado um concurso onde as pessoas que não se conhecem morariam por um tempo numa casa no centro da cidade toda feita de paredes de vidro, de modo que todos pudessem vê-los. Me pergunto como se sentiria uma mãe indígena a ver o parto de uma irmã sendo exibido na tela de um cinema no hospital, com direito a zoom e close na perereca? E como a parturiente se sentiria ao saber dessa exposição? São tempos e realidades onde imagino questionarem: que tipo de gente seria essa que se permite a esse nível de monitoramento?

Criança tem que ser monitorada sim, mas não o tempo todo. Não é honesto com ela nem com os pais. É paranoico. Criança tem que ter certeza de que as vezes fica sozinha e pode ficar sozinha. Pode dormir sozinha. Pode mexer nas genitais. Pode fazer uma arte também que as vezes provocará irritações sim. E as vezes o contrário. Pode também, nesses momentos, aprender até a concertar o que fez. E pode criar surpresas verdadeiras para os pais, que só se surpreenderão se permitirem. Ter momentos de privacidade na infância é o cultivar de um sentido que mais tarde se revela em identidade própria, em relação de confiança mútua para com quem delas cuida.

Legitimar esse pensamento sem critérios de bom senso é se aproximar de uma ideologia autoritária e nociva.

_Mãe tem que ser chata_.

Mãe não tem que ser chata. Primeiro porque é sacanagem com a mãe, atribuir a tal chatice só à mãe e eximir o pai de sua co-participação na educação (eu entendi Dra. Filó, você quer dizer: não pode ter medo de dizer não e de dar limite – mas mandou mal, sabe). A frase também evidencia a desconsideração que a família mononuclear do ponto de vista da criação de filhos, não é um modelo sábio. Crianças precisam de crianças e o revezamento de mais adultos facilita muita coisa o processo. Então a frase também reforça e legitima a regra de uma criação solitária ou semi-solitária. Eu torço que a gente consiga avançar social e relacionalmente para um outro patamar, em que haja maior alinhamento parental, e se possam viver regimes de criação mais coletivos, com creches parentais parceiríssimas das escolas. Melhor: tudo uma coisa só, e com regime de vizinhança física presente. Algumas ecovilas estão vivendo isso, e a gente precisa aqui na cidade grande saber que dá certo, e sim podemos tentar isso aqui. E terceiro, uma coisa é o ato chato, outra é a pessoa chata. Pode ser chato frustrar e ser frustrado. Mas isso não resume ou conclui o que é ser mãe. Ser mãe, ser pai, ser responsável por criança(s) pode ser MUITO LEGAL PARA TODOS OS LADOS! A frase desencoraja a qualquer jovem não mãe a ser mãe. Ninguém quer ser chato, ou visto como chato, embora seja possível peitar certas coisas chatas de fazer de vez em quando.

_Filho só pode ver aquilo que é próprio para a idade dele._

Qual é a idade de ver o que? O corpo do vovô no caixão? A mamãe chorando porque brigou com o papai? O mendigo nu a apontar o falo para as pessoas na rua (e ao expor seu calamitoso estado denunciar o escândalo que é a própria sociedade)? O batalhão do BOPE com seus fuzis para fora da janela do carro indo para uma operação na favela ao lado de casa? O prefeito, o governador ou o presidente falando? Os tios discutindo os rumos que a vida coletiva está tomando?

Ah, você deve estar falando de TV e Internet né… Entendi. Então devemos confiar no que os censores do governo determinam? A criança pode ver Tom&Jerry ou Pica-pau “masocas”, ou a propaganda da Barbie “você pode ser tudo o que quiser?”. Dificilmente a criança não pode ver aquilo que já não seria impróprio para todos os adultos. Ninguém deveria assistir diariamente assassinatos cruéis e crimes sem fim, relações conflituosíssimas de todos os tipos.

Nós temos que discutir melhor o que é ou não para ser visto, baseado numa percepção real de impactos subjetivos e objetivos em curto e longo prazo. Até porque talvez isso varie muito de uma criança para outra. Assim, decisões sobre o que assistir ou não precisam atender mais as individualidades e serem menos ideológicas, e mais apoiadas em ciência. 

Temos que discutir essas visibilidades do mundo e também as invisibilidades. 


_Filho não pode ver aquilo que está além da sua capacidade de compreensão._

Então filho não pode ver uma obra de arte porque não a entende? Ou com frases dúbias se deseja dizer criança não pode ver sexo? Ou não pode ver política porque não tem condição de opinar? Será que você está tentando cooptar as pessoas para que elas apoiem o “escola sem partido” deixem de ouvir os professores para terem a mente menos pronta para resistir à doutrinação autoritária disfarçada de liberal?

Você não é inocente Não pode estar dizendo com essa frase que não criança não pode ver cubo mágico sendo feito, não pode ver uma mesa de resolução de problemas, não pode ser levado ao observatório para ver as estrelas… Por que não compreende? Não, você não está falando disso.

Aliás, como se compreende aquilo que não se compreende sem que se veja? O que você acha que a criança faz com o que não compreende? Fica um registro. E não é registro morto não: é registro em processo. Está lá na pessoa e subsidiará entendimentos mais complexos posteriormente. Os registros não compreendidos são Koans mentais, quebra-cabeças incompletos aguardando as demais peças. É assim que se encontram respostas, se tomam atitudes e se formulam novas perguntas. A senhora não deve ter estudado sobre registros e sobre memórias né Doutora?

Talvez esteja preocupada com registros negativos, traumas e complexos… Deixa eu dizer como um trauma se estabelece: não tem só a ver com o que aconteceu, não. Tem a ver com o quanto a psique é capaz de expressar e elaborar. Sabe qual é o jeito mais seguro e infelizmente o mais raro para isso acontecer? Com uma qualidade de vínculo com alguém tal que a pessoa sinta no seu mais íntimo que pode diante dela expressar o que houve, comunicar o que houve, elaborar o que houve. Era para todo mundo ter essa pessoa até ficar um pouco mais velha e a pessoa poder partir. Mas é raro porque os pais assimilaram o projeto de terem uma vida própria – o que é mesmo fundamental – e como não tem opção tiram do tempo com filhos o tempo para fazerem isso. O resultado é escassez e incompetência relacional. Sou melhor não. Faço isso também. Mas compreendo que a gente tem que desconstruir que isso que a sociedade oferece é normal, é natural ou é saudável. Não é nada disso. O começo é estudar, ouvir os estudos, colocar em discussão, exigir que haja tempo para haver essa pauta nas falas e mesmo nas leis.

_Tome a frente das regras da sua casa._

No documentário sobre o Edifício Master, o então síndico afirma que na resolução de conflitos, tenta Piaget, e quando não dá certo ele vai de Pinochet. Aquilo que é brincadeira é muito sério porque fala da desistência da democracia (“o ideal”) para a adoção autoritária como saída. De novo, eu também ajo assim muitas vezes. Especialmente quando represento “a ordem”. Especialmente, a ordem do relógio: “olha o atraso”, “já está tempo demais”, etc. Mas quer saber? Somos melhores que isso. Merecemos ter mais tempo para não precisarmos de tantas regras. E mais do que isso, precisamos de mais tempo para oferecermos mais escuta e participação dos pequenos. Se cobramos tanto dos governos, se desejamos democracia, precisamos começar. Então a cobrança aqui é para que possamos ter um reconhecimento justo do que damos para o mundo, para haver tempo disso se estabelecer. Relações mais horizontais, sabe? 100%? Não, não dá. Não dá para esquecer que nós temos décadas e as crianças menos de uma. Faz diferença. Mas não dá para acreditar que elas não tenham direito a voz e a voto. Em Summerhill, a escola inglesa que briga com o mundo por não aceitar se submeter aos ditames do que se considera “a boa escola”, todos os alunos, do pequenote ao adolescente tem semanalmente uma reunião. Todos sem exceção tem um voto cada. Com o mesmo peso do voto de cada um dos professores, e com o mesmo peso do voto dos funcionários todos. Todos tem um voto. O resultado é surpreendente, e não se pode mais dizer que é uma situação “experimental”: afinal de contas, a escola já tem oitenta anos de vida funcionando assim! (empresto livros sobre, para quem quiser).

_Criança não dorme com celular no quarto. Recolha. Vigie._

Você está supondo que criança tem celular. Criança nem deveria ter celular. Aliás, as sociedades de pediatria do mundo todo alertam dos perigos do uso de telas, especialmente na primeira infância. O uso de eletrônicos deve ser visto com muita cautela. Mas, como falei do “que não pode ser visto por eles não deveria ser visto por nós”, guardadas as devidas proporções, também aqui se aplica a lógica: todos nós deveríamos usar as telas eletrônicas por um número limitado de horas/dia. Mas tente nos dias de hoje? Criou-se um mecanismo onde estamos dependentes, por mil motivos. Mais um problema para enfrentarmos e cobrarmos. Queremos segurança nas ruas para não ficarmos ligando e vendo se nossos parentes já chegaram em casa. Queremos que o banco pague por seus computadores e funcionários para que efetuem os serviços que paguei para ter. Queremos ter viabilidade de ir e vir para não ser tão atrativo jogar pelo computador porque o trânsito faz os amigos do bairro vizinho parecerem distantes. Queremos, aliás, ter praças e muitos outros equipamentos de lazer e encontro. A solução que estão nos dando – o mundo virtual – está sendo mais nociva do que se pensa.

_Criança tem que dormir com tranquilidade._

Todos nós né?

_Quarto não tem que ter televisão. Quarto é para dormir._

Ah, entendi. Uma frase curta correta acima para se vincular a essa outra aqui abaixo. Eu sou contra também, sabe Dra.? Mas não tenho dúvidas de que a TV é ligada quando não há algo mais atrativo. E aí a gente volta para a necessidade de espaço, ar livre e segurança para tudo isso… Tendo essas coisas, a TV fica beemmm menos perigosa, sabe? Mas tem razão. Nesse esquema de vida que a gente leva, melhor não ter.

_Não compare a casa do outro com a sua._

Agora já fiquei implicante. Você solta uma frasezinha para comprar seu leitor e depois vem o xarope ideológico por cima. 😦

_Na sua casa você tem que cuidar da integridade mental dos seus filhos._

E fora de casa, não? Esse “você” é a mãe lá de cima né? Meu Deus, de novo o peso só para cima dela [a mãe].

