Rita von Hunty

O Prof. Guilherme Terreri, conhecido por sua personagem drag Rita Von Hunty, é uma das pessoas mais inteligentes e interessantes que eu conheço. Ele mandou essa mensagem às portas do segundo turno, mas eu a considero ainda totalmente válida.

Aproveito para adicionar um vídeo de cinco minutos da Von Hunty. Esse já é velho mas se você não viu, veja.

Porque não faço L mas voto 13 no dia 30

Porque “não faço L mas voto 13” no dia 30.

(Por Arnaldo V. Carvalho*)

Não será um textão. Quem já me acompanha vai ler agora, em um parágrafo curto, uma síntese de tudo o que repito há anos:

Nunca votei e sempre fui um crítico aos governos de Lula (2003-2011), e definitivamente não sou um “lulista”. Mas divergir de um projeto nacional é muito diferente de protestar contra a ausência de um projeto, ou de não admitir a presença de um projeto fascista de estado (ou com características fascistas). Por essa razão (e outras), em 2022 meu voto é 13.


Quem tiver paciência, pode ler uma “expansão” dessa ideia e conhecer minimamente a minha condição e posição política. Estou colocando isso aqui porque é primeira vez que eu declaro meu voto publicamente – a despeito de ter me esforçado, nas últimas eleições, para ajudar quem me lê na direção de um voto consciente sem oferecer qualquer endereço a quem votar.

Histórico (d)e algumas convicções políticas

  1. Meu histórico de votos em Lula: Nunca havia votado, e sempre fui um crítico aos governos de Lula (2003-2011). Minha crítica não começou quando veio a onda de escândalos de corrupção (cujas reais conexão para o o então presidente nunca foram bem esclarecidas). Ela é mais antiga, simplesmente porque discordo das direções que ele considera as melhores para o país. Essa crítica não me faz negar os progressos sociais evidentes de sua gestão (bem como os progressos não me fazem ignorar a manutenção da concentração de renda).
  2. Meu histórico como (NÃO) militante por pessoas ou partidos: Aliás, podem buscar e não verão eu fazer propaganda ou defender político específico nenhum ou partido específico nenhum. Nem sou muito de declarar voto. Mas é claro que estou sempre observando as posturas e atitudes coletivas dos partidos e seus representantes, e as estatísticas mostram que, no geral, alguns partidos e suas pessoas propõem e votam em pautas com as quais identifico serem melhores para as pessoas do que outros.
  3. Se sou “de esquerda” ou de “direita”: É comum que amigos e conhecidos “de esquerda” me achem “à direita” e os de direita “me achei de esquerda”. Eu não me reconheço como parte dessas posições, porque a coluna de valores que são colocadas como identitárias (ou seja, o que faz alguém sentir pertencimento em relação à “esquerda” ou “direita”) são, no mais essencial, as mesmas (talvez por desconhecimento da maior parte das pessoas acerca da origem dessas palavras e como se construíram sistemas de valores associados a uma ou a outra). Eu quero paz, segurança, educação, respeito, honestidade, amor, quero ter voz e ser escutado, e quero isso para TODAS as pessoas e para a natureza. Isso é ser o quê? Esquerda ou direita?
  4. Capitalismo ou socialismo: é tão simplista dividir o mundo e os diferentes sistemas econômicos desse jeito! Resumo minha posição com o que sempre digo a todos há muito tempo: em uma sociedade ética, qualquer sistema serve, porque sempre se criará mecanismos de justiça social e equilíbrio econômico, e todos terão seus espaços e dignidade garantida.
  5. Quando voto não penso apenas em mim ou minha realidade: combato o que para mim é um falha na consciência política de muita gente. Há quem se candidate, e há quem vote, dirigindo-se a pautas que apenas a eles interessa. Surge o “Fulano do bairro”, o “Ciclano do SUS”, a beltrana da “igreja”. Que pese seja legítimo a qualquer cidadão – inclusive os que se fazem candidatos – se sentirem mais envolvidos com/por certas causas e menos por outras, ainda assim, há que se fazer um esforço de olhar o todo. Se não dirigirmos nosso poder de voto com esse fim, mesmo sem querer fomentamos desigualdades, porque se todos pensam em suas pautas “e fim”, as minorias serão sempre esmagadas e estaremos condenados a viver sempre em flerte com fundamentalismos, totalitarismo e intolerância. Por isso sim, especialmente nas esferas executivas federais, sou mais a favor quanto mais um candidato tenha um pensamento integrador, onde todos possam ter voz.
  6. Tamanho da economia desconsiderando concentração de renda é uma das maiores balelas utilizadas no Brasil: aqui não salvo ninguém. Há uma clara disputa de narrativas sobre crescimento econômico, tamanho do PIB etc. O silêncio por trás é termos a segunda concentração de renda mais violenta do planeta (perdemos apenas para o Qatar). Ou seja, a posição no ranking econômico, o tamanho do crescimento etc., não muda de fato a realidade de 99% das pessoas caso a concentração permaneça aumentando. É a conta mais fácil do mundo de fazer. Eu tenho 90 pedacinhos de qualquer coisa, outra pessoa tem 9 e outras 98 tem que dividir um pedacinho. Entrou mais 100 pedacinhos. Se mantemos a concentração (pior é se aumentasse), quantos pedacinhos a mais eu (dos 99 pedacinhos) vou ter, o sujeito dos 9 pedacinhos terá, e os outros 98 terão? Há quem acredite que “mesmo assim os 98 aumentarão em 100% seu ganho, tinham 1 pedacinho agora tem 2). É um discurso real, há quem de fato defenda isso! Como há quem (e aí acho que é a maioria) acha incrível discutir tamanho da economia ou crescimento econômico… Precisamos é de desenvolvimento, que leve a uma mudança desse quadro que para mim é simplesmente perverso.
  7. Diferença entre divergir e não admitir: Divergir de um projeto nacional é muito diferente de protestar contra a ausência de um projeto, ou de não admitir a presença de um projeto fascista de estado (ou com características fascistas).

O 7×1 de Lula sobre B ou Critérios de análise que usei para essas eleições em particular

