Rita von Hunty

O Prof. Guilherme Terreri, conhecido por sua personagem drag Rita Von Hunty, é uma das pessoas mais inteligentes e interessantes que eu conheço. Ele mandou essa mensagem às portas do segundo turno, mas eu a considero ainda totalmente válida.

Aproveito para adicionar um vídeo de cinco minutos da Von Hunty. Esse já é velho mas se você não viu, veja.

Porque não faço L mas voto 13 no dia 30

Porque “não faço L mas voto 13” no dia 30.

(Por Arnaldo V. Carvalho*)

Não será um textão. Quem já me acompanha vai ler agora, em um parágrafo curto, uma síntese de tudo o que repito há anos:

Nunca votei e sempre fui um crítico aos governos de Lula (2003-2011), e definitivamente não sou um “lulista”. Mas divergir de um projeto nacional é muito diferente de protestar contra a ausência de um projeto, ou de não admitir a presença de um projeto fascista de estado (ou com características fascistas). Por essa razão (e outras), em 2022 meu voto é 13.


Quem tiver paciência, pode ler uma “expansão” dessa ideia e conhecer minimamente a minha condição e posição política. Estou colocando isso aqui porque é primeira vez que eu declaro meu voto publicamente – a despeito de ter me esforçado, nas últimas eleições, para ajudar quem me lê na direção de um voto consciente sem oferecer qualquer endereço a quem votar.

Histórico (d)e algumas convicções políticas

  1. Meu histórico de votos em Lula: Nunca havia votado, e sempre fui um crítico aos governos de Lula (2003-2011). Minha crítica não começou quando veio a onda de escândalos de corrupção (cujas reais conexão para o o então presidente nunca foram bem esclarecidas). Ela é mais antiga, simplesmente porque discordo das direções que ele considera as melhores para o país. Essa crítica não me faz negar os progressos sociais evidentes de sua gestão (bem como os progressos não me fazem ignorar a manutenção da concentração de renda).
  2. Meu histórico como (NÃO) militante por pessoas ou partidos: Aliás, podem buscar e não verão eu fazer propaganda ou defender político específico nenhum ou partido específico nenhum. Nem sou muito de declarar voto. Mas é claro que estou sempre observando as posturas e atitudes coletivas dos partidos e seus representantes, e as estatísticas mostram que, no geral, alguns partidos e suas pessoas propõem e votam em pautas com as quais identifico serem melhores para as pessoas do que outros.
  3. Se sou “de esquerda” ou de “direita”: É comum que amigos e conhecidos “de esquerda” me achem “à direita” e os de direita “me achei de esquerda”. Eu não me reconheço como parte dessas posições, porque a coluna de valores que são colocadas como identitárias (ou seja, o que faz alguém sentir pertencimento em relação à “esquerda” ou “direita”) são, no mais essencial, as mesmas (talvez por desconhecimento da maior parte das pessoas acerca da origem dessas palavras e como se construíram sistemas de valores associados a uma ou a outra). Eu quero paz, segurança, educação, respeito, honestidade, amor, quero ter voz e ser escutado, e quero isso para TODAS as pessoas e para a natureza. Isso é ser o quê? Esquerda ou direita?
  4. Capitalismo ou socialismo: é tão simplista dividir o mundo e os diferentes sistemas econômicos desse jeito! Resumo minha posição com o que sempre digo a todos há muito tempo: em uma sociedade ética, qualquer sistema serve, porque sempre se criará mecanismos de justiça social e equilíbrio econômico, e todos terão seus espaços e dignidade garantida.
  5. Quando voto não penso apenas em mim ou minha realidade: combato o que para mim é um falha na consciência política de muita gente. Há quem se candidate, e há quem vote, dirigindo-se a pautas que apenas a eles interessa. Surge o “Fulano do bairro”, o “Ciclano do SUS”, a beltrana da “igreja”. Que pese seja legítimo a qualquer cidadão – inclusive os que se fazem candidatos – se sentirem mais envolvidos com/por certas causas e menos por outras, ainda assim, há que se fazer um esforço de olhar o todo. Se não dirigirmos nosso poder de voto com esse fim, mesmo sem querer fomentamos desigualdades, porque se todos pensam em suas pautas “e fim”, as minorias serão sempre esmagadas e estaremos condenados a viver sempre em flerte com fundamentalismos, totalitarismo e intolerância. Por isso sim, especialmente nas esferas executivas federais, sou mais a favor quanto mais um candidato tenha um pensamento integrador, onde todos possam ter voz.
  6. Tamanho da economia desconsiderando concentração de renda é uma das maiores balelas utilizadas no Brasil: aqui não salvo ninguém. Há uma clara disputa de narrativas sobre crescimento econômico, tamanho do PIB etc. O silêncio por trás é termos a segunda concentração de renda mais violenta do planeta (perdemos apenas para o Qatar). Ou seja, a posição no ranking econômico, o tamanho do crescimento etc., não muda de fato a realidade de 99% das pessoas caso a concentração permaneça aumentando. É a conta mais fácil do mundo de fazer. Eu tenho 90 pedacinhos de qualquer coisa, outra pessoa tem 9 e outras 98 tem que dividir um pedacinho. Entrou mais 100 pedacinhos. Se mantemos a concentração (pior é se aumentasse), quantos pedacinhos a mais eu (dos 99 pedacinhos) vou ter, o sujeito dos 9 pedacinhos terá, e os outros 98 terão? Há quem acredite que “mesmo assim os 98 aumentarão em 100% seu ganho, tinham 1 pedacinho agora tem 2). É um discurso real, há quem de fato defenda isso! Como há quem (e aí acho que é a maioria) acha incrível discutir tamanho da economia ou crescimento econômico… Precisamos é de desenvolvimento, que leve a uma mudança desse quadro que para mim é simplesmente perverso.
  7. Diferença entre divergir e não admitir: Divergir de um projeto nacional é muito diferente de protestar contra a ausência de um projeto, ou de não admitir a presença de um projeto fascista de estado (ou com características fascistas).

