Tentando votar direito (especial)

Pausinha na série de artigos “Tentando votar direito”, em que esmiúço como faço para escolher meus candidatos: Nesse “suplemento especial”, ofereço ao leitor ferramentas práticas e úteis para a construção dessa escolha. Hoje é sábado, dá uma pesquisada!

(Arnaldo)

Estude você mesmo e descubra seus candidatos!

  1. Cartilha neutra: Para me ajudar nesse garimpo todo, estou usando ferramentas de registro e comparação. A principal delas é a “Cartilha do Eleitor Consciente“, de Carlos Eduardo Aguayo Reis, uma cartilha realmente neutra e bem feita.
  2. Sites comparando propostas? Você vai encontrar vários no Google. Escreva na barra de pesquisas: compare o que diz cada candidato e bom trabalho! Para além do que dizem em entrevistas, etc., existem as propostas oficiais, registradas no TSE. Elas podem ser baixadas do próprio site do Tribunal Eleitoral: http://www.tse.jus.br/eleicoes/eleicoes-2018
  3. Fichinhas dos candidatos: Tem mais de um site exibindo, eu usei principalmente a do site Gazeta do Povo, que é enxuta, sempre atualizada, e com todos os candidatos para todos os cargos. Nome, partido, coligações partidárias, atividade profissional, situação junto ao TSE… É um ponto de partida apenas, mas que pode valer a pena.
  4. Trajetórias: Novamente vá ao google e escreva: trajetória de cada candidato. Vários sites abrirão. Atenção, procure abrir mais de um. Como tudo e todos, os diferentes veículos se alinham com diferentes frentes. Não leia apenas o que é confortável, o que quer ver. Não construa histórias, não fantasie. Procure ao menos um site internacional, um site alinhado ao mercado, um site alinhado às preocupações sociais.

Em caso de dúvidas, recomendo tremendamente recorrer à Ciência. Haverá maior chance de você encontrar fontes fidedignas, e dificilmente você vai topar com fake news (previna-se delas aqui!). Em ciências podem haver correntes de pensamento em oposição, mas sempre haverá razões que justifiquem a existência de cada uma dessas correntes.

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Tentando votar direito (3)

– Tentando votar direito –

Critérios que uso na hora escolher em quem voto

Parte 2:

Já vimos que busco olhar para os candidatos sem idolatrias, buscando sua história, suas propostas e seus alinhamentos com pessoas, grupos e ideias. E também que minha escolha passa preferencialmente por políticos que entendam a sociedade como um todo, não somente defendam um trecho com o qual se identifique. É hora de esmiuçar cada um desses critérios, antes de continuarmos. Para isso, notem bem as preliminares conceituais de nossa realidade e como a vejo:

Direita e esquerda

Preciso acrescentar que também não enquadro imediatamente os candidatos segundo a noção que pode ser bastante ampla e subjetiva de “direita e esquerda” (não deixe de ler esse artigo)/(já escrevi um pouco sobre isso aqui). Para mim, a polarização é negativa, simplista, e atrapalha a percepção das pessoas e o diálogo, ao invés de ajudar. Rotular pessoas e sistemas é contraprodutivo e as vezes fico achando que tem muita gente que lucra com isso e a quem interessa “ver o circo pegar fogo” entre as pessoas e suas teorias enquadradoras e reducionistas.

Privilégios: sempre eles?

O país é declaradamente capitalista, mas que mistura elementos anteriores à república: preconceitos graves e diversos; desigualdade sem oportunidades equivalentes na base, clara confusão/mescla/associação entre os poderes governamentais, corporativos e midiáticos; crença na violência como forma de organizar, ordenar, progredir; cultura de privilégios – os historiadores que me rebatam como sempre fazem. Se não há uma cultura de privilégios oficial, há uma oficiosa, grave, e que está cada vez mais escancarada, com menos vergonha de mostrar sua cara. Está aí o “centrão”, as perigosas ligações entre juízes, partidos e políticos, etc… E os silenciosos reis “sem cara”, a fornecer os tais privilégios a que me refiro (empresários, do Brasil e do mundo). Claro que há diferenças: as posições são mais misturadas que antes. Um rei pode ser político, pode ser empresário, líder religioso, membro de um cargo alto da justiça. Pode ser tudo isso ao mesmo tempo, e flertar com outros reis, e jogar seus títeres para lá e para cá.