  1. Utilização de fontes oficiais: há tempos eu só aceito como informação analisável a imprensa oficial (com todos os seus problemas, ela ainda é a mais fiscalizada, e composta de maior número de jornalistas formados), e dados emitidos por instituições reconhecidas. Eu sempre comparo as fontes de informação, inclusive com uso de fontes internacionais. E uso também iniciativas oficiais de fact-checking. Opiniões pessoais, canais do Youtube, etc. são ignoradas, à exceção da proveniente de autoridade reconhecida: por exemplo, um doutor em economia que dá aulas em uma instituição pública possivelmente terá uma análise dele ouvida por mim. O influenciador digital não tem qualquer chance comigo. É muito difícil para alguém que utiliza estritamente este tipo de fonte não enxergar vantagens de se votar em L em relação a B.
  2. Comparação de administrações federais entre os candidatos: É estranho, pois estamos votando não em propostas de governo, mas em dois modelos pré-experimentados. Independente da amoralidade e do discurso do ódio do presidente atual e de seu grupo, sua administração foi ruim nas mais diversas áreas, e qualquer comparação estatística é capaz de mostrar que entre esses dois governos (o de Lula entre 2003-2011 e o de B. 2018-2022), o primeiro foi muito, mas muito melhor para a grande maioria da população. Sem detalhar todas as comparações, apenas focando no perfil técnico dos ministros para pastas de alta importância como saúde, educação e meio ambiente, vê-se que em Lula havia gente com total relação com as áreas para quais ocuparam os cargos. Já no caso do governo B as indicações eram totalmente políticas. Esse é só um pequeno detalhe no todo de problemas administrativos que começam na incompetência e terminam em vilanice, em vários casos.
  3. Comparação do histórico na política nacional: B ficou 28 deputado pelo Rio de Janeiro, tudo o que sei que ele votou votou diferente de mim, tudo o que discursou eu discordei, e ele no final das contas não conseguiu apresentar mais do que dois projetos de lei nessas quase três décadas? Para mim isso já é eliminatório. Para não falar de “como tudo começou”. Mas será que a trajetória de L é passível de eliminação? Não. Ele liderou o movimento operário durante a ditadura, ajudou a formar um dos mais importantes partidos brasileiros, foi ativo nas Diretas Já, como deputado federal (mais votado da história até então), participou ativamente da Constituinte e levou para a câmara cinco projetos relacionados a reposição salarial (em apenas quatro anos de mandato). No mínimo sua coerente trajetória demonstra liderança, proatividade e merece respeito.
  4. Sobre a corrupção versus decisão de voto: Em relação à corrupções (no plural), vejo que o brasileiro pode escolher três formas de julgar os políticos, e os dois primeiros são: “todos são corruptos” (e se assim for o critério de voto nem pode ser esse); “apenas um lado é corrupto” (essa é uma tomada de posição que desqualifica a possibilidade de um voto consciente, já que há evidências de corrupção de grande escala em diversos governos). Uma terceira possibilidade, que é a que sigo, é de não me considerar dono da verdade, nem um especialista em direito (eu não sou), e ir atrás das acusações, processos e resultados e suas pessoas. Não havendo competência para avaliar as nuances do juridiquês (também meu caso), ao menos ir ler o que dizem os especialistas, juristas profissionais, etc., buscando preferencialmente mais de um posicionamento. Se você fizer isso em relação aos diversos casos de corrupção e improbidades administrativas, pensará duas vezes entre simplesmente taxar Lula de ladrão e chamar B. de “mito”. Aliás, poderá desconstruir e reconstruir grande parte das imagens idealizadas de heróis e vilões por trás das figuras políticas.
  5. Olhe para o campo: Há anos recomendo que compreender a política nacional é olhar para o campo. E infelizmente, em meu pequeno círculo de amizades, poucos olham. Quando eu digo isso, estou sim falando de meio ambiente e ecologia, mas não simplesmente. O ponto é que o campo (e as florestas) detém a maior concentração de poder no Brasil. O campo tem forte mentalidade armamentista, do plantation a base de agrotóxico, da boiada que passa e destrói, das relações estéticas com um modo de vida hiperhierarquizado e que não respeita vidas e suas diferenças. O campo não consegue entender a importância de transitarmos para uma sociedade mais industrializada com tecnologia própria, e por isso não oferece os devidos incentivos às ciências. É o campo quem elege boa parte dos poderosos que acreditam em um projeto de nação de “discurso único”. É o campo quem faz boa parte do dinheiro do país, e ao mesmo tempo concentra cada vez mais renda. É por isso que todos os candidatos no primeiro turno flertaram com o agro. Quando olho para os detalhes no modo de lidar com os poderosos do campo, no entanto, vejo diferenças significativas entre os dois governos. Há uma tentativa clara em Lula de se negociar espaços vivíveis para uma população “não poderosa”, e a contrapartida é uma política externa que sempre foi muito favorável aos mega empresários. B. nunca se interessou por qualquer tipo de negociação nesse sentido. sequer.
  6. Discurso de ódio, apologia à ditadura, misoginia, etc. e tentativas de legitimar tais discursos e práticas: Isso nunca saiu da boca do Lula e está no plano do inconcebível em relação a qualquer candidato à qualquer posição pública onde eu tenha o direito de opinar através de meu voto.
  7. Mentiras e redes de fake news: estudos e investigações jornalísticas, acadêmicas e de instituições de proteção à transparência, lisura das eleições (incluindo o TSE), dentre outras mostram o quanto Bolsonaro é incomparavelmente o maior mentiroso da história, e o quanto a rede que seu grupo montou em torno de fake news construindo uma “realidade paralela” difícil de descontruir uma vez que a pessoa tenha entrado nela. Outro critério desclassificatório contra B, e ainda mais perverso, pois enreda pessoas em uma rede de distorção de fatos, reversão de valores e manipulação extrema. É quase inacreditável que não hajam leis nacionais e internacionais que prevejam um combate mais inteligente e incisivo à tais práticas. Nesse sentido, também não dá para comparar a qualidade de falas dos dois candidatos nem a diretiva central das duas candidaturas e suas estratégias nas redes. (Repito: a quem está me lendo nesse momento e acha que sou eu o iludido, me procure em particular e vamos trocar fontes de informação e analisar friamente os discursos. não dá para ter preguiça de ler ou estudar em decisões que afetam nossas vidas)
  8. O fato de eu ter várias discordâncias e cobranças em relação a Lula (e parte de seu grupo), seus governos e atitudes relacionadas à própria candidatura: A história é longa, e nesse momento em que declaro voto a ele, já digo que vou dele cobrar tudo o relacionado às minhas históricas críticas ao governo Lula 2003-2011. Também fique claro que sim, coloco na conta dele, seu grupo e estratégias eleitorais uma série de pontos (outra longa história que sim vou expor em algum momento minha visão). Mas vale frisar que este “voto contra” não tem origem de qualquer mérito da parte do outro candidato (que se eu for expor o mesmo nível de discordância “fora tudo” o que já mencionei, de novo perde pro Lula, e aí é “8×0”. Em outras palavras, no 7×1 dessas eleições o “x1” é também um gol (esse contra) de Lula.

* Arnaldo V. Carvalho, eleitor, escritor, terapeuta e professor em saúde natural, pedagogo, mestre e doutorando em educação.

“Acredito que ter um caminho espiritual não nos isenta de nossa responsabilidade humana”.

Não conheço ninguém desse grupo, quem foi o proponente ou o autor do texto da leitura coletiva feita no vídeo. Mas gostei muito do posicionamento por parte daqueles que buscam se tornarem pessoas melhores a cada dia e tem pelo visto o Amor e o conhecimento como chave principal em suas práticas, técnicas e saberes. Corajosamente, o grupo saúda a ciência, protesta contra o negacionismo, acolhe a censura psicológica daqueles que estão calados (inclusive) porque temem os julgamentos e chamam para a realidade, para a ruptura do silêncio e um re-posicionamento no mundo frente a todo o desrespeito a ocorrer no cenário político atual.

É muito importante que esse “mundo nova era”, ou “zen”, “bichogrilo” etc. abandone a característica “isentona”, como se fosse coerente simplesmente fingir o que não está acontecendo, como se fosse bacana criar uma “bolhinha paradisíaca” e lá ficar, enquanto a Vida está sendo implacavelmente atacada.

Afirmar responsabilidade humana foi um ato para lá pé no chão! Estou com eles! Me representam!

Minha gratidão aos autores e participantes do vídeo – torço que algum deles se comunique para eu poder colocar os devidos créditos aqui no blog!

Um jeito de definir o voto

O ambientalista e professor Carlos Eduardo Aguayo Reis, a quem tenho a honra de chamar de amigo, há anos milita por uma maior consciência na hora do voto. Ele criou uma cartilha neutra, que ajuda o eleitor a pesar suas convicções entre os candidatos, ajudando no processo decisório.