O 7×1 de Lula sobre B ou Critérios de análise que usei para essas eleições em particular

  1. Utilização de fontes oficiais: há tempos eu só aceito como informação analisável a imprensa oficial (com todos os seus problemas, ela ainda é a mais fiscalizada, e composta de maior número de jornalistas formados), e dados emitidos por instituições reconhecidas. Eu sempre comparo as fontes de informação, inclusive com uso de fontes internacionais. E uso também iniciativas oficiais de fact-checking. Opiniões pessoais, canais do Youtube, etc. são ignoradas, à exceção da proveniente de autoridade reconhecida: por exemplo, um doutor em economia que dá aulas em uma instituição pública possivelmente terá uma análise dele ouvida por mim. O influenciador digital não tem qualquer chance comigo. É muito difícil para alguém que utiliza estritamente este tipo de fonte não enxergar vantagens de se votar em L em relação a B.
  2. Comparação de administrações federais entre os candidatos: É estranho, pois estamos votando não em propostas de governo, mas em dois modelos pré-experimentados. Independente da amoralidade e do discurso do ódio do presidente atual e de seu grupo, sua administração foi ruim nas mais diversas áreas, e qualquer comparação estatística é capaz de mostrar que entre esses dois governos (o de Lula entre 2003-2011 e o de B. 2018-2022), o primeiro foi muito, mas muito melhor para a grande maioria da população. Sem detalhar todas as comparações, apenas focando no perfil técnico dos ministros para pastas de alta importância como saúde, educação e meio ambiente, vê-se que em Lula havia gente com total relação com as áreas para quais ocuparam os cargos. Já no caso do governo B as indicações eram totalmente políticas. Esse é só um pequeno detalhe no todo de problemas administrativos que começam na incompetência e terminam em vilanice, em vários casos.
  3. Comparação do histórico na política nacional: B ficou 28 deputado pelo Rio de Janeiro, tudo o que sei que ele votou votou diferente de mim, tudo o que discursou eu discordei, e ele no final das contas não conseguiu apresentar mais do que dois projetos de lei nessas quase três décadas? Para mim isso já é eliminatório. Para não falar de “como tudo começou”. Mas será que a trajetória de L é passível de eliminação? Não. Ele liderou o movimento operário durante a ditadura, ajudou a formar um dos mais importantes partidos brasileiros, foi ativo nas Diretas Já, como deputado federal (mais votado da história até então), participou ativamente da Constituinte e levou para a câmara cinco projetos relacionados a reposição salarial (em apenas quatro anos de mandato). No mínimo sua coerente trajetória demonstra liderança, proatividade e merece respeito.
  4. Sobre a corrupção versus decisão de voto: Em relação à corrupções (no plural), vejo que o brasileiro pode escolher três formas de julgar os políticos, e os dois primeiros são: “todos são corruptos” (e se assim for o critério de voto nem pode ser esse); “apenas um lado é corrupto” (essa é uma tomada de posição que desqualifica a possibilidade de um voto consciente, já que há evidências de corrupção de grande escala em diversos governos). Uma terceira possibilidade, que é a que sigo, é de não me considerar dono da verdade, nem um especialista em direito (eu não sou), e ir atrás das acusações, processos e resultados e suas pessoas. Não havendo competência para avaliar as nuances do juridiquês (também meu caso), ao menos ir ler o que dizem os especialistas, juristas profissionais, etc., buscando preferencialmente mais de um posicionamento. Se você fizer isso em relação aos diversos casos de corrupção e improbidades administrativas, pensará duas vezes entre simplesmente taxar Lula de ladrão e chamar B. de “mito”. Aliás, poderá desconstruir e reconstruir grande parte das imagens idealizadas de heróis e vilões por trás das figuras políticas.