Afinal, quem são os titereiros por trás dos nomes que elegemos? Quem é o 1% mais rico que detem quase um terço de todas as riquezas do país? Isso é fundamental.

Raízes nefastas, liberalismo utópico, pseudosocialismo

Para quem não entendeu quando na introdução deste artigo, disse que gosto do jogo bem jogado, que fique claro o recado: é muito fácil quem teve acesso a comida, casa, educação, experiências diversas, falar em meritocracia. Compete com uma maioria absoluta de gente miserável, que não teve acesso nem oportunidades reais. Esse é um ponto fundamental: as velhas estruturas de poder comprometem demais a mobilidade social pelo mérito. E quanto a entrada equânime no jogo, disso não abro mão. Já que é para jogarmos um jogo, ou disputarmos uma corrida para algum lugar… Mas há medo, quem não é miserável morre de medo de uma competição ainda mais acirrada do que já enfrenta. Enfrentem seus medos, famílias não materialmente miseráveis! Quero ver o que fazem ante a um aumento de 80% nos números de concorrentes em concursos de atividades bem pagas… Quero ver quando os favelados tiverem acesso a boa escola, boa comida e ricas experiências de vida, o que farão quando virem o número de pessoas vagas crescer para 1000, 2000 para uma só. Quero ver quando negras e negros invadirem por mérito a bolsa de valores, quando os primeiros bilionários negros surgirem no país, terem seus carrinhos particulares nos campos de golfe (VIVA TIGER WOODS!) e os filhos estudando na PUC. A esperança de um liberalismo pra valer, que pode ser encontrado entre as premissas do MISES por exemplo, é injusta se essa base em comum não for antes corrigida.

Por outro lado, precisamos falar sobre pseudosocialismo. Essa palavra socialismo, aliás, dá muita confusão, como dá confusão as ideias de comunismo versus as práticas sociopolíticas tais como foram experienciadas nos países da cortina de ferro e seus seguidores (China e Cuba). É não se estudando os autores originais e a história de uma forma macro que as pessoas passem a acreditar que sistemas são piores do que outros per si; Quando o que conta, sempre, é a maneira como o sistema se exerce. Igualdade de direitos é uma premissa capitalista e uma premissa socialista – teoricamente falando. Se a igualdade de direitos não se aplicou em um regime, não é pela teoria, mas pelos valores pré-infiltrados nas pessoas. Isso aconteceu e segue acontecendo nos diferentes países, dos diversos sistemas. E é por isso que um “capital-socialismo de estado” como os que vemos acontecer nos países escandinavos consegue fazer com que o índice de qualidade de vida das pessoas por lá sejam os mais altos do mundo há anos. O que temos em termos sociais aqui é uma piada de mal gosto. Já virou cinza a conquista social do – doa a quem doer – governo Lula, que alavancou verbas para setores miseráveis, fez a pobreza chegar a universidade (viva Marielle!). Que fique claro: não votei no Lula (e nem votaria!) e discordo totalmente da maneira com que ele realizou os pontos positivos de seus governos (longa discussão), que se mostrou inclusive, como eu já dizia a todos na época das “vacas gordas”, insustentável. Então para medidas sociais, que coloquem todo mundo na corrida em condições competitivas – já que a escolha do país parece ser essa, é preciso muito mais inteligência, criatividade, empatia e estudo do que as manobras que são feitas. E não, não vale espremer o dinheiro da classe média e ajudar os pobres. A distribuição de renda passa por ajustes outros de fluxo financeiro, e outros de fluxo de mentalidades.

– Continua –

Arnaldo V. Carvalho, pai, terapeuta, educador, cidadão.

Tentando votar direito (2)

– Tentando votar direito –

Critérios que uso na hora escolher em quem voto

Parte 1: Quem o político deve representar?

É isso aí, temos que votar de novo.