Estou disponibilizando aqui os dois materiais do Carlos para todos os que queiram votar sem pesos de consciência. (Valeu Cadu!). Para quem já se posicionou de modo firme, é inútil. Mas pode ser bem útil para quem não acompanha política e quer votar certo – no ponto de vista de votarem em candidato que de fato se alinhe às próprias ideias, ao que acredita, ou para aquele que quer revisar e ter mais certeza de quem merece seu voto. Mais democrático impossível.

OBS: A cartilha não exime o eleitor de pesquisar, pelo contrário, ela traz questões e cria um sistema de peso daquilo que o próprio eleitor considera prioritário. Pode dar algum trabalho, mas ela não é chata de fazer. É excelente!

Cartilha Eleições Presidenciais 2022

Cartilha do Eleitor Consciente – como funciona

Ensino de história x doutrinação

Leiam em:

https://www.cafehistoria.com.br/professores-e-professoras-de-historia-sao-mesmo-doutrinadores/


Citando:

CARVALHO, Bruno Leal Pastor de; MULLET, Nilton. Professores e professoras de história são mesmo doutrinadores? (Artigo) In: Café História. Disponível em: https://www.cafehistoria.com.br/professores-e-professoras-de-historia-sao-mesmo-doutrinadores/. Publicado em: 27 jul. 2021. ISSN: 2674-5917.

É projeto.

– É projeto.

– Não, para. Apenas uma terrível coincidência. De fato o incêndio do Museu Nacional é algo triste, mas daí a dizer que é projeto? Não.

– É projeto.

– Olha só, isso não tem nada a ver. Foi comprado medicamento mas a imprensa quer desacreditar. Além disso tem muita coisa aí que tem sido plantada pelos comunistas. Genocidas são eles!

– É projeto.

– Querem colocar a culpa em quem? Os indígenas nem eram para estar ali.

– É projeto.

– Nada a ver. Os fazendeiros agora tem o direito de proteger suas terras e o governo só quis enaltecer esse benefício. Você não defenderia seu lar se pudesse?

– É projeto.

– Cinemateca? O que é isso?

ESTAMOS VIVENDO UM INTERMINÁVEL PROJETO DE 4 ANOS.
4 ANOS DO DIA DA MARMOTA ASSASSINA, TODOS OS DIAS.
FREIEM O MONSTRO. QUEBREM A MALDIÇÃO. VOTEM DIFERENTE.
ARNALDO V. CARVALHO

Por que estou animado com as eleições 2020

Eleições 2020, o direito à informação e ao voto consciente – RBA

Estou animado com essas eleições de hoje, como há muito tempo. Acredito que a desgraça das fake news foi combatida (não resolvida mas combatida) e terá menos peso do que na votação em 2018. Isso reverterá em votos melhores, principalmente nas cidades “sem um dono” (como aquelas cujos candidatos, já prefeitos, dominam os meios de comunicação locais).
Na cidade do RJ, há bons sinais de que teremos uma relativa renovação. Não será a super ideal, mas para um povo que recebe vinagre no lugar de água neste governo que agora FINDA, estamos melhor.

O cenário é desafiador no executivo, e provavelmente teremos o ganho de tirar o Crivella e a perda de colocarmos o Paes. Mas ainda há chance, logo atrás há duas mulheres em condições de disputar e quem sabe, se apoiam no próximo turno para uma virada espetacular. Não são as mulheres que queria, não são tão melhores que o Paes para mim. Mas assumem outros modelos e representam outras gentes. O fato é que, somado à terceira candidata, fora do páreo, representam um fortalecimento da força do feminino na disputa, especialmente por parte daquela que não aparece com chances. Aliás, a candidata do PSOL, Renata Souza, deputada bem votada em 2018, está pela primeira vez na disputa, vencendo um histórico longo de candidatos homens neste partido. Os partidos que procuram representar mais a maior parte da população e menos as elites demonstra que estão amadurecendo e fazendo boas escolhas.

Mas minha alegria maior é com o pleito disputado por uma grande quantidade de não políticos de carreira. Há nomes sérios em todas as legendas razoáveis (ou minimamente decentes), e isso muito me alegra.
A esperança é de que tenhamos uma grande renovação da Câmara dos Vereadores. Isso muito me anima, inclusive porque uma câmara forte, torna o Rio menos sujeito a desmandos do prefeito.

Quem ainda está indo votar, desejo luz à sua escolha! (Arnaldo)

Refutando a Filó

REFUTANDO A FILÓ

(Arnaldo V. Carvalho)

Corre nos meios eletrônicos um texto de frases curtas atribuídas à “Dra. Filó”. De fácil sedução, possui diversos pequenos componentes ideológicos, que comprometem os pensamentos gerais com alguma importância. Me chamou atenção que tenha sido repassado a mim por pessoas esclarecidas. Eles não perceberam as entrelinhas. Viram o geral, se identificaram com questões que são mesmo fundamentais na criação de filhos (limites, comunicação, verdade, superficialidades, necessidades, etc.), presentes no texto, mas não chegaram a uma análise mais profunda do que ali está. É complicado mesmo. Afinal, o texto foi escrito para elas: uma classe média que tem capacidade de oferecer objetos caros aos filhos, como celulares e televisão no quarto, que recebe influências conservadoras das instituições que lhes perpassam, e que hoje trabalha muito, tem seus filhos e encontra imensa dificuldade de dedicação a eles, por uma série de razões que se combinam e geram muita angústia.

Com a corrida do dia a dia, a enxurrada de informações criam vulnerabilidades a esse tipo de armadilha textual… É compreensível. Lê-se as palavras chaves, aprova-se o que se avaliou superficialmente como compatível com os próprios pensamentos, e repassa-se sem muito mais.

Aí vem o chato aqui, leitor lento por natureza, crítico semi-permanente, e habituado a caçar apócrifos, mensagens subliminares e tendenciosismos, para frear minimamente a viralização do conteúdo sem um filtro mínimo. Alguns amigos acham inútil (“já circulou, já era”). Eu sigo matando a baratinha e acreditando que, mesmo tendo pisado em uma só, posso ter evitado muitas que viriam daquela.

Abaixo, vai o texto em questão, e em seguida, a minha análise, frase a frase:

Extratos da palestra da Dra. Filó, pediatra, em BH.
13/3/2019

"Rio só existe porque tem margem.
A criança só será um adulto completo se tiver limites".

Criança tem que ser monitorada.

Mãe tem que ser chata.

Filho só pode ver aquilo que é próprio para a idade dele.

Filho não pode ver aquilo que está além da sua capacidade de compreensão.

Tome a frente das regras da sua casa.

Criança não dorme com celular no quarto. Recolha. Vigie.

Criança tem que dormir com tranquilidade.

Quarto não tem que ter televisão. Quarto é para dormir.

Não compare a casa do outro com a sua.

Na sua casa você tem que cuidar da integridade mental dos seus filhos.

Criança não fica trancada no quarto jogando.

Filho tem que 'socializar', tem que ver, estar com pessoas. Corpo a corpo. Olho no olho.

Criança que é rejeitada por outros tem uma tendência a buscar redes sociais. Cuidado. Isso pode causar dependência.

Precisamos ter a coragem de olhar para a vida dos nossos filhos.
As coisas acontecem debaixo dos nossos olhos. 
Criança é esperta, mas temos que ser mais ainda. Pai e mãe têm que estar perto.