  5. Olhe para o campo: Há anos recomendo que compreender a política nacional é olhar para o campo. E infelizmente, em meu pequeno círculo de amizades, poucos olham. Quando eu digo isso, estou sim falando de meio ambiente e ecologia, mas não simplesmente. O ponto é que o campo (e as florestas) detém a maior concentração de poder no Brasil. O campo tem forte mentalidade armamentista, do plantation a base de agrotóxico, da boiada que passa e destrói, das relações estéticas com um modo de vida hiperhierarquizado e que não respeita vidas e suas diferenças. O campo não consegue entender a importância de transitarmos para uma sociedade mais industrializada com tecnologia própria, e por isso não oferece os devidos incentivos às ciências. É o campo quem elege boa parte dos poderosos que acreditam em um projeto de nação de “discurso único”. É o campo quem faz boa parte do dinheiro do país, e ao mesmo tempo concentra cada vez mais renda. É por isso que todos os candidatos no primeiro turno flertaram com o agro. Quando olho para os detalhes no modo de lidar com os poderosos do campo, no entanto, vejo diferenças significativas entre os dois governos. Há uma tentativa clara em Lula de se negociar espaços vivíveis para uma população “não poderosa”, e a contrapartida é uma política externa que sempre foi muito favorável aos mega empresários. B. nunca se interessou por qualquer tipo de negociação nesse sentido. sequer.
  6. Discurso de ódio, apologia à ditadura, misoginia, etc. e tentativas de legitimar tais discursos e práticas: Isso nunca saiu da boca do Lula e está no plano do inconcebível em relação a qualquer candidato à qualquer posição pública onde eu tenha o direito de opinar através de meu voto.
  7. Mentiras e redes de fake news: estudos e investigações jornalísticas, acadêmicas e de instituições de proteção à transparência, lisura das eleições (incluindo o TSE), dentre outras mostram o quanto Bolsonaro é incomparavelmente o maior mentiroso da história, e o quanto a rede que seu grupo montou em torno de fake news construindo uma “realidade paralela” difícil de descontruir uma vez que a pessoa tenha entrado nela. Outro critério desclassificatório contra B, e ainda mais perverso, pois enreda pessoas em uma rede de distorção de fatos, reversão de valores e manipulação extrema. É quase inacreditável que não hajam leis nacionais e internacionais que prevejam um combate mais inteligente e incisivo à tais práticas. Nesse sentido, também não dá para comparar a qualidade de falas dos dois candidatos nem a diretiva central das duas candidaturas e suas estratégias nas redes. (Repito: a quem está me lendo nesse momento e acha que sou eu o iludido, me procure em particular e vamos trocar fontes de informação e analisar friamente os discursos. não dá para ter preguiça de ler ou estudar em decisões que afetam nossas vidas)
  8. O fato de eu ter várias discordâncias e cobranças em relação a Lula (e parte de seu grupo), seus governos e atitudes relacionadas à própria candidatura: A história é longa, e nesse momento em que declaro voto a ele, já digo que vou dele cobrar tudo o relacionado às minhas históricas críticas ao governo Lula 2003-2011. Também fique claro que sim, coloco na conta dele, seu grupo e estratégias eleitorais uma série de pontos (outra longa história que sim vou expor em algum momento minha visão). Mas vale frisar que este “voto contra” não tem origem de qualquer mérito da parte do outro candidato (que se eu for expor o mesmo nível de discordância “fora tudo” o que já mencionei, de novo perde pro Lula, e aí é “8×0”. Em outras palavras, no 7×1 dessas eleições o “x1” é também um gol (esse contra) de Lula.