_Criança não fica trancada no quarto jogando._

Some todas as coisas que já escrevi antes e: 1) entenda porque isso acontece; 2) por favor sugira algo viável, concreto, real que solucione o problema com relação a um filho único, de uma família mononuclear, onde ambos trabalham “ao infinito e além”. Senão, de novo, é culpa culpa culpa que não resolve, não esclarece e é justa até a página 2.

_Filho tem que ‘socializar’, tem que ver, estar com pessoas. Corpo a corpo. Olho no olho._

Isso é fácil e natural. Parece que virou um grande esforço. E o pior doutora Filó, depois de um tempo, se os pais conseguirem retomar uma rotina de contato com o mundo, terão que enfrentar um período “de abstinência” algumas vezes. Muitas crianças criaram vínculos de segurança e atenção para com o eletrônico e passam a apresentar dificuldades na relação física direta, preferindo ir para a TV ou Game, sendo capazes inclusive de deixarem seus amigos que lhe foram visitar no quarto ou no quintal e indo buscar o eletrônico.

_Criança que é rejeitada por outros tem uma tendência a buscar redes sociais. Cuidado. Isso pode causar dependência._

A frase precisa é: quem não tem atenção vai buscar. E uma fonte certa de “atenção” (ainda que pseudoatenção) é muito atraente. Simples assim. As redes são ilegais para as crianças, é bom que se diga.

_Precisamos ter a coragem de olhar para a vida dos nossos filhos. As coisas acontecem debaixo dos nossos olhos. Criança é esperta, mas temos que ser mais ainda. Pai e mãe têm que estar perto._

Olhar não, participar, ser mais time! Em toda relação existem três entes: eu, você e nós. Cada um na família precisa buscar e dar espaço para si e para o nós. Sem esse equilíbrio as coisas não funcionam. É preciso ter um espaço do nós mais forte nas famílias. Como os adultos estão com os Eus sufocados (e por vezes deficitários porque não tiveram o devido espaço para se fortalecerem nas fases certas), acabam usando o pouco tempo para suas vidas e não sobra quase nada para o “nós” que envolve os filhos. Como quebrar o círculo vicioso (pais que não são plenos por conta da própria educação que receberam cheia de deficiências de tempo, referências, afeto, estabilidades etc.)? Conseguir isso nesse mundo louco é que é a senha. Sem eela, o texto fica no apoio da vigia neurótica, que não resolve de verdade o verdadeiro buraco, bem mais embaixo.

_Criança não tem que ter senha._

Criança não tem que ter eletrônico. Lembra, estamos falando de criança. Adolescente é outro papo, e uma discussão ainda mais complexa.

_Essa tal de privacidade é só quando eles saem de casa, só quando pagam as próprias contas._

Peraí, estamos falando de criança ou de adolescente? A doutora sabe o papel do respeito à privacidade na formação identitária na adolescência? Acho que não. Não é a falta de privacidade que resolve o problema. É a falta de cumplicidade. Sem ela, você pode vigiar a vontade. O adolescente vai dar o jeito dele de fazer sem você saber. E se você for muito neurótico e vigiar DE VERDADE 24H por dia tudo o que faz, pode ter certeza, criará alguém com MUITOS problemas. Mas não vou discutir isso hoje, porque o texto começa direcionado para crianças e de repente descamba para assuntos que são território da adolescência.

_O celular do filho não pode ser igual ao do pai. Tem que haver hierarquia._

A responsabilidade da criação é da mãe. Aí na hora da posse de eletrônico a doutora Filó se refere ao pai… Dá a sensação de que é um homem quem escreve, ou no mínimo, fica claro que se trata de um texto machista.

É repetitivo eu seu, mas vamos lá: criança não tem que ter celular. Hierarquia baseada em coisas não é sinônimo de aprendizagem de respeito mútuo, menos ainda de carinho mútuo. A família precisa pensar junto o *consumo* das coisas. Um consumo saudável é baseado em *necessidades* individuais e coletivas reais, e não na propaganda ou na “hierarquia das coisas”. Por falar nisso, já assistiu ao pequeno vídeo “A História das Coisas”? Deveria.

_Cada mãe conhece o filho que tem. Mãe, no fundo, sabe o que está acontecendo com o filho. Não ignore suas sensações como mãe. Elas são verdadeiras. A mãe não erra o diagnóstico. Confie nos seus sentimentos de mãe._

Que interessante, saiu do celular, voltou a falar com a mãe. “Suspeitei desde o princípio”. Agora é enaltecer a mãe e seus sentidos tentando seduzi-la.

Me desculpem mães mas…. Sim, mães podem errar no diagnóstico, erram muitas vezes. E isso não é nenhum crime! A criação solitária pressupõe erros até certo ponto. Doutora Filó a senhora não tem o direito de fazer pesar a responsabilidade materna desse jeito, e deprimir as mães que te leem e varrendo a memória lembram que já erraram. Não funciona assim. Mais gente na criação, mais gente para pensar junto, mais suporte e atenção, menor chance de errar. Isso só para começar.

_A missão como pais é muito maior do que podemos imaginar. E não é uma missão fácil._

É, do jeito que a sociedade está é mais complicado ainda. E textos como o seu Filó não ajudam em nada.

_Mais do que dar coisas, se dêem a seus filhos._

Ah, que bom, esquecemos da hierarquia do celular. Convém. Um alerta apenas para se você comprou o discurso da Dra. Filó: pense bem no que é se dar para seus filhos. Pense na importância de haver equilíbrio eu, você e nós, para o nós e o ele (filho) fluírem. Pense no que é se dar. Não adianta voltar para casa para estar lá no computador de costas para o filho. Não adianta dar seu tempo e não ter energia. Não adianta também se conformar com o que estou escrevendo e não buscar o equilíbrio. Equilíbrio é uma busca. Vai erros e acertos na trajetória dessa infância. Com dedicação, sabedoria e a sorte de bons suportes, a tendência é de dar muito mais certo do que errado.

_Questione seus filhos. Pergunte! Vigie! Investigue!_

Por que será que lembrei de “Vigiar e Punir” de Michel Foucault? Acho que o que escrevi acima já explica um monte de coisas. Mas se me pedirem posso falar bastante mais sobre qualidade de vínculo, parceria e a verdade aberta que se estabelece naturalmente quando isso rola.

_Existem muitos e muitos distúrbios psiquiátricos na infância._

Me diga você, leitor@, o que essa frase está fazendo aqui?

Na leitura rápida da Internet, ela simplesmente entra como elemento amedrontador, colocando pressão sobre sua doutrina. É demais isso. Não tem nada a ver com o texto nem antes nem depois da frase. Bizarro!

_O segredo da prevenção é família e amor._

Seara complicadíssima, essa. Toca o terror e chantagia a emoção d@ leitor@, coagindo para que a pessoa se submeta a questão da família e do amor. O que é família? O que é amor? É o amor familiar a la Damares? Isso previne todos os problemas psiquiátricos? A escrita genérica é indutiva mesmo. Para mim perversa até.

_Criança tem que ser amada. Filho vai tentar se impor. Mas regras devem existir. _

_Tem que haver respeito._

_Tem que haver hierarquia._

Filho tenta se impor quando observa e ou vivencia comportamentos de imposição, e ou não se sente parte da estrutura. A “família alfa” é assim: os jovens desafiam os mais velhos até que ganham… Ou vão embora (quando não são destruídos pelo alfa que lhes deu vida!).

_Filho tem que desejar!_

_Tem que querer ganhar alguma coisa!_

_Tem que esperar ansiosamente pelo presente._

É. Assim pode doer bastante quando você tira, e isso estabelece a relação de poder pelas coisas entre genitor@s e filhos. Que grave isso. Aí está a raiz da meritocracia, essa coisa linda que cria a ideologia do empreendedorismo como fosse saudável se colocar pessoas tão diferentes em permanentes disputas tão desiguais. Os meritocratas estão no poder hoje, se tocaram? Junte essa frase com a da família e temos a essência do governo Bolsonaro. Podes crer. “Que beleza”

_As coisas não são descartáveis._

Dra Filó, misturando chaves de novo? O filho tem que valorizar o que ganha e o que tem. Certo. Tem que cuidar. Certo. É verdade, os pais estão loucos com o desvalor que as crianças muitas vezes dão às coisas. Em especial, as coisas caras. E essa chave seduz de novo. Quanto a isso, já comentei, é preciso repensar consumo. Totalmente. Mas sabe, noto que essa frase intermedia a ideia anterior com a próxima. E isso não é bom.

_Coloque na vida do seu filho que somos criadores, que vamos criá-los e que temos sonhos para eles._

Egotrip divinal pra cima da gente não né. “somos criadores” soou mal, tipo falar pro filho: “reconheça criatura que sou seu Deus”. Ele criou o homem à sua imagem e semelhança né. É. Tem certeza que você não é parente da Damares? Não é baixo o número de adultos que recebo em meu consultório trazendo em sua história os conflitos de quem teve uma “vida sonhada pelos pais”. É melhor ajuda-los a se tornarem criadores de suas próprias vidas. Leia mais Dra. Filó. Que tal começar pela Marcia Nader e o texto “Mãe (Desnecessária)”? https://www.viva50.com.br/a-mae-desnecessaria-por-marcia-neder/ É pequeno mas bem útil.

_Que a vida tem que ter sentido, além do dinheiro, do poder e de todas as possibilidades._

Você fala sobre hierarquia de consumo, de meritocracia e alfismo. E agora existe uma vida além disso? Agora, desmembre a sentença escrita por você mesma e me diga: o que é uma vida com sentido “além de todas as possibilidades”? A senhora pode escrever um “tratado de retórica para leituras apressadas de whatssapp”.

_Que a vida os desafiará, mas a vida não encerra. Cuidado!_

De novo! “A vida desafiará mas não encerra”. Devo imaginar que a vida não encerra os desafios? A vida não se encerra? É infinita e além? Explique melhor isso Dra, porque seus aforismos estão por fora mesmo.