Criança não tem que ter senha.

Essa tal de privacidade é só quando eles saem de casa, só quando pagam as próprias contas.

O celular do filho não pode ser igual ao do pai. 
Tem que haver hierarquia.

Cada mãe conhece o filho que tem. Mãe, no fundo, sabe o que está acontecendo com o filho. Não ignore suas sensações como mãe. 
Elas são verdadeiras. 
A mãe não erra o diagnóstico. Confie nos seus sentimentos de mãe.

A missão como pais é muito maior do que podemos imaginar. 
E não é uma missão fácil.

Mais do que dar coisas, se dêem a seus filhos.

Questione seus filhos. Pergunte! Vigie! Investigue!

Existem muitos e muitos distúrbios psiquiátricos na infância.

O segredo da prevenção é família e amor.

Criança tem que ser amada.

Filho vai tentar se impor. Mas regras devem existir. 
Tem que haver respeito. 
Tem que haver hierarquia.

Filho tem que desejar! 
Tem que querer ganhar alguma coisa! 
Tem que esperar ansiosamente pelo presente.

As coisas não são descartáveis.

Coloque na vida do seu filho que somos criadores, que vamos criá-los e que temos sonhos para eles.

Que a vida tem que ter sentido, além do dinheiro, do poder e de todas as possibilidades.

Que a vida os desafiará, mas a vida não encerra. 
Cuidado!

O que os filhos trazem para o mundo é o que plantamos neles.

Estimule-os a serem verdadeiros. A verdade abre caminhos.

Converse. Incansavelmente.

Temos que nutrir a confiança.

Olhe para os seus filhos e entenda o que eles precisam."

Mande para todos seus contatos... Formação das crianças brasileiras.

Aqui vai a radiografia comentada do texto em questão, linha por linha, e depois no encadeamento ideológico geral. Que seja útil, e que possamos refletir sobre o texto com tempo. (Arnaldo).

_”Rio só existe porque tem margem. A criança só será um adulto completo se tiver limites”._

Eu acho que todo mundo concorda com isso, limites são vitais na estruturação humana. Mas diferentes origens dos limites na criação/educação causam diferentes consequências, de modo que, se esta fonte de limitação e seus modos de agir não estiverem bem delimitados, é possível criarmos uma noção superficial que incorra a erros, do radicalismo, à modos de educar neurotizantes. A metáforas que alude à natureza para simbolizar a natureza humana, nesse sentido, não funciona a contento. Quem dá limite ao Rio é a natureza, quando falamos dos limites humanos, onde está a natureza cumprindo seu papel? Vivemos em uma sociedade apartada da natureza e isso força artificialmente que os limites sejam oferecidos. Então temos humanos dando limites a humanos. E a forma com que esses limites são criados não são quase nunca na forma de oferta, mas com base em imposição em contextos bastante neuróticos/neurotizantes. Quanto a isso preciso explicar uma coisa para vocês, chamada “elemento frustrador”. Faz MUITA diferença QUEM frustra uma criança. E frustração é outro nome para o que dá contorno e limite, no começo. Para de frustrar depois que a margem está definida, porque a energia (pensamentos, sentimentos, ações) encontra outro caminho para fluir. O elemento frustrador não deve ser apenas uma pessoa o tempo todo. Não deve ser o tempo todo uma voz humana. A frustração tem de vir também daquilo que não tem cara nem boca nem braços. Tem de vir do cair no chão porque tentou andar no meio fio, do susto que tomou ao querer desafiar o mar, da coisa errada que resolveu botar na boca e doeu. O limite também tem que vir das experiências de viver e se frustrar, e receber em seguida orientação, cuidados, etc. As crianças não podem mais viver isso, e talvez para muitas o que salve é a bronquinha que tomam de um eventual irmãozinho canino. Da importância dos limites e do equilíbrio entre o sim e o não ninguém tem dúvida. Mas é preciso compreender como estão sendo vividas tais experiências nos dias de hoje.

Outra coisa: um texto que chame a atenção das pessoas responsáveis quanto à questão dos limites deve oferecer soluções concretas e viáveis aos seus leitores. Primeiro porque muitos foram crianças já criados com muitas ausências de contato com os pais, o que implica também nessa falta de limites. Então por vezes eles nem sabem por onde começar. Segundo porque é preciso resolver a necessidade (mental, material, etc.) dos desses responsáveis, caso precisem trabalhar o dia inteiro o tempo todo. Senão, o discurso passa a ser só um ingrediente a mais para a culpa que tantas mães e pais hoje carregam. O que só prejudica ainda mais essas relações de criação. “Dê seu jeito” é jogar na piscina para ver se nadam… Alguns pais até conseguirão, outros ficarão ainda mais frustrados, e podem ter certeza, transmitirão isso aos filhos, que não vão mesmo querer saber de ter os seus (uma escolha que não teria problema, caso não fosse por esse motivo).

_Criança tem que ser monitorada._

Me pergunto como um cidadão do século XIX se sentiria ao ler os dizeres “sorria, você está sendo filmado”, ou caso a ele fosse apresentado um concurso onde as pessoas que não se conhecem morariam por um tempo numa casa no centro da cidade toda feita de paredes de vidro, de modo que todos pudessem vê-los. Me pergunto como se sentiria uma mãe indígena a ver o parto de uma irmã sendo exibido na tela de um cinema no hospital, com direito a zoom e close na perereca? E como a parturiente se sentiria ao saber dessa exposição? São tempos e realidades onde imagino questionarem: que tipo de gente seria essa que se permite a esse nível de monitoramento?

Criança tem que ser monitorada sim, mas não o tempo todo. Não é honesto com ela nem com os pais. É paranoico. Criança tem que ter certeza de que as vezes fica sozinha e pode ficar sozinha. Pode dormir sozinha. Pode mexer nas genitais. Pode fazer uma arte também que as vezes provocará irritações sim. E as vezes o contrário. Pode também, nesses momentos, aprender até a concertar o que fez. E pode criar surpresas verdadeiras para os pais, que só se surpreenderão se permitirem. Ter momentos de privacidade na infância é o cultivar de um sentido que mais tarde se revela em identidade própria, em relação de confiança mútua para com quem delas cuida.

Legitimar esse pensamento sem critérios de bom senso é se aproximar de uma ideologia autoritária e nociva.

_Mãe tem que ser chata_.

Mãe não tem que ser chata. Primeiro porque é sacanagem com a mãe, atribuir a tal chatice só à mãe e eximir o pai de sua co-participação na educação (eu entendi Dra. Filó, você quer dizer: não pode ter medo de dizer não e de dar limite – mas mandou mal, sabe). A frase também evidencia a desconsideração que a família mononuclear do ponto de vista da criação de filhos, não é um modelo sábio. Crianças precisam de crianças e o revezamento de mais adultos facilita muita coisa o processo. Então a frase também reforça e legitima a regra de uma criação solitária ou semi-solitária. Eu torço que a gente consiga avançar social e relacionalmente para um outro patamar, em que haja maior alinhamento parental, e se possam viver regimes de criação mais coletivos, com creches parentais parceiríssimas das escolas. Melhor: tudo uma coisa só, e com regime de vizinhança física presente. Algumas ecovilas estão vivendo isso, e a gente precisa aqui na cidade grande saber que dá certo, e sim podemos tentar isso aqui. E terceiro, uma coisa é o ato chato, outra é a pessoa chata. Pode ser chato frustrar e ser frustrado. Mas isso não resume ou conclui o que é ser mãe. Ser mãe, ser pai, ser responsável por criança(s) pode ser MUITO LEGAL PARA TODOS OS LADOS! A frase desencoraja a qualquer jovem não mãe a ser mãe. Ninguém quer ser chato, ou visto como chato, embora seja possível peitar certas coisas chatas de fazer de vez em quando.