* Arnaldo V. Carvalho, eleitor, escritor, terapeuta e professor em saúde natural, pedagogo, mestre e doutorando em educação.

“Acredito que ter um caminho espiritual não nos isenta de nossa responsabilidade humana”.

Não conheço ninguém desse grupo, quem foi o proponente ou o autor do texto da leitura coletiva feita no vídeo. Mas gostei muito do posicionamento por parte daqueles que buscam se tornarem pessoas melhores a cada dia e tem pelo visto o Amor e o conhecimento como chave principal em suas práticas, técnicas e saberes. Corajosamente, o grupo saúda a ciência, protesta contra o negacionismo, acolhe a censura psicológica daqueles que estão calados (inclusive) porque temem os julgamentos e chamam para a realidade, para a ruptura do silêncio e um re-posicionamento no mundo frente a todo o desrespeito a ocorrer no cenário político atual.

É muito importante que esse “mundo nova era”, ou “zen”, “bichogrilo” etc. abandone a característica “isentona”, como se fosse coerente simplesmente fingir o que não está acontecendo, como se fosse bacana criar uma “bolhinha paradisíaca” e lá ficar, enquanto a Vida está sendo implacavelmente atacada.

Afirmar responsabilidade humana foi um ato para lá pé no chão! Estou com eles! Me representam!

Minha gratidão aos autores e participantes do vídeo – torço que algum deles se comunique para eu poder colocar os devidos créditos aqui no blog!

Um jeito de definir o voto

O ambientalista e professor Carlos Eduardo Aguayo Reis, a quem tenho a honra de chamar de amigo, há anos milita por uma maior consciência na hora do voto. Ele criou uma cartilha neutra, que ajuda o eleitor a pesar suas convicções entre os candidatos, ajudando no processo decisório.

Estou disponibilizando aqui os dois materiais do Carlos para todos os que queiram votar sem pesos de consciência. (Valeu Cadu!). Para quem já se posicionou de modo firme, é inútil. Mas pode ser bem útil para quem não acompanha política e quer votar certo – no ponto de vista de votarem em candidato que de fato se alinhe às próprias ideias, ao que acredita, ou para aquele que quer revisar e ter mais certeza de quem merece seu voto. Mais democrático impossível.

OBS: A cartilha não exime o eleitor de pesquisar, pelo contrário, ela traz questões e cria um sistema de peso daquilo que o próprio eleitor considera prioritário. Pode dar algum trabalho, mas ela não é chata de fazer. É excelente!

Cartilha Eleições Presidenciais 2022

Cartilha do Eleitor Consciente – como funciona

Tentando votar direito (especial)

Pausinha na série de artigos “Tentando votar direito”, em que esmiúço como faço para escolher meus candidatos: Nesse “suplemento especial”, ofereço ao leitor ferramentas práticas e úteis para a construção dessa escolha. Hoje é sábado, dá uma pesquisada!

(Arnaldo)

Estude você mesmo e descubra seus candidatos!