Presidente COM vice, governador local, dois senadores, e dois deputados (um estadual e um federal). Como você fez suas escolhas? As minhas são baseadas numa combinação de valores, visão de vida e sociedade, e muita pesquisa. Então, para saberem como eu aplico essa combinação nos meus critérios de pesquisa, preciso falar um pouco sobre esses valores e visão de vida.

Eu acredito que o mundo social é movido por Ego, e que 100% das pessoas são egoístas. A diferença básica entre elas é que umas satisfazem seus egos através da felicidade alheia, e outras que encontram satisfação somente em si mesmas. A maioria das pessoas sente que a felicidade alheia é importante porque primitivamente somos animais sociais, ou seja, temos uma forte ligação instintual, somos de bando, de matilha, de alcatéia, de grupo (pleonasmo intencional). É isso o que nos faz “bons”, ou “capazes e afins à bondade”. O nome do sentimento que provoca isso é EMPATIA.

Essa crença pode parecer comum, e é fácil de sustentá-la pois há inúmeros artigos científicos sobre empatia, inteligência coletiva, vínculo/apego, ego, egoísmo e generosidade, etc. O que nunca vi em estudos, porém (me ajudem com isso por favor porque deve existir), é o limite dessa formação de bando, do ponto de vista individual. Ou seja, o quanto uma pessoa é capaz de enxergar quem está muito fora de seus laços óbvios – parentes, amigos próximos, colegas de profissão, etc. – como seus pares. E o quanto isso passa por criação?

Ou seja, qual é a capacidade de João de Deus, nascido na periferia de Salvador, querer que Quincas Welch, rapaz classe média seja tão feliz quanto ele, e vice-versa?

No plano da votação, a primeira pergunta que precisei me responder é: estou votando para sentir que minha cor, minha atividade profissional, minha faixa socioeconomica, seja contemplada, ou quero para todos?

Um amigo me disse nas eleições passadas que votaria em fulano porque ele ia cuidar dos interesses do bairro em que ele mora (zona sul, classe alta do Rio), e outra amiga me disse que votaria em ciclano porque ele era o candidato da categoria profissional dela.

São escolhas, e não as julgo. A minha, porém, é por gente que consiga olhar o macro da situação, consiga se distanciar de sua própria realidade, e enxergar o todo da sociedade, não apenas os setores que acredite me trazer retornos/benefícios mais diretos (isso é especialmente importante para os cargos executivos).

– CONTINUA –

Arnaldo V. Carvalho, pai, terapeuta, educador, escritor, cidadão.

Link para a introdução deste artigo: https://arnaldovcarvalho.wordpress.com/2018/09/18/tentando-votar-direito-1/

 

 

Como (não) perder meu voto – Atitudes de campanha que desclassificam qualquer candidato.

Prezados candidatos a prefeito e vereador nas eleições 2012:

Resolvi escrever esse pequeno “manualzinho” para vocês, são cinco princípios muito básicos para não perderem nem deixarem de ter meu voto ou pelo menos a minha simpatia. É tudo muito simples, é só seguirem e com certeza não terei motivos para repudiar vossas campanhas.

1. Fez confusão na rua com carreatas e caixas de som insuportáveis? Perdeu.

2. Misturou política com religião? Perdeu.

3 .Contratou “escravos” para balançar bandeiras o dia inteiro pelas ruas? Perdeu.

4. Aceitou grana de empresas que evidentemente estão por trás de muitos problemas da cidade? Perdeu feio.

5. Seu partido aceita em seus quadros fez aliança com partidos ligados a políticos que foram desmascarados em algum momento (Maluf, Collor, Garotinho…)? Perdeu também.

Para terminar, duas dicas: Acho que já está na hora de saírem da mesmice e pararem de usar essas fórmulas de propaganda que depõem contra a própria cidade que vocês dizem querer defender.  Além disso, saibam que prefiro votar em pessoas com nome e sobrenome, nada como “fulaninho da farmácia”, “ciclano do gás”. Esses nomes sugerem que vocês lembram aos seus guetos que estão em campanha,o que não corresponde a ideia de defesa da cidade como um todo.

Desejo boa sorte a todos os candidatos sérios.

Meus cumprimentos,

Arnaldo V. Carvalho