_Filho só pode ver aquilo que é próprio para a idade dele._

Qual é a idade de ver o que? O corpo do vovô no caixão? A mamãe chorando porque brigou com o papai? O mendigo nu a apontar o falo para as pessoas na rua (e ao expor seu calamitoso estado denunciar o escândalo que é a própria sociedade)? O batalhão do BOPE com seus fuzis para fora da janela do carro indo para uma operação na favela ao lado de casa? O prefeito, o governador ou o presidente falando? Os tios discutindo os rumos que a vida coletiva está tomando?

Ah, você deve estar falando de TV e Internet né… Entendi. Então devemos confiar no que os censores do governo determinam? A criança pode ver Tom&Jerry ou Pica-pau “masocas”, ou a propaganda da Barbie “você pode ser tudo o que quiser?”. Dificilmente a criança não pode ver aquilo que já não seria impróprio para todos os adultos. Ninguém deveria assistir diariamente assassinatos cruéis e crimes sem fim, relações conflituosíssimas de todos os tipos.

Nós temos que discutir melhor o que é ou não para ser visto, baseado numa percepção real de impactos subjetivos e objetivos em curto e longo prazo. Até porque talvez isso varie muito de uma criança para outra. Assim, decisões sobre o que assistir ou não precisam atender mais as individualidades e serem menos ideológicas, e mais apoiadas em ciência. 

Temos que discutir essas visibilidades do mundo e também as invisibilidades. 


_Filho não pode ver aquilo que está além da sua capacidade de compreensão._

Então filho não pode ver uma obra de arte porque não a entende? Ou com frases dúbias se deseja dizer criança não pode ver sexo? Ou não pode ver política porque não tem condição de opinar? Será que você está tentando cooptar as pessoas para que elas apoiem o “escola sem partido” deixem de ouvir os professores para terem a mente menos pronta para resistir à doutrinação autoritária disfarçada de liberal?

Você não é inocente Não pode estar dizendo com essa frase que não criança não pode ver cubo mágico sendo feito, não pode ver uma mesa de resolução de problemas, não pode ser levado ao observatório para ver as estrelas… Por que não compreende? Não, você não está falando disso.

Aliás, como se compreende aquilo que não se compreende sem que se veja? O que você acha que a criança faz com o que não compreende? Fica um registro. E não é registro morto não: é registro em processo. Está lá na pessoa e subsidiará entendimentos mais complexos posteriormente. Os registros não compreendidos são Koans mentais, quebra-cabeças incompletos aguardando as demais peças. É assim que se encontram respostas, se tomam atitudes e se formulam novas perguntas. A senhora não deve ter estudado sobre registros e sobre memórias né Doutora?

Talvez esteja preocupada com registros negativos, traumas e complexos… Deixa eu dizer como um trauma se estabelece: não tem só a ver com o que aconteceu, não. Tem a ver com o quanto a psique é capaz de expressar e elaborar. Sabe qual é o jeito mais seguro e infelizmente o mais raro para isso acontecer? Com uma qualidade de vínculo com alguém tal que a pessoa sinta no seu mais íntimo que pode diante dela expressar o que houve, comunicar o que houve, elaborar o que houve. Era para todo mundo ter essa pessoa até ficar um pouco mais velha e a pessoa poder partir. Mas é raro porque os pais assimilaram o projeto de terem uma vida própria – o que é mesmo fundamental – e como não tem opção tiram do tempo com filhos o tempo para fazerem isso. O resultado é escassez e incompetência relacional. Sou melhor não. Faço isso também. Mas compreendo que a gente tem que desconstruir que isso que a sociedade oferece é normal, é natural ou é saudável. Não é nada disso. O começo é estudar, ouvir os estudos, colocar em discussão, exigir que haja tempo para haver essa pauta nas falas e mesmo nas leis.

_Tome a frente das regras da sua casa._

No documentário sobre o Edifício Master, o então síndico afirma que na resolução de conflitos, tenta Piaget, e quando não dá certo ele vai de Pinochet. Aquilo que é brincadeira é muito sério porque fala da desistência da democracia (“o ideal”) para a adoção autoritária como saída. De novo, eu também ajo assim muitas vezes. Especialmente quando represento “a ordem”. Especialmente, a ordem do relógio: “olha o atraso”, “já está tempo demais”, etc. Mas quer saber? Somos melhores que isso. Merecemos ter mais tempo para não precisarmos de tantas regras. E mais do que isso, precisamos de mais tempo para oferecermos mais escuta e participação dos pequenos. Se cobramos tanto dos governos, se desejamos democracia, precisamos começar. Então a cobrança aqui é para que possamos ter um reconhecimento justo do que damos para o mundo, para haver tempo disso se estabelecer. Relações mais horizontais, sabe? 100%? Não, não dá. Não dá para esquecer que nós temos décadas e as crianças menos de uma. Faz diferença. Mas não dá para acreditar que elas não tenham direito a voz e a voto. Em Summerhill, a escola inglesa que briga com o mundo por não aceitar se submeter aos ditames do que se considera “a boa escola”, todos os alunos, do pequenote ao adolescente tem semanalmente uma reunião. Todos sem exceção tem um voto cada. Com o mesmo peso do voto de cada um dos professores, e com o mesmo peso do voto dos funcionários todos. Todos tem um voto. O resultado é surpreendente, e não se pode mais dizer que é uma situação “experimental”: afinal de contas, a escola já tem oitenta anos de vida funcionando assim! (empresto livros sobre, para quem quiser).

_Criança não dorme com celular no quarto. Recolha. Vigie._

Você está supondo que criança tem celular. Criança nem deveria ter celular. Aliás, as sociedades de pediatria do mundo todo alertam dos perigos do uso de telas, especialmente na primeira infância. O uso de eletrônicos deve ser visto com muita cautela. Mas, como falei do “que não pode ser visto por eles não deveria ser visto por nós”, guardadas as devidas proporções, também aqui se aplica a lógica: todos nós deveríamos usar as telas eletrônicas por um número limitado de horas/dia. Mas tente nos dias de hoje? Criou-se um mecanismo onde estamos dependentes, por mil motivos. Mais um problema para enfrentarmos e cobrarmos. Queremos segurança nas ruas para não ficarmos ligando e vendo se nossos parentes já chegaram em casa. Queremos que o banco pague por seus computadores e funcionários para que efetuem os serviços que paguei para ter. Queremos ter viabilidade de ir e vir para não ser tão atrativo jogar pelo computador porque o trânsito faz os amigos do bairro vizinho parecerem distantes. Queremos, aliás, ter praças e muitos outros equipamentos de lazer e encontro. A solução que estão nos dando – o mundo virtual – está sendo mais nociva do que se pensa.

_Criança tem que dormir com tranquilidade._

Todos nós né?

_Quarto não tem que ter televisão. Quarto é para dormir._

Ah, entendi. Uma frase curta correta acima para se vincular a essa outra aqui abaixo. Eu sou contra também, sabe Dra.? Mas não tenho dúvidas de que a TV é ligada quando não há algo mais atrativo. E aí a gente volta para a necessidade de espaço, ar livre e segurança para tudo isso… Tendo essas coisas, a TV fica beemmm menos perigosa, sabe? Mas tem razão. Nesse esquema de vida que a gente leva, melhor não ter.