_O que os filhos trazem para o mundo é o que plantamos neles._

Mais um indício de damarismo aqui. Ah Caetano, que saudade do seu dadaísmo. Agora é isso o que temos: damarismo, com suas afirmações do século XVIII. Tipos as que Fröebel (“pai” do jardim de infância, um fofo da virada do XVIII pro XIX, você precisa conhecer). As crianças NÃO SÃO TÁBULA RASA. E quanto às influências do meio, por favor, um pingo de humildade vale a pena! O que é “semeado” é o coletivo de experiências que cada um, o que inclui o contato com mãe, pai, outros parentes, os adultos e crianças da escola, etc., etc., etc. Então claro que vale reforçar: quanto mais presença de qualidade melhor gente! Mas por favor doutora, não afirme isso para as mães e pais como se elas não soubessem. Não desvalorize a inteligência delas. Ao invés disso, o meu conselho para você é puxar o assunto de preferência oferecendo pequenas ideias acerca de prioridades da mente, gerenciamento de tempo, e dicas de como driblar o dia a dia para encontrar esses momentos tão importantes.

_Estimule-os a serem verdadeiros. A verdade abre caminhos._

A senhora é mesmo sedutora. Quem não se comove? Acrescento: a melhor forma de ter fihos verdadeiros é sendo. Mas cuidado com as punições graves, cuidado com um código simples de reprovação que os pequeninos aprendem muito rápido: se mentir passa e a verdade é reprovação, como a mente infantil – amoral – se posiciona? No final das contas, é o nível de intimidade, confidência, confiança que pais e filhos vivenciam que gera um compromisso natural e saudável com a verdade.

_Converse. Incansavelmente. Temos que nutrir a confiança._

É verdade. A senhora acertou aqui. Lembrando que conversa não é monólogo, é diálogo. É preciso não só dizer, é preciso escutar. E sim, é preciso repetir as coisas um milhão de vezes. É muita informação, código, regra, estrutura para assimilar e gerenciar ao mesmo tempo. Há uma pequena competição entre essas coisas todas que estão sendo vividas e aprendidas no dia a dia de uma criança. É preciso repetir e dizer de jeitos diferentes, é preciso explorar os assuntos de muitas formas, inclusive pelo aspecto lúdico quando possível. Quanto maior conexão o aprendente tem com o que está aprendendo, melhor.

_Olhe para os seus filhos e entenda o que eles precisam.”_

Por aí. Melhor que olhar, que é mais objectual, é ouvir e sentir, é prestar atenção. Prestar atenção nas necessidades da criança – inclusive a de limites é vital. Mas repara doutora, que você deixa por último o que de certo modo contradiz muito do que você escreveu no texto todo. E isso é retórica vil. Você compra @s leitor@s com frases no início e no fim, além de pequenos reforços nos subtextos ao longo que o colocam do seu lado, para vender-lhes no pacote um conjunto de valores conservadores que se fossem bons teriam feito o mundo de hoje ser lindo, as famílias serem perfeitas, as pessoas não serem tão doentes, perversas e infelizes. Por favor, não misture o que realmente é necessário para uma reforma íntima necessária aos indivíduos, suas famílias e a criação de seus filhos, com esse discurso cheio de afirmações imperativas, que gera culpa, não aponta soluções reais, não traz a discussão para uma situação de realidade. Seu texto entra em contato com premissas que habitam as pessoas e ativa o dispositivo associativo por pura manipulação. A senhora deveria ser desmascarada. Deviam dizer quem é exatamente ou quem são exatamente a(s) voz(es) por trás da “Doutora Filó”. Mesmo que tenha sido escrito por uma pessoa só, mesmo que essa Filó exista e tenha escrito de punho ou digitalmente essa mensagem que circula de forma viral por aí, não me admiraria compreender que seu texto fala por muitos. O que é um desalento.

_*Mande para todos seus contatos… Formação das crianças brasileiras.*_

Atualmente eu tenho morrido de medo do uso de “Brasil”, e “brasileiro”. Me soa de uma ideologia conservadora e hostil – a mesma que elegeu nosso prefeito, governador e presidente. Exatamente como a desse texto.

O todo do texto é construído com objetivos claros e lembra bastante o sistema de inteligência que tornou Bolsonaro e vencedor na corrida presidencial. Atacando pontos que hoje são lacunas educacionais difíceis de resolver pelos pais de hoje em dia, com os recursos que dispõem (dinheiro, tempo, orientação, suportes humanos, etc., etc.), apela para valores rasos, para o misto entre desqualificação/culpa e bajulação para introduzir ou reforçar uma mentalidade cheia de prerrogativas estudadamente erradas, cujos efeitos práticos não são bons. Como terapeuta, pedagogo e pai, recomendo não repassarem.

* Arnaldo V. Carvalho

PS: Logo após a publicação deste escrito, uma pessoa próxima me falou que uma notória Dra. Filó existe. Não soube me dizer, no entanto, se as palavras do texto que refuto são mesmo dela, ou se é uma transcrição filtrada, etc. A “Dra. Filó” com quem dialogo e cujo texto critíco é o ente por trás do texto, seja ele quem for, que fique claro.

Crítica equivocada e repleta de tendenciosismos sobre Karl Marx

Crítica ao filósofo Karl Marx e sua vida é marcada por equívocos (ou inverdades?) e tendenciosismos

Focado em denegrir Karl Marx e o socialismo, texto que circula na Internet sob autoria anônima tem como alvo associar um “mau Karl Marx” com o Socialismo, e este com os governos do PT atual. Que salada! Dissecamos o mesmo para quem quer a verdade acima das ideologias (corro delas!).

Por Arnaldo V. Carvalho*

 

Após um seminário sobre Marx e Educação, uma colega me perguntou sobre a veracidade das informações de um texto sobre Karl Marx circulando na Internet.

O texto, de “autoria desconhecida”, demonstra, para alem dos equívocos acerca da vida de Marx, desconhecimento sobre a cultura do século XIX e um numero de preconceitos arraigados ao longo de cada sentença.

Não sou especialista em marxismo ou socialismo. Tudo o que li das fontes originais de Karl Marx me fez ver que não há em Marx (como não há em Engels) Deus ou Diabo, como querem os radicais de todos os lados. Mas, considerando o contexto de época, Marx expõe raciocínios muito interessantes. Por outro lado, o que li não dele mas SOBRE a obra de Marx costura suas ideias com a de muitos outros, e os resultados são os mais variados.
A agressividade dos adjetivos empregados pelo escrito que criticarei aqui deixa a certeza de que seu único propósito é denegrir o pensamento marxista e a visão socialista da sociedade. Em tempos de descontentamento com o poder vigente, encabeçado pelo Partido dos Trabalhadores (PT) – em sua origem um herdeiro ideológico do socialismo -, este tipo de texto costuma surgir, insuflando as massas e aumentando a tensão politica.

Segue o texto na integra e em seguida o mesmo dissecado por mim, oferecendo ao leitor a oportunidade de rever a própria historia de Marx, do socialismo e dos preconceitos entranhados na cultura brasileira. Relativizar é preciso!

Karl Marx foi sustentado pela esposa por 16 anos enquanto escrevia “O Capital” até que ela ficasse pobre. Só teve um único emprego fixo em 64 anos de vida, e foi como correspondente do jornal “New York Herald” por breve período e que não resultava em quantias suficientes para manter a família.
Embora estudioso de economia, era cronicamente irresponsável nas finanças pessoais e sempre passou necessidades. Em 1852, quando morava em Londres sem ter mais para onde correr, Marx tentou penhorar alguns talheres de prata com o brasão da família da esposa quando o dono da loja, desconfiado daquela criatura de cabelos desgrenhados e mal vestida, chamou a polícia.
Viu 4 de seus 7 filhos morrerem ainda bebês pela vida insalubre e miserável que sua vagabundice impôs à família, viu duas de suas três filhas sobreviventes se suicidarem, traiu a mulher que o sustentou por anos a fio com a melhor amiga dela, e ainda deu o bebê nascido desta relação para o amigo rico Engels criar. Morreu pobre, intelectualmente debilitado e com um abscesso no pulmão. Somente 11 pessoas incluindo Engels foram ao seu enterro.
Esse é o ídolo da esquerda. O “pai do socialismo”. Sujeito ordinário, preguiçoso e imoral, que não conseguiu sequer colocar a própria vida em ordem. É este pilantra, em muitos aspectos similar ao Lulla, o criador do sistema que tem a pretensão de trazer a solução para o mundo?
Pois é. Cada um tem a referência que merece.
E o Paul Johnson cita no livro “The Intelectuals” que esse energúmeno, além de tudo, não tomava banho e não fazia a barba por muito tempo. Seus seguidores também deixam a barba crescer sem saber por que.
Mas, suas ideias errôneas, ainda estão por aí, a estrepar com o mundo, a azarar com a sociedade. Pior de tudo é que estamos sendo vítimas desses sórdidos caolhos, gigolôs da miséria, parasitas e aproveitadores, os Schmarotzers, na línguagem de seus conterrâneos alemães. Até quando, como diria Catilina, o senador romano? (autor desconhecido)

Radiografia do tendenciosismo no texto:

Karl Marx foi sustentado pela esposa por 16 anos enquanto escrevia “O Capital” até que ela ficasse pobre.

– Marx e sua esposa passaram por fortes privações em razão da perseguição que sofreram. O filósofo e advogado não levou 16 anos escrevendo “O Capital”. Até onde se sabe, a relação entre Marx e Jenny von Westphalen sua esposa era de grande companheirismo.
– Aqui temos uma grave demonstração de machismo. O autor considera negativo que um homem seja sustentado por sua mulher para estudar, pesquisar e gerar algumas das teses mais importantes de seu tempo. Se O Capital tivesse sido escrito por uma mulher sustentada por seu marido, teria problema? Se foi uma escolha do casal utilizar o patrimônio, fosse originalmente da família do homem ou da mulher, para uma grande realização, haveria problema?
– Os problemas financeiros da Família Marx foram causados pela constante perseguição e necessidade de mudança (de país!), o que somente estabilizou em 1841 quando chegam em Londres (já em complicada situação financeira).

Só teve um único emprego fixo em 64 anos de vida, e foi como correspondente do jornal “New York Herald” por breve período e que não resultava em quantias suficientes para manter a família.
– Na verdade, Marx foi correspondente do New York Tribune. Desconfio que autor saiba disso, pois à época, o “Herald” era tido como jornal sensacionalista, enquanto que o Tribune, uma alternativa mais séria aos leitores americanos. Ambos os jornais se fundiram muitos anos depois (1924).

– Esse, porém, não foi o único trabalho de Marx, que aliás, trabalhou por toda a sua vida. Infelizmente, a renda obtida por direitos autoriais de “O Capital” somente foram repassados a família de Marx após sua morte.