  1. Cartilha neutra: Para me ajudar nesse garimpo todo, estou usando ferramentas de registro e comparação. A principal delas é a “Cartilha do Eleitor Consciente“, de Carlos Eduardo Aguayo Reis, uma cartilha realmente neutra e bem feita.
  2. Sites comparando propostas? Você vai encontrar vários no Google. Escreva na barra de pesquisas: compare o que diz cada candidato e bom trabalho! Para além do que dizem em entrevistas, etc., existem as propostas oficiais, registradas no TSE. Elas podem ser baixadas do próprio site do Tribunal Eleitoral: http://www.tse.jus.br/eleicoes/eleicoes-2018
  3. Fichinhas dos candidatos: Tem mais de um site exibindo, eu usei principalmente a do site Gazeta do Povo, que é enxuta, sempre atualizada, e com todos os candidatos para todos os cargos. Nome, partido, coligações partidárias, atividade profissional, situação junto ao TSE… É um ponto de partida apenas, mas que pode valer a pena.
  4. Trajetórias: Novamente vá ao google e escreva: trajetória de cada candidato. Vários sites abrirão. Atenção, procure abrir mais de um. Como tudo e todos, os diferentes veículos se alinham com diferentes frentes. Não leia apenas o que é confortável, o que quer ver. Não construa histórias, não fantasie. Procure ao menos um site internacional, um site alinhado ao mercado, um site alinhado às preocupações sociais.

Em caso de dúvidas, recomendo tremendamente recorrer à Ciência. Haverá maior chance de você encontrar fontes fidedignas, e dificilmente você vai topar com fake news (previna-se delas aqui!). Em ciências podem haver correntes de pensamento em oposição, mas sempre haverá razões que justifiquem a existência de cada uma dessas correntes.

***

 

Tentando votar direito (4)

– Tentando votar direito –

Critérios que uso na hora escolher em quem voto

Parte 3: Partidos e grupos econômicos

“Ficha limpa”

Era muito mais difícil votar certo. Porque era muito mais difícil pesquisar. Hoje em dia, driblando-se os fake news e outras distorções do mundo digital, consegue-se puxar a ficha de qualquer um.

A minha “ficha limpa” é um pouco mais rigorosa que a utilizada pela lei assim batizada (e que é útil, veja no link), porque muitos atos ilícitos são para mim extremamente sujos. Votar privilégios e benefícios a si e aos seus grupos de alinhamento que sim pesem ou causem impactos significativos para o Todo da sociedade podem desclassificar o candidato facilmente. Só por esse critério digo que sobra muito, muito pouca gente.

Ou seja, para saber se o candidato é “ficha limpa”, é preciso estudar as engrenagens e instituições que movem a cidade em que se vive, o Estado e o país, e como esses candidatos interagem com elas.

O ex-prefeito que hoje é candidato é oficialmente “ficha limpa”, mas autorizou um desmatamento de alto impacto ambiental para a construção de uma lucrativa indústria, com injustificável lastro de empregos e benefícios (as vezes empreendimento tocado por  empresa que apoiou o candidato no processo eleitoral)? Ficha suja. Ele fez dentro da lei, mas por mim cometeu algo próximo de um crime. No mínimo, o crime da falta de consciência, impensável a um representante do povo.

Sim, me interessa conhecer a trajetória deles pelos partidos e os grupos econômicos com os quais a pessoa está alinhada, para início de conversa.

Partido conta?

Partidos são blocos imensos de pessoas, que concordam com alguns pontos essenciais, mas não em tudo. Por isso todo partido tem debate, tem pré-candidatura, tem frentes, divisões diversas. É por isso que o fato de você achar um candidato de um partido absurdo não é critério para desclassificar o partido inteiro. A coisa muda quando uma boa parte dos candidatos do mesmo partido são duros de engolir, pois isso quer dizer que é justo onde você não concorda que eles se alinham.

Olhar para o partido do candidato conta de duas formas: Na observação do comportamento do candidato em relação a esse mesmo partido, e na observação geral da coerência desse mesmo partido.

A forma como o candidato se relaciona com a política partidária pode dar pistas importantes: Troca de partido como quem troca de roupa? Desconfio. Passeia por partidos notoriamente “centrão”? Desconfio. Apoia tudo o que o partido diz? Estranho.