_Não compare a casa do outro com a sua._

Agora já fiquei implicante. Você solta uma frasezinha para comprar seu leitor e depois vem o xarope ideológico por cima. 😦

_Na sua casa você tem que cuidar da integridade mental dos seus filhos._

E fora de casa, não? Esse “você” é a mãe lá de cima né? Meu Deus, de novo o peso só para cima dela [a mãe].

_Criança não fica trancada no quarto jogando._

Some todas as coisas que já escrevi antes e: 1) entenda porque isso acontece; 2) por favor sugira algo viável, concreto, real que solucione o problema com relação a um filho único, de uma família mononuclear, onde ambos trabalham “ao infinito e além”. Senão, de novo, é culpa culpa culpa que não resolve, não esclarece e é justa até a página 2.

_Filho tem que ‘socializar’, tem que ver, estar com pessoas. Corpo a corpo. Olho no olho._

Isso é fácil e natural. Parece que virou um grande esforço. E o pior doutora Filó, depois de um tempo, se os pais conseguirem retomar uma rotina de contato com o mundo, terão que enfrentar um período “de abstinência” algumas vezes. Muitas crianças criaram vínculos de segurança e atenção para com o eletrônico e passam a apresentar dificuldades na relação física direta, preferindo ir para a TV ou Game, sendo capazes inclusive de deixarem seus amigos que lhe foram visitar no quarto ou no quintal e indo buscar o eletrônico.

_Criança que é rejeitada por outros tem uma tendência a buscar redes sociais. Cuidado. Isso pode causar dependência._

A frase precisa é: quem não tem atenção vai buscar. E uma fonte certa de “atenção” (ainda que pseudoatenção) é muito atraente. Simples assim. As redes são ilegais para as crianças, é bom que se diga.

_Precisamos ter a coragem de olhar para a vida dos nossos filhos. As coisas acontecem debaixo dos nossos olhos. Criança é esperta, mas temos que ser mais ainda. Pai e mãe têm que estar perto._

Olhar não, participar, ser mais time! Em toda relação existem três entes: eu, você e nós. Cada um na família precisa buscar e dar espaço para si e para o nós. Sem esse equilíbrio as coisas não funcionam. É preciso ter um espaço do nós mais forte nas famílias. Como os adultos estão com os Eus sufocados (e por vezes deficitários porque não tiveram o devido espaço para se fortalecerem nas fases certas), acabam usando o pouco tempo para suas vidas e não sobra quase nada para o “nós” que envolve os filhos. Como quebrar o círculo vicioso (pais que não são plenos por conta da própria educação que receberam cheia de deficiências de tempo, referências, afeto, estabilidades etc.)? Conseguir isso nesse mundo louco é que é a senha. Sem eela, o texto fica no apoio da vigia neurótica, que não resolve de verdade o verdadeiro buraco, bem mais embaixo.

_Criança não tem que ter senha._

Criança não tem que ter eletrônico. Lembra, estamos falando de criança. Adolescente é outro papo, e uma discussão ainda mais complexa.

_Essa tal de privacidade é só quando eles saem de casa, só quando pagam as próprias contas._

Peraí, estamos falando de criança ou de adolescente? A doutora sabe o papel do respeito à privacidade na formação identitária na adolescência? Acho que não. Não é a falta de privacidade que resolve o problema. É a falta de cumplicidade. Sem ela, você pode vigiar a vontade. O adolescente vai dar o jeito dele de fazer sem você saber. E se você for muito neurótico e vigiar DE VERDADE 24H por dia tudo o que faz, pode ter certeza, criará alguém com MUITOS problemas. Mas não vou discutir isso hoje, porque o texto começa direcionado para crianças e de repente descamba para assuntos que são território da adolescência.

_O celular do filho não pode ser igual ao do pai. Tem que haver hierarquia._

A responsabilidade da criação é da mãe. Aí na hora da posse de eletrônico a doutora Filó se refere ao pai… Dá a sensação de que é um homem quem escreve, ou no mínimo, fica claro que se trata de um texto machista.

É repetitivo eu seu, mas vamos lá: criança não tem que ter celular. Hierarquia baseada em coisas não é sinônimo de aprendizagem de respeito mútuo, menos ainda de carinho mútuo. A família precisa pensar junto o *consumo* das coisas. Um consumo saudável é baseado em *necessidades* individuais e coletivas reais, e não na propaganda ou na “hierarquia das coisas”. Por falar nisso, já assistiu ao pequeno vídeo “A História das Coisas”? Deveria.

_Cada mãe conhece o filho que tem. Mãe, no fundo, sabe o que está acontecendo com o filho. Não ignore suas sensações como mãe. Elas são verdadeiras. A mãe não erra o diagnóstico. Confie nos seus sentimentos de mãe._

Que interessante, saiu do celular, voltou a falar com a mãe. “Suspeitei desde o princípio”. Agora é enaltecer a mãe e seus sentidos tentando seduzi-la.

Me desculpem mães mas…. Sim, mães podem errar no diagnóstico, erram muitas vezes. E isso não é nenhum crime! A criação solitária pressupõe erros até certo ponto. Doutora Filó a senhora não tem o direito de fazer pesar a responsabilidade materna desse jeito, e deprimir as mães que te leem e varrendo a memória lembram que já erraram. Não funciona assim. Mais gente na criação, mais gente para pensar junto, mais suporte e atenção, menor chance de errar. Isso só para começar.

_A missão como pais é muito maior do que podemos imaginar. E não é uma missão fácil._

É, do jeito que a sociedade está é mais complicado ainda. E textos como o seu Filó não ajudam em nada.

_Mais do que dar coisas, se dêem a seus filhos._

Ah, que bom, esquecemos da hierarquia do celular. Convém. Um alerta apenas para se você comprou o discurso da Dra. Filó: pense bem no que é se dar para seus filhos. Pense na importância de haver equilíbrio eu, você e nós, para o nós e o ele (filho) fluírem. Pense no que é se dar. Não adianta voltar para casa para estar lá no computador de costas para o filho. Não adianta dar seu tempo e não ter energia. Não adianta também se conformar com o que estou escrevendo e não buscar o equilíbrio. Equilíbrio é uma busca. Vai erros e acertos na trajetória dessa infância. Com dedicação, sabedoria e a sorte de bons suportes, a tendência é de dar muito mais certo do que errado.

_Questione seus filhos. Pergunte! Vigie! Investigue!_

Por que será que lembrei de “Vigiar e Punir” de Michel Foucault? Acho que o que escrevi acima já explica um monte de coisas. Mas se me pedirem posso falar bastante mais sobre qualidade de vínculo, parceria e a verdade aberta que se estabelece naturalmente quando isso rola.

_Existem muitos e muitos distúrbios psiquiátricos na infância._

Me diga você, leitor@, o que essa frase está fazendo aqui?

Na leitura rápida da Internet, ela simplesmente entra como elemento amedrontador, colocando pressão sobre sua doutrina. É demais isso. Não tem nada a ver com o texto nem antes nem depois da frase. Bizarro!