– Seu contrato no Tribune, embora tenha lhe gerado proventos estáveis, não funcionava exatamente como um “emprego fixo” como entendemos hoje. O  pensamento empregatício, amplamente impregnado em nossa sociedade, é algo que não corresponde. Marx era filósofo. Era um profissional liberal, e liberais não trabalham obrigatoriamente em “emprego fixo”, ou seja, não necessariamente possuem um patrão, uma carteira assinada, etc. Essa frase indica que o autor do texto está escrevendo para as massas, já alienadas e presas à mentalidade empregatícia.

– Também busca hierarquizar as próprias condições de emprego, onde o fixo tem mais idoneidade que o temporário, o sob demanda, freelance etc. Desvaloriza-se assim o trabalho intelectual, ressaltando a virtude capitalista de valorização dos que “vencem por meio do suor braçal” (vale lembrar que são poucos os que tem essa trajetória de sucesso no capitalismo).

– A importância de sua obra foi reconhecida por Engels e foi em boa parte patrocinada. Muitos intelectuais, cientistas e artistas dependem de mecenas para seguirem realizando suas obras.

 

Embora estudioso de economia, era cronicamente irresponsável nas finanças pessoais e sempre passou necessidades.

– “Sempre passou necessidades” não é verdade. Mas com certeza priorizou seu dinheiro para seus estudos, suas campanhas junto às massas, deixando o necessário para o “sobreviver”.
Em 1852, quando morava em Londres sem ter mais para onde correr, Marx tentou penhorar alguns talheres de prata com o brasão da família da esposa quando o dono da loja, desconfiado daquela criatura de cabelos desgrenhados e mal vestida, chamou a polícia.

– Não consegui apurar essa informação, mas é bem possível. dado o contexto em que se encontrava nesse ano, onde passava os dias mais difíceis de sua vida. Sujeito mal trapilho, entra em uma loja com objetos caros, qual é o raciocínio? “Só pode ser roubado”. Jean Valjan (personagem de Victor Hugo, protagonista do clássico “Os Miseráveis”) encarna o popular que já passou por isso. Você já passou? Então com certeza não sabe o que é.

 

Viu 4 de seus 7 filhos morrerem ainda bebês pela vida insalubre e miserável que sua vagabundice impôs à família,

– Após ser expulso de três países diferentes, por insistir em fazer a aplicação prática de suas teses cientificas, denunciando a exploração junto aos trabalhadores, chegou em condições muito difíceis mesmo na Inglaterra. Os anos 50 os castigaram, e apesar de “O Capital” ser nesse momento um best-seller na Europa, Marx jamais recebeu os royalties por sua publicação (o dinheiro chegou a família vários anos após sua morte). A miséria fez com que eles passassem fome e frio, com impossibilidade de contar com assistência médica ou outras. Vagabundice?

 

viu duas de suas três filhas sobreviventes se suicidarem,

– Os suicídios ocorreram apos a morte de Marx, e portanto ele não os viu. As razões foram bem diferentes e em nada se relacionam com o pai ou sua criação.
traiu a mulher que o sustentou por anos a fio com a melhor amiga dela, e ainda deu o bebê nascido desta relação para o amigo rico Engels criar.

– Embora não haja provas documentais, tudo leva a crer que Isso de fato aconteceu. A mulher em questão se chamava Helene Demuth, trabalhava na casa de Marx e lá vivia. Ela fôra empregada na casa dos Westphalen, e após o casamento de Marx e Jenny, foi viver com o casal e com eles ficou até o fim dos dias. Politizada, era também do partido comunista e ajudava a rever os escritos de Marx. Apesar de sua contribuição e atividade, viveu no ostracismo intelectual por ser mulher, amante, condenada até mesmo pelos marxistas da época, que elaboraram o comportamento idealizado de um cidadão comunista.

 

Morreu pobre, intelectualmente debilitado e com um abscesso no pulmão.

– Pois é, morrer pobre é um problema. Na programação neoliberal, um homem de vulto, “bem sucedido” tem que morrer com dinheiro. Esse é o projeto de vida do capitalista.
Somente 11 pessoas incluindo Engels foram ao seu enterro.

– Os números divergem, mas até onde consta, foram poucos mesmo, talvez uns quinze. É preciso levar em conta que Marx passou por muitas agruras na Inglaterra, e seu círculo mais próximo era sem dúvida limitado. Talvez, mais do que o número, devêssemos levar em conta a qualidade das pessoas que lá estavam.

– A doutora em história Nívia Pombo**, ao revisar esta minha refutação acrescentou que: “Em uma época de severa repressão do Estado, dificilmente algum trabalhador (se é que seriam esses os homens que o autor do texto esperava localizar no funeral) poderia faltar um dia de trabalho para homenagear uma persona non grata por todos os empresários”.

 

Esse é o ídolo da esquerda. O “pai do socialismo”. Sujeito ordinário, preguiçoso e imoral, que não conseguiu sequer colocar a própria vida em ordem.

– Seria possível, sem se dobrar ao status quo do capitalismo que nascia na total ausência de direitos trabalhistas?

 

É este pilantra, em muitos aspectos similar ao Lulla, o criador do sistema que tem a pretensão de trazer a solução para o mundo? Pois é. Cada um tem a referência que merece.

– Finalmente o autor declara seu propósito: sujar para sujar. Associou a imagem prejudicada de Marx a do Lula, (escrito com dois eles para vincular ao rejeitado ex-presidente Collor), e assim atacou simultaneamente o PT, o socialismo, e finalmente – esse é o ponto, contextualizado pelo momento atual em que o texto circula (o governo Dilma).

 

E o Paul Johnson cita no livro “The Intelectuals” que esse energúmeno, além de tudo, não tomava banho e não fazia a barba por muito tempo.

– Não conhecia o Paul Johnson e sua obra. Mas dando uma olhada, é assustador. Um escritor que se “especializou” em criar livros com “Mini-biografias” depreciativas, com olhar destrutivo sobre todo tipo de gente famosa. E acima de tudo, um hipócrita, cuja vida pessoal, pelo que consegui perceber, é facilmente alvo de críticas muito semelhantes à que ele faz a Marx.

– A barba de Marx não é exótica em seu tempo, pelo contrario, era o costume típico da elite dominante da época. Veja Charles Darwin, Engels, Dom Pedro II, todos bem barbados. A barba caiu em desuso com o tempo, e as culturas que a mantiveram (como a árabe), propositalmente rebaixada, é associada a sujeira e a barbárie… A estrategia aqui esta sendo usada contra a aparência de Marx.

 

Seus seguidores também deixam a barba crescer sem saber por que.

– o autor aqui tenta associar a imagem das pessoas que compreendem o socialismo como alternativa ao sistema neoliberal à de pessoas crédulas, alienadas, que seguem às cegas uma ideologia.
Mas, suas ideias errôneas, ainda estão por aí, a estrepar com o mundo, a azarar com a sociedade. Pior de tudo é que estamos sendo vítimas desses sórdidos caolhos, gigolôs da miséria, parasitas e aproveitadores, os Schmarotzers, na línguagem de seus conterrâneos alemães.

– O autor acredita que, a essa altura, o leitor já estará bem incomodado com Marx, por força de sua retórica. Isso lhe dá permissão para borrifar uma linha de xingamentos inconsistentes e mais uma vez com doses de preconceito (caolhos são sórdidos), e acaba em sua empolgação até mesmo errando no português.

 

Até quando, como diria Catilina, o senador romano?

– A frase é: “Qvosque tandem abvtere, Catilina, patientia nostra? (Até quando, Catilina, abusarás de nossa paciência?)

E é desferida por Cícero (106-43 a. C.) contra Lúcio Sergio Catilina (108-62 a. C.) senador condenado por conspirar contra a República Romana. Seus contemporâneos o tinha como uma pessoa ambiciosa, ardilosa e cruel.

– A citação equivocada nos faz pensar, tamanho seu absurdo, que o texto é apenas uma piada de mau gosto, que tenta testar a cultura, ou a inteligencia, ou a visão critica de quem o lê.

– Por curiosa coincidência, refutei esse texto (apenas acrescentando este parágrafo posteriormente) pouco antes e o publiquei dias após a atual fase da “Operação Lava Jato”, denominada Catilinárias. Trata-se de uma referência aos homens públicos investigados que atentam contra a democracia e o interesse geral da nação.

 

(Desconheço o autor)

– Nada como se esconder atrás do anonimato, após ter a coragem de publicar algo tão ofensivo, repleto de calúnias e tendenciosismo!

– Sete adjetivos e muitas mais interjeições depreciativas, em seis parágrafos que, de fato, não merecem atenção, e se gasto alguma energia nisto é porque, como minha colega, muitas outras pessoas podem estar nesse momento – por desconhecimento, ou até uma pré-construção cultural – lendo o livro e sendo incitadas ao ódio.

 

*  *  *

 

* Arnaldo V. Carvalho, polímata, adora caçar apócrifos e desmascarar idólatras. Deixa claro que nunca votou no Lula, na Dilma ou no PT. Não é filiado a partido algum, não é socialista ou liberal, comunista ou conservador. Detesta rótulos. E relativiza.

** Doutora Nívia Pombo, atualmente professora de História da UERJ, é também minha digníssima esposa – nada como ter uma cientista ao lado, para me revisar e evitar gafes!

 

Referências úteis

  • GAY, Peter. O Século de Schnitzler –  a formação da cultura da classe média (1815-1914). São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

 

Apócrifos tendenciosos: “militar é incompetente” jamais poderia ser do Millôr.

Recebi por e-mail mais um apócrifo, dessa vez atribuído a Millôr Fernandes. O texto é uma apologia à ditadura militar brasileira que governou o país por quase um quarto do século XX. Quem substituiu a autoria verdadeira pelo nome de Millôr parece se prover da ironia, tendo o cartunista combatido com sua “arma-caneta” tal regime (aos mais novos lembro que Millôr Fernandes foi um dos ativos artistas de “O Pasquim“), e inclusive tendo sido perseguido por ele.

Não vou reproduzi-lo aqui, pois seria dar bola de mais para o que não merece. Mas ele pode ser encontrado neste link. Caso um dia tenha disposição poderei contrapor os argumentos do texto com uma infinidade de outros, para tornar o cenário menos irreal.

Vejam o que diz o próprio Millôr sobre o texto:

Seu verdadeiro autor é Anselmo Cordeiro (veja a carta do próprio em http://elvisrossi.blogspot.com.br/2011/06/militar-e-incompetente-demais-militares.html). Ele se orgulha. Eu sentiria vergonha. Aliás, sinto. Vergonha alheia.

