Na miséria humana, a origem da crueldade

Alexander Neill (January 17, 1883 — September 23, 1973), Scot educator,  psychologist | World Biographical Encyclopedia

A crueldade deve ter ignorância, a fim de proteger o sádico contra qualquer compreensão de sua própria natureza pervertida.

A. S. Neill

Charge de Otávio (1970)

Um longo parêntesis

(Fragmento de “Liberdade no Lar: problemas da família”, escrito por Neill e publicado em 1970 no Brasil, pela IBRASA. A charge de Otávio – Otávio Câmara de Oliveira – , está presente na mesma página do livro (161) e retrata um modelo de pai bastante afinado com uma ideologia bastante fortalecida no Brasil, cinquenta anos depois. Para que não frase de Neill e charge não se configurem subjetivas demais para alguns, transcrevo aqui o trecho onde se insere, e verão que de lá para cá, pouco mudou. Mudam as formas de violência, as aparências, mas as origens seguem formando a sociedade que temos – Páginas 160 e 161:

“Pais que chicoteiam os filhos estão sempre prontos a uma explicação desenvolta, e quando rigorosamente interrogados sobre seus motivos, habitualmente colocam-se na defensiva dizendo que um gato ensina seus gatinhos batendo-lhes com a patinha disciplinadora. Não conheço pais, ainda, que respondam, honestamente: “bato em meu filho porque o detesto, detesto a mim mesmo, à minha esposa, ao meu emprego, as minhas relações, e de fato detesto a própria vida. Bato-lhe porque é pequeno e não pode devolver-me as pancadas. Bato-lhe porque tenho medo de meu patrão e quando ele vem para cima de mim eu desconto no garoto, em casa.

Se os pais fossem honestos o bastante para dizer isso, ou parte disso, não teriam necessidade de ser cruéis com seus filhos. A crueldade deve ter ignorância, a fim de proteger o sádico contra qualquer compreensão de sua própria natureza pervertida.”).

Sobre a ilusão – conversas imaginárias com Reich e Neill

Sobre a ilusão

Conversas imaginárias com Reich e Neill

Arnaldo V. Carvalho

Um dia, conversei na minha cabeça com o fundador da escola Summerhill, A. S. Neill, e seu velho amigo Wilhelm Reich.

Reich odeia a ilusão, porque entendeu que é nela que vive a não aceitação dos fatos, e portanto, todo o sofrimento humano.

A. S. Neill acha que a ilusão é coisa de criança, e portanto, fase passada no adulto sadio. Pontuei com o Neill da minha cabeça sobre minha teoria da acumulação de fases; após algum tempo refletindo com seu cachimbo, o velho educador, que conversa comigo já na beira dos seus 90 anos – concordou que, se um adulto puder trazer seu recurso lúdico nos momentos apropriados – ao brincar com uma criança, por exemplo – tendo o aparelho psíquico maduro, talvez isso traga uma graça a mais na vida e melhorem-se os conflitos de gerações.

Como foi Neill quem disse isso, Reich “meio que” respeitou. Fez aquela cara feia,
comprimindo as sobrancelhas, e após uns segundos de nariz torcido, decidiu:

– Não tenho tempo para lidar com isso, Neill. Tenho coisas mais importantes a pensar e a fazer.

Arnaldo V. Carvalho, terapeuta, estuda a obra de A. S. Neill e Wilhelm Reich há muitos anos, e adora “conversar” com seus autores mais influentes.