_O segredo da prevenção é família e amor._

Seara complicadíssima, essa. Toca o terror e chantagia a emoção d@ leitor@, coagindo para que a pessoa se submeta a questão da família e do amor. O que é família? O que é amor? É o amor familiar a la Damares? Isso previne todos os problemas psiquiátricos? A escrita genérica é indutiva mesmo. Para mim perversa até.

_Criança tem que ser amada. Filho vai tentar se impor. Mas regras devem existir. _

_Tem que haver respeito._

_Tem que haver hierarquia._

Filho tenta se impor quando observa e ou vivencia comportamentos de imposição, e ou não se sente parte da estrutura. A “família alfa” é assim: os jovens desafiam os mais velhos até que ganham… Ou vão embora (quando não são destruídos pelo alfa que lhes deu vida!).

_Filho tem que desejar!_

_Tem que querer ganhar alguma coisa!_

_Tem que esperar ansiosamente pelo presente._

É. Assim pode doer bastante quando você tira, e isso estabelece a relação de poder pelas coisas entre genitor@s e filhos. Que grave isso. Aí está a raiz da meritocracia, essa coisa linda que cria a ideologia do empreendedorismo como fosse saudável se colocar pessoas tão diferentes em permanentes disputas tão desiguais. Os meritocratas estão no poder hoje, se tocaram? Junte essa frase com a da família e temos a essência do governo Bolsonaro. Podes crer. “Que beleza”

_As coisas não são descartáveis._

Dra Filó, misturando chaves de novo? O filho tem que valorizar o que ganha e o que tem. Certo. Tem que cuidar. Certo. É verdade, os pais estão loucos com o desvalor que as crianças muitas vezes dão às coisas. Em especial, as coisas caras. E essa chave seduz de novo. Quanto a isso, já comentei, é preciso repensar consumo. Totalmente. Mas sabe, noto que essa frase intermedia a ideia anterior com a próxima. E isso não é bom.

_Coloque na vida do seu filho que somos criadores, que vamos criá-los e que temos sonhos para eles._

Egotrip divinal pra cima da gente não né. “somos criadores” soou mal, tipo falar pro filho: “reconheça criatura que sou seu Deus”. Ele criou o homem à sua imagem e semelhança né. É. Tem certeza que você não é parente da Damares? Não é baixo o número de adultos que recebo em meu consultório trazendo em sua história os conflitos de quem teve uma “vida sonhada pelos pais”. É melhor ajuda-los a se tornarem criadores de suas próprias vidas. Leia mais Dra. Filó. Que tal começar pela Marcia Nader e o texto “Mãe (Desnecessária)”? https://www.viva50.com.br/a-mae-desnecessaria-por-marcia-neder/ É pequeno mas bem útil.

_Que a vida tem que ter sentido, além do dinheiro, do poder e de todas as possibilidades._

Você fala sobre hierarquia de consumo, de meritocracia e alfismo. E agora existe uma vida além disso? Agora, desmembre a sentença escrita por você mesma e me diga: o que é uma vida com sentido “além de todas as possibilidades”? A senhora pode escrever um “tratado de retórica para leituras apressadas de whatssapp”.

_Que a vida os desafiará, mas a vida não encerra. Cuidado!_

De novo! “A vida desafiará mas não encerra”. Devo imaginar que a vida não encerra os desafios? A vida não se encerra? É infinita e além? Explique melhor isso Dra, porque seus aforismos estão por fora mesmo.

_O que os filhos trazem para o mundo é o que plantamos neles._

Mais um indício de damarismo aqui. Ah Caetano, que saudade do seu dadaísmo. Agora é isso o que temos: damarismo, com suas afirmações do século XVIII. Tipos as que Fröebel (“pai” do jardim de infância, um fofo da virada do XVIII pro XIX, você precisa conhecer). As crianças NÃO SÃO TÁBULA RASA. E quanto às influências do meio, por favor, um pingo de humildade vale a pena! O que é “semeado” é o coletivo de experiências que cada um, o que inclui o contato com mãe, pai, outros parentes, os adultos e crianças da escola, etc., etc., etc. Então claro que vale reforçar: quanto mais presença de qualidade melhor gente! Mas por favor doutora, não afirme isso para as mães e pais como se elas não soubessem. Não desvalorize a inteligência delas. Ao invés disso, o meu conselho para você é puxar o assunto de preferência oferecendo pequenas ideias acerca de prioridades da mente, gerenciamento de tempo, e dicas de como driblar o dia a dia para encontrar esses momentos tão importantes.

_Estimule-os a serem verdadeiros. A verdade abre caminhos._

A senhora é mesmo sedutora. Quem não se comove? Acrescento: a melhor forma de ter fihos verdadeiros é sendo. Mas cuidado com as punições graves, cuidado com um código simples de reprovação que os pequeninos aprendem muito rápido: se mentir passa e a verdade é reprovação, como a mente infantil – amoral – se posiciona? No final das contas, é o nível de intimidade, confidência, confiança que pais e filhos vivenciam que gera um compromisso natural e saudável com a verdade.

_Converse. Incansavelmente. Temos que nutrir a confiança._

É verdade. A senhora acertou aqui. Lembrando que conversa não é monólogo, é diálogo. É preciso não só dizer, é preciso escutar. E sim, é preciso repetir as coisas um milhão de vezes. É muita informação, código, regra, estrutura para assimilar e gerenciar ao mesmo tempo. Há uma pequena competição entre essas coisas todas que estão sendo vividas e aprendidas no dia a dia de uma criança. É preciso repetir e dizer de jeitos diferentes, é preciso explorar os assuntos de muitas formas, inclusive pelo aspecto lúdico quando possível. Quanto maior conexão o aprendente tem com o que está aprendendo, melhor.

_Olhe para os seus filhos e entenda o que eles precisam.”_

Por aí. Melhor que olhar, que é mais objectual, é ouvir e sentir, é prestar atenção. Prestar atenção nas necessidades da criança – inclusive a de limites é vital. Mas repara doutora, que você deixa por último o que de certo modo contradiz muito do que você escreveu no texto todo. E isso é retórica vil. Você compra @s leitor@s com frases no início e no fim, além de pequenos reforços nos subtextos ao longo que o colocam do seu lado, para vender-lhes no pacote um conjunto de valores conservadores que se fossem bons teriam feito o mundo de hoje ser lindo, as famílias serem perfeitas, as pessoas não serem tão doentes, perversas e infelizes. Por favor, não misture o que realmente é necessário para uma reforma íntima necessária aos indivíduos, suas famílias e a criação de seus filhos, com esse discurso cheio de afirmações imperativas, que gera culpa, não aponta soluções reais, não traz a discussão para uma situação de realidade. Seu texto entra em contato com premissas que habitam as pessoas e ativa o dispositivo associativo por pura manipulação. A senhora deveria ser desmascarada. Deviam dizer quem é exatamente ou quem são exatamente a(s) voz(es) por trás da “Doutora Filó”. Mesmo que tenha sido escrito por uma pessoa só, mesmo que essa Filó exista e tenha escrito de punho ou digitalmente essa mensagem que circula de forma viral por aí, não me admiraria compreender que seu texto fala por muitos. O que é um desalento.

_*Mande para todos seus contatos… Formação das crianças brasileiras.*_

Atualmente eu tenho morrido de medo do uso de “Brasil”, e “brasileiro”. Me soa de uma ideologia conservadora e hostil – a mesma que elegeu nosso prefeito, governador e presidente. Exatamente como a desse texto.