Arnaldo.

NOTA DO DIA 30/07/2017: Fui alertado pela leitora “liaseal” de que o vídeo saiu do ar, e o link para o texto estaria quebrado. O link pelo que visitei, voltou ao ar. Já o vídeo, sumiu e não encontrei nem uma outra na Internet, no momento. Deixo aqui como “compensação” e prova do repúdio de Millor ao texto e à equivocada atribuição de autoria, um comentário do próprio em sua página oficial:

– Bom dia Millôr. Recebi um texto intitulado “Militares nunca mais” que fala sobre as atividades desenvolvidas por militares durante o regime militar. O que eu gostaria de saber é se o texto foi realmente assinado pelo Senhor e em qual meio foi publicado originalmente. Sou um leitor assíduo de seus textos e admirador de suas charges e até então não havia visto esse tal texto. Fico grato se puder me responder. Atenciosamente,
Cristiano, Curitiba-PR

Caro Cristiano – acho o texto primário. Que posso fazer? É o lado escroto da Internet. Abrassão. O Millôr.

FONTE: http://www2.uol.com.br/millor/aberto/email/061.htm

 

Um homem inteligente falando das mulheres

Mulher, manual de preservação da Espécie

(Fábio Reynol)*

O desrespeito à natureza tem afetado a sobrevivência de vários seres e entre os mais ameaçados está a fêmea da espécie humana.


Tenho apenas um exemplar em casa,que mantenho com muito zelo e dedicação, mas na verdade acredito que é ela quem me mantém.

Portanto, por uma questão de auto-sobrevivência, lanço a campanha ‘Salvem as Mulheres!’
Tomem aqui os meus poucos conhecimentos em fisiologia da feminilidade a fim de que preservemos os raros e preciosos exemplares que ainda restam:

1. Habitat

Mulher não pode ser mantida em cativeiro. Se for engaiolada, fugirá ou morrerá por dentro. Não há corrente que as prenda e as que se submetem à jaula perdem o seu DNA. Você jamais terá a posse de uma mulher, o que vai prendê-la a você é uma linha frágil que precisa ser reforçada diariamente.
.
2. Alimentação correta

Ninguém vive de vento. Mulher vive de carinho. Dê-lhe em abundância. É coisa de homem, sim, e se ela não receber de você vai pegar de outro.

Beijos matinais e um ‘eu te amo’ no café da manhã as mantém viçosas e perfumadas durante todo o dia. Um abraço diário é como a água para as samambaias. Não a deixe desidratar. Pelo menos uma vez por mês é necessário, senão obrigatório, servir um prato especial.

3. Flores

Também fazem parte de seu cardápio – mulher que não recebe flores murcha rapidamente e adquire traços masculinos como rispidez e brutalidade.

4. Respeite a natureza

Você não suporta TPM? Case-se com um homem. Mulheres menstruam, choram por nada, gostam de falar do próprio dia, discutir a relação? Se quiser viver com uma mulher, prepare-se para isso.

5. Não tolha a sua vaidade

É da mulher hidratar as mechas, pintar as unhas, passar batom, gastar o dia inteiro no salão de beleza, colecionar brincos, comprar muitos sapatos, ficar horas escolhendo roupas no shopping.
Entenda tudo isso e apoie.

6. Cérebro feminino não é um mito

Por insegurança, a maioria dos homens prefere não acreditar na existência do cérebro feminino. Por isso, procuram aquelas que fingem não possuí-lo (e algumas realmente o aposentaram!). Então, aguente mais essa: mulher sem cérebro não é mulher, mas um mero objeto de decoração.
Se você se cansou de colecionar bibelôs, tente se relacionar com uma mulher. Algumas vão lhe mostrar que têm mais massa cinzenta do que você. Não fuja dessas, aprenda com elas e cresça. E não se preocupe, ao contrário do que ocorre com os homens, a inteligência não funciona como repelente para as mulheres.

Não faça sombra sobre ela.
Se você quiser ser um grande homem tenha uma mulher ao seu lado, nunca atrás. Assim, quando ela brilhar, você vai pegar um bronzeado. Porém, se ela estiver atrás, você vai levar um pé-na-bunda.
Aceite: mulheres também têm luz própria e não dependem de nós para brilhar.
O homem sábio alimenta os potenciais da parceira e os utiliza para motivar  os próprios. Ele sabe que, preservando e cultivando a mulher, ele estará salvando a si mesmo.
E meu amigo, se você acha que mulher é caro demais, vire gay.

Porque só tem mulher, quem pode!

* Mais um texto que circula apócrifo, com autoria quase sempre atribuída a Luiz Fernando Veríssimo, mas também a Drauzio Varella, entre outros. O verdadeiro autor, Fábio Reynol, explica o contexto em que o produziu na publicação original de seu site. (Arnaldo)

Máscaras – Por Favor, Escute o que Eu Não Estou Dizendo (Charles C. Finn)

*** Por favor, prestigie o autor do poema visitando seu site: www.poetrybycharlescfinn.com/ Please, let´s prestige Poet Charles C. Finn. Visit his webpage (adress above) ***
Guardei por anos esse texto, entitulado “Máscaras” e de “autoria desconhecida”. Contudo, o nome do texto é outro, e o autor é americano, vivo, e tem um site muito amável colocado no ar por sua maior fã: sua esposa (o que torna tudo ainda mais belo). Seu nome é Charles C. Finn. Tenho a responsabilidade de creditar os textos aos seus devidos autores, e preservar tanto quanto possível a integridade de seus escritos. Esse é um texto fantástico, que trata de uma realidade interna de cada um de nós, manifestando-se em direção ao Outro. Assim, publico aqui o original em inglês, a versão que mais circula em e-mails pela Internet e minha tradução direta do original. Desfrutem. Arnaldo.
.
Minha tradução:
Não seja enganado por mim.
Não seja enganado pela face que visto.

Por eu vestir uma máscara, um milhar de máscaras,

máscaras que eu temo tirar
e nenhuma delas sou eu.
Fingir é uma arte que é uma segunda natureza para mim,
mas não seja enganado,
Pelo Amor de Deus, não se deixe enganar.
I dou a você a impressão de que sou seguro,
de que tudo é ensolarado e sem perturbações comigo, por dentro e por fora,
que confiança é meu nome e sangue frio é meu jogo,
que as águas são calmas e eu estou no comando
e que eu não preciso de ninguém,
mas não creia-me.
Minha superfície pode parecer gentil, mas minha superfície é minha máscara,
sempre mudando e sempre escondendo,
Por baixo, desvela-se a não complacência.
Por baixo desvela-se confusão, e medo, e solidão.
Mas eu escondo isto. Eu não quero que ninguém saiba.
Entro em pânico ao pensar na minha fraqueza exposta.

É por isso que freneticamente eu crio uma máscara para por trás esconder-me

uma fachada sofisticada indiferente

para me ajudar a fingir,

para escudar-me da olhadela que sabe.

Mas uma olhadela dessas é precisamente minha salvação, minha única esperança,
e eu sei disso.
Isto é, se ela é seguida de aceitação
se é seguida de amor.
É a única coisa que pode me libertar de mim mesmo

dos muros da prisão que construí eu mesmo

das barreiras que eu ergui tão dolorosamente.
É a única coisa que vai me assegurar
de que eu não posso me assegurar,
que eu realmente tenha algum valor.
Mas eu não digo isso a você.
Eu não me atrevo, estou com medo.
Estou com medo que sua olhadela não seja seguida de aceitação,
que não vá ser seguida de amor.
Eu tenho medo que você pense menos de mim,
que você ria, e sua risada poderia matar-me.
Estou co medo que bem lá dentro eu não seja nada
e que você vai ver isso e me rejeitar.
Então eu jogo, meu jogo, meu desesperado jogo de fingir,
com uma fachada de segurança por fora
e uma criança a tremer por dentro.
Então começo o desfile brilhante mas vazio de máscaras,
e minha vida se torna um front.

Converso com você sem propósito, nos suaves tons de diálogo superficial.
Eu digo a você tudo que na verdade é nada,
e nada que na verdade é tudo,

o que está a chorar dentro de mim.
Então quando eu for para minha rotina
não seja enganado pelo que estou dizendo.
Por favor, escute atentamente e tente escutar o que eu não estou dizendo,
o que eu gostaria de conseguir dizer,
o que para sobreviver eu preciso dizer,
mas o que eu não posso dizer.
Eu não gosto de esconder.
Eu não gosto de jogar jogos falsos e superficiais.
Eu quero parar de joga-los.
Eu quero ser genuíno, espontâneo e eu mesmo
Mas você tem que me ajudar.
Você tem que estender sua mão
mesmo quando esta é a última coisa que eu pareço querer.

Somente você pode enxugar para longe de meus olhos
o olhar fixo e vazio de morto-vivo.
Somente você pode invocar minha vivacidade
Cada vez que você é doce, sutil e encorajador,
cada vez que você tenta entender porque você realmente se importa,
meu coração começa a desenvolver asas —
asas bem pequenas,
asas bem débeis,

mas asas!

Com seu poder de me tocar os sentimentos

você pode soprar vida em mim.
Eu quero que você saiba disso.
Quero que você saiba o quão é importante para im,
O quão você pode ser um criador – um honesto criador de Deus –
dessa pessoa que sou eu.
se você escolher faze-lo.
Você pode, você mesmo, quebrar o muro sob o qual eu tremo,
Você pode, você mesmo, remover minha máscara,
Você pode, você mesmo, me libertar de meu mundo sombrio de pânico,
de minha prisão solitária,
se você escolher faze-lo.
Por favor, escolha faze-lo.

Não passe por mim.
Não será fácil para você.
Um a longa convicção de menos-valia constrói muros fortes.
Quanto mais perto você se aproximar de mim
o escurecedor eu posso contra atacar.
É irracional, mas a despeito do que os livros dizem sobre o homem
frequentemente eu sou irracional.
Eu luto contra cada coisa que eu choro perder.
Mas me disseram que o amor é mais forte que muros fortes
e nisto reside minha esperança.

Por favor tente vencer essas muralhas
com mãos firmes porém gentis
para uma criança que está bastante sensível.

Quem eu sou, você pode vislumbrar?
Eu sou alguém que você conhece muito bem.
Por eu ser cada homem que você encontra
e ser cada mulher que você encontra.