Se o partido do candidato apoia radicalmente coisas que não fazem sentido nenhum para mim? Desclassifico. Os partidos e seus históricos de coligação também ajudam a gente a entender como eles funcionam. Partido tem uma linha, começa a fazer coligações “esquisitas” com outros partidos que em princípio tem ideias opostas… Desconfio demais.

A análise do partido é especialmente importante quando se pensa em quem votar para deputado estadual ou federal. Isso porque são muitos, e é simplesmente impossível analisar a todos um por um. Para se ter uma ideia, aqui no Rio são quase 2500 candidatos para deputado estadual. O partido ajuda a gerar algum filtro.

Grupos econômicos

Essa parece ser hoje o fator de maior atenção: a economia. Infelizmente os populares analisam muito pouco o papel do enlace entre os grupos econômicos e a economia (dê uma pequena olhada nesse vídeo e entenda melhor a ligação entre produção, grupos econômicos e políticos). Esse enlace nocivo costuma levar estados e países na direção de um colapso. Vejam no que acarretou no Rio e Janeiro a superdependência do petróleo, ou a superdependência da economia nacional pelo agrobusiness.

Candidato que apoia e é apoiado por grupos econômicos que estão alheios às necessidades das pessoas, ou que seguem por rumos insustentáveis (em todos os sentidos), estou fora.

– CONTINUA –

***

Arnaldo V. Carvalho, pai, terapeuta, educador, escritor, cidadão.

Tentando votar direito (3)

– Tentando votar direito –

Critérios que uso na hora escolher em quem voto

Parte 2:

Já vimos que busco olhar para os candidatos sem idolatrias, buscando sua história, suas propostas e seus alinhamentos com pessoas, grupos e ideias. E também que minha escolha passa preferencialmente por políticos que entendam a sociedade como um todo, não somente defendam um trecho com o qual se identifique. É hora de esmiuçar cada um desses critérios, antes de continuarmos. Para isso, notem bem as preliminares conceituais de nossa realidade e como a vejo:

Direita e esquerda

Preciso acrescentar que também não enquadro imediatamente os candidatos segundo a noção que pode ser bastante ampla e subjetiva de “direita e esquerda” (não deixe de ler esse artigo)/(já escrevi um pouco sobre isso aqui). Para mim, a polarização é negativa, simplista, e atrapalha a percepção das pessoas e o diálogo, ao invés de ajudar. Rotular pessoas e sistemas é contraprodutivo e as vezes fico achando que tem muita gente que lucra com isso e a quem interessa “ver o circo pegar fogo” entre as pessoas e suas teorias enquadradoras e reducionistas.

Privilégios: sempre eles?

O país é declaradamente capitalista, mas que mistura elementos anteriores à república: preconceitos graves e diversos; desigualdade sem oportunidades equivalentes na base, clara confusão/mescla/associação entre os poderes governamentais, corporativos e midiáticos; crença na violência como forma de organizar, ordenar, progredir; cultura de privilégios – os historiadores que me rebatam como sempre fazem. Se não há uma cultura de privilégios oficial, há uma oficiosa, grave, e que está cada vez mais escancarada, com menos vergonha de mostrar sua cara. Está aí o “centrão”, as perigosas ligações entre juízes, partidos e políticos, etc… E os silenciosos reis “sem cara”, a fornecer os tais privilégios a que me refiro (empresários, do Brasil e do mundo). Claro que há diferenças: as posições são mais misturadas que antes. Um rei pode ser político, pode ser empresário, líder religioso, membro de um cargo alto da justiça. Pode ser tudo isso ao mesmo tempo, e flertar com outros reis, e jogar seus títeres para lá e para cá.

Afinal, quem são os titereiros por trás dos nomes que elegemos? Quem é o 1% mais rico que detem quase um terço de todas as riquezas do país? Isso é fundamental.