O todo do texto é construído com objetivos claros e lembra bastante o sistema de inteligência que tornou Bolsonaro e vencedor na corrida presidencial. Atacando pontos que hoje são lacunas educacionais difíceis de resolver pelos pais de hoje em dia, com os recursos que dispõem (dinheiro, tempo, orientação, suportes humanos, etc., etc.), apela para valores rasos, para o misto entre desqualificação/culpa e bajulação para introduzir ou reforçar uma mentalidade cheia de prerrogativas estudadamente erradas, cujos efeitos práticos não são bons. Como terapeuta, pedagogo e pai, recomendo não repassarem.

* Arnaldo V. Carvalho

PS: Logo após a publicação deste escrito, uma pessoa próxima me falou que uma notória Dra. Filó existe. Não soube me dizer, no entanto, se as palavras do texto que refuto são mesmo dela, ou se é uma transcrição filtrada, etc. A “Dra. Filó” com quem dialogo e cujo texto critíco é o ente por trás do texto, seja ele quem for, que fique claro.

Um ano depois, prisão e exílio.

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Mas é isso que é a juventude que diz que quer tomar o poder? Vocês têm coragem de aplaudir, este ano, uma música, um tipo de música que vocês não teriam coragem de aplaudir no ano passado! São a mesma juventude que vão sempre, sempre, matar amanhã o velhote inimigo que morreu ontem! Vocês não estão entendendo nada, nada, nada, absolutamente nada. Hoje não tem Fernando Pessoa. Eu hoje vim dizer aqui, que quem teve coragem de assumir a estrutura de festival, não com o medo que o senhor Chico de Assis pediu, mas com a coragem, quem teve essa coragem de assumir essa estrutura e fazê‑la explodir foi Gilberto Gil e fui eu. Não foi ninguém, foi Gilberto Gil e fui eu! Vocês estão por fora! Vocês não dão pra entender. Mas que juventude é essa? Que juventude é essa? Vocês jamais conterão ninguém. Vocês são iguais sabem a quem? São iguais sabem a quem? Tem som no microfone? Vocês são iguais sabem a quem? Àqueles que foram na Roda Viva e espancaram os atores! Vocês não diferem em nada deles, vocês não diferem em nada. E por falar nisso, viva Cacilda Becker! Viva Cacilda Becker! Eu tinha me comprometido a dar esse viva aqui, não tem nada a ver com vocês. O problema é o seguinte: vocês estão querendo policiar a música brasileira. O Maranhão apresentou, este ano, uma música com arranjo de charleston. Sabem o que foi? Foi a Gabriela do ano passado, que ele não teve coragem de, no ano passado, apresentar por ser americana. Mas eu e Gil já abrimos o caminho. O que é que vocês querem? Eu vim aqui para acabar com isso! Eu quero dizer ao júri: me desclassifique. Eu não tenho nada a ver com isso. Nada a ver com isso. Gilberto Gil. Gilberto Gil está comigo, para nós acabarmos com o festival e com toda a imbecilidade que reina no Brasil. Acabar com tudo isso de uma vez. Nós só entramos no festival pra isso. Não é Gil? Não fingimos. Não fingimos aqui que desconhecemos o que seja festival, não. Ninguém nunca me ouviu falar assim. Entendeu? Eu só queria dizer isso, baby. Sabe como é? Nós, eu e ele, tivemos coragem de entrar em todas as estruturas e sair de todas. E vocês? Se vocês forem… se vocês, em política, forem como são em estética, estamos feitos! Me desclassifiquem junto com o Gil! junto com ele, tá entendendo? E quanto a vocês… O júri é muito simpático, mas é incompetente. Deus está solto! Fora do tom, sem melodia. Como é júri? Não acertaram? Qualificaram a melodia de Gilberto Gil? Ficaram por fora. Gil fundiu a cuca de vocês, hein? É assim que eu quero ver.
Chega!

(E canta É proibido Proibir)

Minha mãe ganhou um disco (CD) do Caetano. Eu me lembro. Ficou esquecido ao lado da vitrola, fui eu quem resolveu botar para tocar. Outras Palavras era o nome do álbum. De fato, algumas músicas dali eu ouço muito pouco por aí, não estão entre as mais populares. Eu amo aquela, quando ele fala: “como dois robôs, mas ninguém mais quente que nós, DE QUE NÓS”. Não sei de quando é o disco. Sei que fiquei muito assustado quando dele começaram a sair berros. Um som estranho, uma guitarra intrépida que tentava vencer os gritos. Eram vaias.

Irrompe a voz de Caetano.

Possesso.

Possuído.

Soa o medo, mas soa muito mais a coragem. Quanta força. SABE O QUE ESTÃO PARECENDO? MATAR AMANHÃ O VELHOTE INIMIGO QUE MORREU ONTEM! Não precisei escutar de novo. Nem reler. Ouvi e gravei para sempre essa frase. E também: QUEM TEVE CORAGEM DE ENTRAR E SAIR DAS ESTRUTURAS, FOI GILBERTO GILLLL!!! GILBERTO GIL E FUI EU!!! Eu era jovem, tinha o quê? Vinte anos? Nunca esqueci do arrepio no braço e na coluna, indo até o alto da cabeça, enquanto ouvi aquilo. Estremeci em seguida. Para todo e qualquer amigo que chegava, eu mostrava essa faixa. Não entendia completamente o contexto, mas sua força. Todos se impressionavam.

Não se falava de ditadura na minha casa. Não era proibido, acho que em casa nada era muito proibido. Simplesmente não se falava. Talvez porque fosse passado.

Não existia Internet.

Fiquei com o discurso, e compreendi a crítica à cegueira da juventude, que segue votando errado, segue apostando em causas inúteis. Não é culpa nossa (falo como o “Eu” jovem que escutou o CD pela primeira vez). E não é mesmo.

Merecíamos chegar nessa idade tão potente bem mais preparados para compreender o lugar onde estamos e o que é preciso fazer.  (Arnaldo V. Carvalho)

***

Agora tem Internet, tem acesso fácil. Caetano e gravadoras do Caetano, espero que não se importem com essa humilde postagem.

 

Estarei hoje na manifestação em prol da Educação Pública no Brasil.

Bom dia! Hoje estarei nas manifestaçoes pela Educação Pública, com meu livro: “Liberdade sem Medo: Summerhill”, escrito pelo diretor da escola inglesa que foi a primeira democrática do mundo. Esse livro mudou minha vida quando li ainda na adolescência, e se hoje sou um pedagogo, devo a ele.

Estarei lá mesmo que chova e mesmo que tentem reprimir, seja com os recuos de fala que caracterizam esse governo, seja com aparato policial.

Eu estarei lá porque a educação pública não pode ser moeda de troca pela reforma da previdência.

Estarei lá porque quero não só reverter os cortes, mas cobrar das autoridades mais respeito em relação às universidades e escolas públicas. Balbúrdia é o que vejo no governo, com cuecas cheias de dinheiro, helicóptero de cocaína e laranjas e milicianos para todos os lados.

Estarei porque sou pedagogo e qualquer aprendente que me olha está automaticamente observando cada ato meu, e avaliando e aprendendo quando for o caso.

Eu realmente não acredito no “vão lá, façam por mim”. Sou do aprendizado Maker , mão na massa, trabalho em equipe, projeto de vida, democracia.

Ninguém fica para trás, ninguém solta a mão de ninguém. Hoje, a bella não receberá ciao, pois ela estará comigo também. Vamos todos.

Convoco vocês meus amigos. Todos somos educadores!

Arnaldo V. Carvalho