Charles C. Finn, Setembro de 1966
Charles C. Finn (+- 1946-*) **
Tradução de Arnaldo V. Carvalho
.
.
O Original:
.
Please Hear What I’m Not Saying

Jester mask Don’t be fooled by me.
Don’t be fooled by the face I wear
For I wear a mask, a thousand masks,
Masks that I’m afraid to take off
And none of them is me.

Pretending is an art that’s second nature with me,
but don’t be fooled,
for God’s sake don’t be fooled.
I give you the impression that I’m secure,
that all is sunny and unruffled with me,
within as well as without,
that confidence is my name and coolness my game,
that the water’s calm and I’m in command
and that I need no one,
but don’t believe me.

My surface may be smooth but
my surface is my mask,
ever-varying and ever-concealing.
Beneath lies no complacence.
Beneath lies confusion, and fear, and aloneness.
But I hide this. I don’t want anybody to know it.
I panic at the thought of my weakness exposed.
That’s why I frantically create a mask to hide behind,
a nonchalant sophisticated facade,
to help me pretend,
to shield me from the glance that knows.

But such a glance is precisely my salvation,
my only hope, and I know it.
That is, if it is followed by acceptance,
If it is followed by love.
It’s the only thing that can liberate me from myself
from my own self-built prison walls
from the barriers that I so painstakingly erect.
It’s the only thing that will assure me
of what I can’t assure myself,
that I’m really worth something.
But I don’t tell you this. I don’t dare to. I’m afraid to.

mask I’m afraid you’ll think less of me,
that you’ll laugh, and your laugh would kill me.
I’m afraid that deep-down I’m nothing
and that you will see this and reject me.

So I play my game, my desperate, pretending game
With a façade of assurance without
And a trembling child within.
So begins the glittering but empty parade of Masks,
And my life becomes a front.
I tell you everything that’s really nothing,
and nothing of what’s everything,
of what’s crying within me.
So when I’m going through my routine
do not be fooled by what I’m saying.
Please listen carefully and try to hear what I’m not saying,
what I’d like to be able to say,
what for survival I need to say,
but what I can’t say.

I don’t like hiding.
I don’t like playing superficial phony games.
I want to stop playing them.
I want to be genuine and spontaneous and me
but you’ve got to help me.
You’ve got to hold out your hand
even when that’s the last thing I seem to want.
Only you can wipe away from my eyes
the blank stare of the breathing dead.
Only you can call me into aliveness.
Each time you’re kind, and gentle, and encouraging,
each time you try to understand because you really care,
my heart begins to grow wings —
very small wings,
but wings!

With your power to touch me into feeling
you can breathe life into me.
I want you to know that.
I want you to know how important you are to me,
how you can be a creator–an honest-to-God creator —
of the person that is me
if you choose to.
You alone can break down the wall behind which I tremble,
you alone can remove my mask,
you alone can release me from the shadow-world of panic,
from my lonely prison,
if you choose to.
Please choose to.

Do not pass me by.
It will not be easy for you.
A long conviction of worthlessness builds strong walls.
The nearer you approach me
the blinder I may strike back.
It’s irrational, but despite what the books may say about man
often I am irrational.
I fight against the very thing I cry out for.
But I am told that love is stronger than strong walls
and in this lies my hope.
gold mask Please try to beat down those walls
with firm hands but with gentle hands
for a child is very sensitive.

Who am I, you may wonder?
I am someone you know very well.
For I am every man you meet
and I am every woman you meet.

By Charles C. Finn (+- 1946-*) **

O texto que circula na Internet

Máscaras

“Não deixe se enganar por mim. Não se engane com as máscaras que uso, pois eu uso máscaras que eu tenho medo de tirar, e nenhuma delas sou eu.
Fingir é uma arte que se tornou uma segunda natureza para mim, mas não se engane.

Eu dou a impressão de que sou seguro, de que tudo está bem e em paz comigo, que meu nome é confiança e tranqüilidade;
é meu tema que as águas do mar são calmas e eu que estou no comando sem precisar de ninguém.
Mas não acredite, por favor.

Minha aparência é tranqüila, mas é apenas uma aparência, é uma máscara superficial, mas é a que sempre varia e esconde.
Por baixo não há tranqüilidade, complacência ou calma.
Por baixo, está meu mal em confusão, medo e abandono.
Mas eu oculto tudo isso, pois eu não quero que ninguém veja.

Fico em pânico ante a possibilidade de que minha fraqueza fique exposta,
e é por isso que eu crio máscaras atrás das quais eu me escondo com a fachada de quem não se deixa tocar,
para me ocultar do olhar que sabe.
Mas esse olhar é justamente minha salvação. Eu eu sei disto.
É a única coisa que pode me libertar de mim mesmo, dos muros da prisão que eu mesmo levantei,
das barreiras que eu mesmo tão dolorosamente construo.

Mas eu não digo muito disso à você. Não sorria, tenho medo.
Tenho medo que seu olhar não seja de amor e atenção.
Tenho medo que você me menospreze, que ria de mim, me ferindo.
Tenho medo de que lá dentro do interior de mim mesmo, eu não valha nada e que você acabe vendo e me rejeitando.

Então eu continuo a viver meus jogos, meus jogos de fingimento, com a fachada de segurança de fora e sendo uma criança tremendo por dentro.
Com um desfile de máscaras, todas vazias, minha vida se tornou um campo de batalha.
Eu converso com você uma conversa infantil e superficial.
Digo à você tudo que não tem a menor importância e calo o que arde dentro de mim.
De forma que, não se deixe enganar por mim.
Mas por favor, escute e tente ouvir o que eu não estou dizendo e que eu gostaria de dizer.

Eu não gosto de me esconder, honestamente eu não gosto.
Eu tão pouco gosto de jogos tolos e superficiais que faço.
Eu gostaria mesmo era de ser genuíno, espontâneo, eu mesmo, e você tem que me ajudar, segurando a minha mão,
mesmo que quando esta for a última coisa que eu aparentemente necessitar.

Cada vez que você me ajuda, um par de asas nasce no meu coração.
Asas pequenas e frágeis, mas asas.
Com sua sensibilidade, afeto e compreensão, eu me torno capaz.
Você me transmite vida. Não vai ser fácil para você.
A idéia de que eu não valho nada vem de muito tempo e criou muros fortes.
Mas o amor é mais forte que os muros, e aí está a minha esperança.

Por favor ajude-me a destruir esses muros, com mãos fortes, mas gentis,
pois uma criança é muito sensível e eu sou uma criança.

E agora você poderia se perguntr quem sou eu? Eu sou uma pessoa que você conhece muito bem. Porque eu sou todo homem,toda mulher, toda criança… todo o ser humano que você encontra!”

*   *   *

** A idade de Charles C. Finn é um mistério entre seus fãs. A família, embora possua um site muito carinhoso onde se encontra o poema original e outros textos do mesmo autor, não revela em momento nenhum a idade do autor. Como sabemos que Finn publicou seu texto em 1966 no início de sua carreira como professor, podemos calcular que ele tinha seus vinte e poucos anos.

Referências / Para saber mais

http://www.poetrybycharlescfinn.com/pleasehear.html

http://www.jwjonline.net/poems/poem/mask/

http://www.reflexos-da-alma.com/mascaras.html

http://thinkexist.com/quotes/charles_c._finn/

http://www.bookfinder.com/author/charles-c-finn/

 

*** Por favor, prestigie o autor do poema visitando seu site: www.poetrybycharlescfinn.com/ Please, let´s prestige Poet Charles C. Finn. Visit his webpage (adress above) ***

Minha aparência é tranqüila, mas é apenas uma aparência, é uma máscara superficial, mas é a que sempre varia e esconde.
Por baixo não há tranqüilidade, complacência ou calma.
Por baixo, está meu mal em confusão, medo e abandono.
Mas eu oculto tudo isso, pois eu não quero que ninguém veja.

Fico em pânico ante a possibilidade de que minha fraqueza fique exposta,
e é por isso que eu crio máscaras atrás das quais eu me escondo com a fachada de quem não se deixa tocar,
para me ocultar do olhar que sabe.
Mas esse olhar é justamente minha salvação. Eu eu sei disto.
É a única coisa que pode me libertar de mim mesmo, dos muros da prisão que eu mesmo levantei,
das barreiras que eu mesmo tão dolorosamente construo.

De um Pai para suas Filhas

Apenas nesta manhã, eu vou deixar a louça na pia e, deixar! você me ensinar a montar seu quebra-cabeças.

Apenas nesta tarde, eu vou desligar o telefone, manter o computador fora do ar e, sentar-me com você no quintal e soltar bolhas de sabão.

Apenas nesta tarde, eu não vou gritar nenhuma vez, nem mesmo resmungar, quando você gritar e acenar para o carrinho de sorvetes; e vou comprar um se ele passar.

Apenas nesta tarde, eu não vou me preocupar com o que você vai ser
quando crescer.

Apenas nesta tarde, eu vou deixar você ajudar-me a assar biscoitos e não vou ficar atrás de você, tentando consertá-los.

Apenas nesta tarde, vamos ao McDonald’s e, comprar um Mc Lanche Feliz para nós dois, para que você possa ganhar dois brinquedos.

Apenas nesta noite, vou segurá-lo em meus braços e, contar-lhe uma
história sobre como você nasceu e, como eu amo você.

Apenas nesta noite, eu vou deixar você espirrar a água da banho e não ficar nervoso.

Apenas nesta noite, vou deixar você ficar acordado até tarde, enquanto ficamos sentados na soleira, contando todas as estrelas.

Apenas nesta noite eu vou me aconchegar ao seu lado por horas e, perder meus shows favoritos na TV.

Apenas nesta noite, quando eu passar meus dedos entre seus cabelos
enquanto você reza, eu vou simplesmente ser grato a Deus por ter me dado o maior presente do mundo.

Eu vou pensar nas mães e pais que procuram por seus filhos perdidos; nas mães e pais que visitam a sepultura de seus filhos, ao invés de suas camas; nas mães e pais que, estão em hospitais vendo seus filhos sofrerem, sem que isto tenha sentido e, gritando por dentro que não podem mais suportar isto.

E, quando eu te dar um beijo de boa noite, vou te segurar um pouquinho mais forte, por um pouquinho mais de tempo.

E, é então que, eu vou agradecer a Deus por você e, não pedir nada a Ele… exceto mais um dia.