Raízes nefastas, liberalismo utópico, pseudosocialismo

Para quem não entendeu quando na introdução deste artigo, disse que gosto do jogo bem jogado, que fique claro o recado: é muito fácil quem teve acesso a comida, casa, educação, experiências diversas, falar em meritocracia. Compete com uma maioria absoluta de gente miserável, que não teve acesso nem oportunidades reais. Esse é um ponto fundamental: as velhas estruturas de poder comprometem demais a mobilidade social pelo mérito. E quanto a entrada equânime no jogo, disso não abro mão. Já que é para jogarmos um jogo, ou disputarmos uma corrida para algum lugar… Mas há medo, quem não é miserável morre de medo de uma competição ainda mais acirrada do que já enfrenta. Enfrentem seus medos, famílias não materialmente miseráveis! Quero ver o que fazem ante a um aumento de 80% nos números de concorrentes em concursos de atividades bem pagas… Quero ver quando os favelados tiverem acesso a boa escola, boa comida e ricas experiências de vida, o que farão quando virem o número de pessoas vagas crescer para 1000, 2000 para uma só. Quero ver quando negras e negros invadirem por mérito a bolsa de valores, quando os primeiros bilionários negros surgirem no país, terem seus carrinhos particulares nos campos de golfe (VIVA TIGER WOODS!) e os filhos estudando na PUC. A esperança de um liberalismo pra valer, que pode ser encontrado entre as premissas do MISES por exemplo, é injusta se essa base em comum não for antes corrigida.

Por outro lado, precisamos falar sobre pseudosocialismo. Essa palavra socialismo, aliás, dá muita confusão, como dá confusão as ideias de comunismo versus as práticas sociopolíticas tais como foram experienciadas nos países da cortina de ferro e seus seguidores (China e Cuba). É não se estudando os autores originais e a história de uma forma macro que as pessoas passem a acreditar que sistemas são piores do que outros per si; Quando o que conta, sempre, é a maneira como o sistema se exerce. Igualdade de direitos é uma premissa capitalista e uma premissa socialista – teoricamente falando. Se a igualdade de direitos não se aplicou em um regime, não é pela teoria, mas pelos valores pré-infiltrados nas pessoas. Isso aconteceu e segue acontecendo nos diferentes países, dos diversos sistemas. E é por isso que um “capital-socialismo de estado” como os que vemos acontecer nos países escandinavos consegue fazer com que o índice de qualidade de vida das pessoas por lá sejam os mais altos do mundo há anos. O que temos em termos sociais aqui é uma piada de mal gosto. Já virou cinza a conquista social do – doa a quem doer – governo Lula, que alavancou verbas para setores miseráveis, fez a pobreza chegar a universidade (viva Marielle!). Que fique claro: não votei no Lula (e nem votaria!) e discordo totalmente da maneira com que ele realizou os pontos positivos de seus governos (longa discussão), que se mostrou inclusive, como eu já dizia a todos na época das “vacas gordas”, insustentável. Então para medidas sociais, que coloquem todo mundo na corrida em condições competitivas – já que a escolha do país parece ser essa, é preciso muito mais inteligência, criatividade, empatia e estudo do que as manobras que são feitas. E não, não vale espremer o dinheiro da classe média e ajudar os pobres. A distribuição de renda passa por ajustes outros de fluxo financeiro, e outros de fluxo de mentalidades.

– Continua –

Arnaldo V. Carvalho, pai, terapeuta, educador, cidadão.

Tentando votar direito (2)

– Tentando votar direito –

Critérios que uso na hora escolher em quem voto

Parte 1: Quem o político deve representar?

É isso aí, temos que votar de novo.

Presidente COM vice, governador local, dois senadores, e dois deputados (um estadual e um federal). Como você fez suas escolhas? As minhas são baseadas numa combinação de valores, visão de vida e sociedade, e muita pesquisa. Então, para saberem como eu aplico essa combinação nos meus critérios de pesquisa, preciso falar um pouco sobre esses valores e visão de vida.

Eu acredito que o mundo social é movido por Ego, e que 100% das pessoas são egoístas. A diferença básica entre elas é que umas satisfazem seus egos através da felicidade alheia, e outras que encontram satisfação somente em si mesmas. A maioria das pessoas sente que a felicidade alheia é importante porque primitivamente somos animais sociais, ou seja, temos uma forte ligação instintual, somos de bando, de matilha, de alcatéia, de grupo (pleonasmo intencional). É isso o que nos faz “bons”, ou “capazes e afins à bondade”. O nome do sentimento que provoca isso é EMPATIA.