(Autor Desconhecido)

 

*   *   *

Gostaria muito de saber o autor desse texto, mas não encontrei nenhuma referência na Internet. Ao ler com atenção percebe-se que as sentenças foram construídas originalmente na língua inglesa. Busquei pela mesma e encontrei várias versões. O site Snope já havia feito um belo trabalho investigativo, inclusive demonstrando que o texto foi modificado inúmeras vezes e utilizado em campanhas fictícias para crianças igualmente fictícias a morrer de câncer e congêneres… http://www.snopes.com/inboxer/medical/arlington.asp

A autoria desse belo texto, contudo permanece desconhecida, embora seu apelo seja sempre um lembrete aos pais workaholics, a todo aquele que tem dificuldade de sair de seu próprio mundo por algumas horas e olhar para o Outro em formação, que no caso é seu próprio filho.

Arnaldo V. Carvalho

Mensagem a Garcia

Há muitos anos, meu avô mandou fazer uma rodagem de muitas cópias deste texto, pois o considerava profundamente. Compartilho aqui. Arnaldo

Uma Mensagem a Garcia

Elbert Hubbard (1856-1915)

Em todo este caso cubano, um homem se destaca no horizonte de minha memória como o planeta Marte no seu periélio. Quando irrompeu a guerra entre a Espanha e os Estados Unidos, o que importava a estes era comunicar-se rapidamente com o chefe dos insurretos, Garcia, que se sabia encontrar-se em alguma fortaleza no interior do sertão cubano, mas sem que se pudesse precisar exatamente onde. Era impossível comunicar-se com ele pelo correio ou pelo telégrafo. No entanto, o Presidente tinha que tratar de assegurar-se da sua colaboração, e isto o quanto antes. Que fazer?

Alguém lembrou ao Presidente: “Há um homem chamado Rowan; e se alguma pessoa é capaz de encontrar Garcia, há de ser Rowan”.

Rowan foi trazido à presença do Presidente, que lhe confiou uma carta com a incumbência de entregá-la a Garcia. De como este homem, Rowan, tomou a carta, meteu-a num invólucro impermeável, amarrou-a sobre o peito, e, após quatro dias, saltou, de um barco sem coberta, alta noite, nas costas de Cuba; de como se embrenhou no sertão, para depois de três semanas, surgir do outro lado da ilha, tendo atravessado a pé um país hostil e entregando a carta a Garcia – são cousas que não vêm ao caso narrar aqui pormenorizadamente. O ponto que desejo frisar é este: Mac Kinley deu a Rowan uma carta para ser entregue a Garcia; Rowan pegou da carta e nem sequer perguntou: “Onde é que ele está?”.

Hosannah! Eis aí um homem cujo busto merecia ser fundido em bronze imarcescível e sua estátua colocada em cada escola do país. Não é de sabedoria livresca que a juventude precisa, nem instrução sobre isto ou aquilo. Precisa, sim, de um endurecimento das vértebras, para poder mostrar-se altivo no exercício de um cargo; para atuar com diligência, para dar conta do recado; para, em suma, levar uma mensagem a Garcia.

O General Garcia já não é deste mundo, mas há outros Garcias. A nenhum homem que se tenha empenhado em levar avante uma empresa, em que a ajuda de muitos se torne precisa, têm sido poupados momentos de verdadeiro desespero ante a imbecilidade de grande número de homens, ante a inabilidade ou falta de disposição de concentrar a mente numa determinada cousa e fazê-la.

Assistência irregular, desatenção tola, indiferença irritante e trabalho mal feito parecem ser a regra geral. Nenhum homem pode ser verdadeiramente bem sucedido, salvo se lançar mão de todos os meios ao seu alcance, quer da força, quer do suborno, para obrigar outros homens a ajudá-lo, a não ser que Deus Onipotente, na sua grande misericórdia, faça um milagre enviando-lhe como auxiliar um anjo de luz.

Leitor amigo, tu mesmo podes tirar a prova. Estás sentado no teu escritório, rodeado de meia dúzia de empregados. Pois bem, chama um deles e pede-lhe: “Queira ter a bondade de consultar a enciclopédia e de me fazer uma descrição sucinta da vida de Corrégio “.

Dar-se-á o caso do empregado dizer calmamente: “Sim, Senhor” e executar o que se lhe pediu?

Nada disso! Olhar-te-á perplexo e de soslaio para fazer uma ou mais das seguintes perguntas:

Quem é ele?

Que enciclopédia?

Onde é que está a enciclopédia? Fui eu acaso contratado para fazer isso ?

Não quer dizer Bismark?

E se Carlos o fizesse?

Já morreu?

Precisa disso com urgência?

Não será melhor que eu traga o livro para que o senhor mesmo procure o que quer?

Para que quer saber isso ?

E aposto dez contra um que, depois de haveres respondido a tais perguntas, e explicado a maneira de procurar os dados pedidos e a razão por que deles precisas, teu empregado irá pedir a um companheiro que o ajude a encontrar Garcia, e, depois voltará para te dizer que tal homem não existe. Evidentemente, pode ser que eu perca a aposta; mas, segundo a lei das médias, jogo na certa. Ora, se fores prudente, não te darás ao trabalho de explicar ao teu “ajudante” que Corrégio se escreve com “C” e não com “K “, mas limitar-te-ás a dizer meigamente, esboçando o melhor sorriso. “Não faz mal; não se incomode “, e, dito isto, levantar-te-ás e procurarás tu mesmo. E esta incapacidade de atuar independentemente, esta inépcia moral, esta invalidez da vontade, esta atrofia de disposição de solicitamente se pôr em campo e agir – são as cousas que recuam para um futuro tão remoto o advento do socialismo puro. Se os homens não tomam a iniciativa de agir em seu próprio proveito, que farão quando o resultado do seu esforço redundar em benefício de todos? Por enquanto parece que os homens ainda precisam de ser feitorados. O que mantém muito empregado no seu posto e o faz trabalhar é o medo de se não o fizer, ser despedido no, fim do mês. Anuncia precisar de um taquígrafo, e nove entre dez candidatos à vaga não saberão ortografar nem pontuar – e, o que é mais, pensam que não é necessário sabê-lo.

Poderá uma pessoa destas escrever uma carta a Garcia?

– Vê aquele guarda-livros?, dizia-me o chefe de uma grande, fábrica.

– Sim, que tem?

– É um excelente guarda-livros. Contudo, se eu o mandasse, fazer um recado, talvez se desobrigasse da incumbência a contento, mas também podia muito bem ser que no caminho entrasse em duas ou três casas de bebidas, e que, quando chegasse ao seu destino, já não se recordasse da incumbência que lhe fora dada .

Será possível confiar-se a um tal homem uma carta para entregá-la a Garcia?

Ultimamente temos ouvido muitas expressões sentimentais externando simpatia para com os pobres entes que mourejam de sol a sol, para com os infelizes desempregados à cata do trabalho honesto, e tudo isto, quase sempre, entremeado de muita palavra dura para com os homens que estão no poder.

Nada se diz do patrão que envelhece antes do tempo, num baldado esforço para induzir eternos desgostosos e descontentes a trabalhar conscienciosamente; nada se diz de sua longa e paciente procura de pessoal, que, no entanto, muitas vezes nada mais faz do que “matar o tempo”, logo que ele volta as costas. Não há empresa que não esteja despendindo pessoal que se mostre incapaz de zelar pelos seus interesses, a fim de substituílo por outro mais apto. E este processo de seleção por eliminação está se operando incessantemente, em tempos adversos, com a única diferença que, quando os tempos são maus e o trabalho escasseia, a seleção se faz mais escrupulosamente, pondo-se fora, para sempre, os incompetentes e os inaproveitáveis. É a lei da sobrevivência do mais apto. Cada patrão, no seu próprio interesse, trata somente de guardar os melhores – aqueles que podem levar uma mensagem a Garcia.

Conheço um homem de aptidões realmente brilhantes, mas sem a fibra precisa para gerir um negócio próprio e que ademais se torna completamente inútil para qualquer outra pessoa, devido à suspeita insana que constantemente abriga de que seu patrão o esteja oprimindo ou tencione oprimi-lo. Sem poder mandar, não tolera que alguém o mande. Se lhe fosse confiada uma mensagem a Garcia, retrucaria provavelmente: “Leve-a você mesmo”.

Hoje este homem perambula errante pelas ruas em busca de trabalho, em quase petição de miséria. No entanto, ninguém que o conheça se aventura a dar-lhe trabalho porque é a personificação do descontentamento e do espírito de réplica. Refratário a qualquer conselho ou admoestação, a única cousa capaz de nele produzir algum efeito seria um bom pontapé dado com a ponta de uma bota de número 42, sola grossa e bico largo.

Sei, não resta dúvida, que um indivíduo moralmente aleijado como este, não é menos digno de compaixão que um fisicamente aleijado. Entretanto, nesta demonstração de compaixão, vertamos também uma lágrima pelos homens que se esforçam por levar avante uma grande empresa, cujas horas de trabalho não estão limitadas pelo som do apito e cujos cabelos ficam prematuramente encanecidos na incessante luta em que estão empenhados contra a indiferença desdenhosa, contra a imbecilidade crassa e a ingratidão atroz, justamente daqueles que, sem o seu espírito empreendedor, andariam famintos e sem lar.

Dar-se-á o caso de eu ter pintado a situação em cores demasiado carregadas? Pode ser que sim; mas, quando todo mundo se apraz em divagações quero lançar uma palavra de simpatia ao homem que imprime êxito a um empreendimento, ao homem que, a despeito de uma porção de impecilhos, sabe dirigir e coordenar os esforços de outros e que, após o triunfo, talvez verifique que nada ganhou; nada, salvo a sua mera subsistência.

Também eu carreguei marmitas e trabalhei como jornaleiro, como, também tenho sido patrão. Sei portanto, que alguma cousa se pode dizer de ambos os lados.

Não há excelência na pobreza de per si; farrapos não servem de recomendação. Nem todos os patrões são gananciosos e tiranos, da mesma forma que nem todos os pobres são virtuosos.

Todas as minhas simpatias pertencem ao homem que trabalha conscienciosamente, quer o patrão esteja, quer não. E o homem que, ao lhe ser confiada uma carta para Garcia, tranquilamente toma a missiva, sem fazer perguntas idiotas, e sem a intenção oculta de jogá-la na primeira sarjeta que encontrar, ou praticar qualquer outro feito que não seja entregá-la ao destinatário, esse homem nunca, fica “encostado” nem tem que se declarar em greve para, forçar um aumento de ordenado.