Essa crença pode parecer comum, e é fácil de sustentá-la pois há inúmeros artigos científicos sobre empatia, inteligência coletiva, vínculo/apego, ego, egoísmo e generosidade, etc. O que nunca vi em estudos, porém (me ajudem com isso por favor porque deve existir), é o limite dessa formação de bando, do ponto de vista individual. Ou seja, o quanto uma pessoa é capaz de enxergar quem está muito fora de seus laços óbvios – parentes, amigos próximos, colegas de profissão, etc. – como seus pares. E o quanto isso passa por criação?

Ou seja, qual é a capacidade de João de Deus, nascido na periferia de Salvador, querer que Quincas Welch, rapaz classe média seja tão feliz quanto ele, e vice-versa?

No plano da votação, a primeira pergunta que precisei me responder é: estou votando para sentir que minha cor, minha atividade profissional, minha faixa socioeconomica, seja contemplada, ou quero para todos?

Um amigo me disse nas eleições passadas que votaria em fulano porque ele ia cuidar dos interesses do bairro em que ele mora (zona sul, classe alta do Rio), e outra amiga me disse que votaria em ciclano porque ele era o candidato da categoria profissional dela.

São escolhas, e não as julgo. A minha, porém, é por gente que consiga olhar o macro da situação, consiga se distanciar de sua própria realidade, e enxergar o todo da sociedade, não apenas os setores que acredite me trazer retornos/benefícios mais diretos (isso é especialmente importante para os cargos executivos).

– CONTINUA –

Arnaldo V. Carvalho, pai, terapeuta, educador, escritor, cidadão.

Link para a introdução deste artigo: https://arnaldovcarvalho.wordpress.com/2018/09/18/tentando-votar-direito-1/

 

 

Tentando votar direito (1)

Tentando votar direito

Papinho Preliminar

Está difícil votar. E isso eu tenho escutado de tanta gente! Para mim também está. Confio em  pouca gente, em cada vez menos gente no cenário político. Se um candidato (são raríssimos) vencer meus filtros de confiança, então parto pro planos das competências, ideias apresentadas, ações prévias executadas, e suas redes e conexões.

Não sou “de esquerda” – embora assim me acusem muitos amigos “de direita”.

Não sou “de direita” – embora assim me acusem muitos amigos “de esquerda”.

Não sou de um centrão negociador nem um centrão em cima do muro. Mas estou no meio na ideia de que necessidades individuais e coletivas precisam encontrar harmonia e serem atendidas da melhor forma possível.

Isso deve combinar com o fato de que há muito já não tenho idolatrias, não torço para times, não ofereço devoção exclusiva a figura santa nenhuma, não sou de partido nenhum, e sei que ninguém faz nada sozinho.

Mas no campo das vidas exemplares, gosto muito de aprender com o que outras vidas passaram e como agiram e reagiram aos cenários que se apresentaram a elas;

Mas no campo do esporte, adoro um bom jogo, um jogo limpo e bem jogado, de qualquer time, de qualquer esporte;

Mas no campo político, aprecio as ações, e coleciono algumas ideias. As falas não, que estou um bocado cansado delas. As ações – já executadas ou em execução são o cartão de visitas de uma pessoa que esteja em carreira política. As ideias me fazem estudar coerências e direções do sujeito – ainda que não se sustentem sem as ações;

Mas no campo das relações, sei bem o peso que elas possuem. Então para mim não adianta a pessoa aparentemente ter todo o resto e se juntar com quem não presta.

Pronto. Introdução feita a critérios fundamentais que serão sempre parte de minhas escolhas na hora do voto.

Leitor, “Tentando votar direito” é uma série de artigos curtos de minha autoria que vou postar aos poucos, mostrando como estou pesquisando para tentar votar melhor nas eleições de 2018.

É só me acompanhar por aqui (assine o Blog!) ou pelo Face em:

https://www.facebook.com/arnieexplica/

Abraços,

Arnaldo V. Carvalho*

 

* Pai, terapeuta, professor, cidadão.