A civilização busca ansiosa, insistentemente, homem nestas condições. Tudo que um tal homem pedir, ser-lhe-á de conceder. Precisa-se dele em cada cidade, em cada vila, em cada lugarejo, em cada escritório, em cada oficina, em cada loja, fábrica ou venda. O grito do mundo inteiro praticamente se resume nisso: Precisa-se, e precisa-se com urgência de um homem capaz de levar uma mensagem a Garcia.

*   *   *

Sobre esse texto, em 1913 o autor escreveu:

Esta insignificância literária, UMA MENSAGEM A GARCIA, escrevi-a uma noite, depois do jantar, em uma hora. Foi a 22 de fevereiro de 1899, aniversário natalício de Washington, e o número de março da nossa revista “Philistine” estava prestes a entrar no prelo. Encontrava-me com disposição de escrever, e o artigo brotou espontâneo do meu coração, redigido, como foi, depois de um dia afanoso, durante o qual tinha procurado convencer alguns moradores um tanto renitentes do lugar, que deviam sair do estado comatoso em que se compraziam, esforçando-se por incutir-lhes radioatividade.

 

A idéia original, entretanto, veio-me de um pequeno argumento ventilado pelo meu filho Bert, ao tomarmos café, quando ele procurou sustentar ter sido Rowan o verdadeiro herói da Guerra de Cuba. Rowan pôs-se a caminho só e deu conta do recado – levou a mensagem a Garcia. Qual centelha luminosa, a idéia assenhoreou-se de minha mente. É verdade, disse comigo mesmo, o rapaz tem toda a razão, o herói é aquele que dá conta do recado que leva a mensagem a Garcia.

 

Levantei-me da mesa e escrevi “Uma mensagem a Garcia” de uma assentada. Entretanto liguei tão pouca importância a este artigo, que até foi publicado na Revista sem qualquer título. Pouco depois da edição ter saído do prelo, começaram a afluir pedidos para exemplares adicionais do número de Março do “Philistine”: uma dúzia, cinquenta, cem, e quando a American News Company encomendou mais mil exemplares, perguntei a um dos meus empregados qual o artigo que havia levantado o pó cósmico.

 

– “Esse de Garcia” – retrucou-me ele.

 

No dia seguinte chegou um telegrama de George H. Daniels, da Estrada de Ferro Central de Nova York, dizendo: “Indique preço para cem mil exemplares artigo Rowan, sob forma folheto, com anúncios estrada de ferro no verso. Diga também até quando pode fazer entrega “.

 

Respondi indicando o preço, e acrescentando que podia entregar os folhetos dali a dois anos. Dispúnhamos de facilidades restritas e cem mil folhetos afiguravam-se-nos um empreendimento de monta.

 

O resultado foi que autorizei o Sr. Daniels a reproduzir o artigo conforme lhe aprouvesse. Fê-lo então em forma de folhetos, e distribuiu-os em tal profusão que, duas ou três edições de meio milhão se esgotaram rapidamente. Além disso, foi o artigo reproduzido em mais de duzentas revistas e jornais. Tem sido traduzido, por assim dizer, em todas as línguas faladas.

 

Aconteceu que, justamente quando o Sr. Daniels estava fazendo a distribuição da Mensagem a Garcia, o Príncipe Hilakoff, Diretor das Estradas de Ferro Russas, se encontrava neste país. Era hóspede da Estrada de Ferro Central de Nova York, percorrendo todo o país acompanhando o Sr. Daniels. O príncipe viu o folheto, que o interessou, mais pelo fato de ser o próprio Sr. Daniels quem o estava distribuindo em tão grande quantidade, que propriamente por qualquer outro motivo.

 

Como quer que seja, quando o príncipe regressou à sua Pátria mandou traduzir o folheto para o russo e entregar um exemplar a cada empregado de estrada de ferro na Rússia. O breve trecho foi imitado por outros países; da Rússia o artigo passou para a Alemanha, França, Turquia, Hindustão e China. Durante a guerra entre Rússia e o Japão, foi entregue um exemplar da “Mensagem a Garcia” a cada soldado russo que se destinava ao front.

 

Os japoneses, ao encontrar os livrinhos em poder dos prisioneiros russos, chegaram à conclusão que havia de ser cousa boa, e não tardaram em vertê-lo para o japonês. Por ordem do Mikado foi distribuído um exemplar a cada empregado, civil ou militar do Governo Japonês.

 

Para cima de quarenta milhões de exemplares de “Uma Mensagem a Garcia” têm sido impressos, o que é sem dúvida a maior circulação jamais atingida por qualquer trabalho literário durante a vida do autor, graças a uma série de circunstâncias felizes. – E. H.

 

 

 

East Aurora, dezembro 1, 1913

*   *   *

Saiba mais sobre esse texto:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Mensagem_a_Garcia

http://www.administradores.com.br/informe-se/artigos/mensagem-a-garcia/25870/

*   *   *

Nota: Há na Internet mais de uma versão do mesmo texto. Acredito ser questão de tradução e condensação em alguns casos. Não encontrei apócrifos. (Arnaldo)

Mude (Edson Marques) (e esclarecimento de MAIS UM APÓCRIFO ocorrido usando o nome de Clarice Lispector) (e outros babados fortíssimos)

Vocês sabem, em geral, não gosto – estou farto de certa forma – de textos de auto-ajuda com conteúdos diretivos: “faça isso”, “seja feliz”, “durma mais”, “sinta prazer”… Acho tudo isso um saco, falso, e obviamente, condicionante. Mas há um textinho diretivo que não deixa de ser interessante – talvez mais por sua história que pelo conteúdo. Escrito por Edson Marques, ele circulou e circula por aí como se fosse de Clarice Lispector. Uma grande agência de publicidade não chegou a autoria e usou numa campanha para a FIAT. O FILHO da Lispector deu uma de “João-sem-braço” e recebeu uma bolada de DIREITOS AUTORAIS(!!!), o comercial foi rodado, e… E aí que o VERDADEIRO AUTOR Edson Marques comprou uma briga que dura mais de dez anos na justiça para reverter toda essa mistura de confusão, malandragem e falta de apreço pela autenticidade das coisas. Segue aí o texto MUDE (talvez bastante apropriado nesta época do ano, onde muita gente se propõe a aproveitar o fim do calendário para fazer disso o fim de padrões, comportamentos etc.), com links para o caso. (Arnaldo)

MUDE

Mude, mas comece devagar.

Porque a direção é mais importante, que a velocidade.

Sente-se em outra cadeira, no outro lado da mesa.

Mais tarde, mude de mesa.

Quando sair, procure andar pelo outro lado da rua.

Depois, mude de caminho, ande por outras ruas,

calmamente, observando, com atenção, os lugares por onde você passa.

Tome outro ônibus. Mude por uns tempos o estilo de roupas.

Dê os seus sapatos velhos, procure andar descalço alguns dias.

Tire uma tarde inteira para passear livremente na praia ou no parque

e ouvir o canto dos passarinhos.

Veja o mundo de outras perspectivas.

Abra e feche gavetas e portas com a mão esquerda.

Durma no outro lado da cama. Depois, procure dormir em outras camas.

Aprenda uma palavra nova por dia numa outra língua.

Corrija a postura. Coma um pouco menos. Escolha comidas diferentes.

Novos temperos, novas cores, novas delícias.

Almoce em outros locais, compre pão em outra padaria.

Almoce mais cedo, jante mais tarde ou vice-versa.

Escolha outro mercado…Outra marca de sabonete, outro creme dental…

Tome banhos em novos horários.

Use canetas de outras cores, vá passear em outros lugares,

ame muito, cada vez mais.

Se você não encontrar razões para ser livre, invente-as, seja criativo.

E aproveite para fazer uma viagem despretensiosa,

longa, se possível sem destino.

Experimente coisa novas, troque novamente,

Mude, de novo. Experimente outra vez.

Você certamente conhecerá coisas melhores e coisas piores

do que as já conhecidas, mas não é isso que importa.

O mais importante é a mudança, o movimento, o dinamismo, a energia.

Só o que está morto não muda.

(Edson Marques)

*   *   *

Comentários (Arnaldo V. Carvalho)

COMENTÁRIO 1 – MAIS UM APÓCRIFO. Mais uma vez um texto atribuído à Clarice Lispector em quase tudo que é lugar na Internet; Lispector, que nunca publicou poemas… Pobre Clarice, sempre enfiada onde não tem a menor chance de estar. Sacanagem com o Edson Marques e em relação aos diversos casos semelhantes, com todos os autores contemporâneos, que permanecem no anonimato apesar de provarem haver capacidade para textos lindos e que nos tocam o coração.

COMENTÁRIO 2 – POBREZA HUMANA, INOCÊNCIA, “FODA-SE”  OU O QUÊ?: Me entristece perceber que as pessoas não conseguem identificar a não autoria de certos autores. Autores consagrados como Fernando Pessoa, J. Luis Borges e Clarice Lispector têm seus nomes emplacados em textos que JAMAIS poderiam pertencer a eles. Fico pensando que quem deixa passar batido esse fato deve ter o seguinte raciocínio em seu cérebro: “já ouvi falar do autor” > “ele é famoso” > “ele é bom” > “o texto é bom”. De fato desconhecem a maioria dos autores, menos ainda seu contexto de época, a linguagem geral utilizada naquele momento e lugar – para não ir tão longe a ponto da pessoa identificar as nuances que caracterizam os textos de dado autor… Não dá para dizer “o brasileiro é ignorante”. Isso ocorre em todos os países do mundo (embora eu consiga notar mais especialmente nas Américas – mas isso, penso, dever ser porque é o que nos chega). Posso pensar que o mundo lê mal, mesmo que leia muito (é só ver o caso do texto “Instantes” atribuído ao J. L. Borges – afinal argentino não tem fama de ler muito?). Se lê mal, mal percebe. Percebe mal seu entorno, seu ambiente, o OUTRO. Reich tem razão, a couraça do segmento OCULAR é o primeiro desafio a ser vencido na humanidade.

LINKS sobre apócrifos diversos e sobre o Escândalo do texto MUDE:

http://www.desafiat.blogspot.com/

http://veja.abril.com.br/090703/p_103.html

http://br.dir.groups.yahoo.com/group/masonline/message/5554?var=1

http://pensador.uol.com.br/frase/MTk5NDI0/

http://mude.blogspot.com/