INSTANTES
Se eu pudesse viver novamente a minha vida
na próxima trataria de cometer mais erros.
Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais
na verdade bem poucas coisas levaria a sério.
Seria menos higiênico
correria mais riscos, viajaria mais
contemplaria mais entardeceres
subiria mais montanhas, nadaria mais rios.
Iria a lugares onde nunca fui.
Tomaria mais sorvete e menos lentilhas
teria mais problemas reais e menos problemas imaginários.
Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata e produtivamente cada minuto de sua vida.
Claro que tive momentos de alegria
mas, se pudesse voltar a viver, trataria de ter
somente bons momentos.
Porque, se não sabem, disso é feita a vida, só de momentos.
Não perca-os agora.
Eu era desses que nunca ia a parte alguma sem um termômetro, uma bolsa d’água quente, um guarda-chuva
e um paraquedas.
Se voltasse a viver, viajaria mais leve.
Se eu pudesse voltar a viver, começaria a andar
descalço na primavera e continuaria assim até o fim do outono.
Daria mais voltas na minha rua, contemplaria
mais amanheceres e brincaria com mais crianças, se tivesse outra vez uma vida pela frente.
Mas, já viram, tenho 85 anos e sei que estou
morrendo.
Don Herold (1889-1966)
NOTA: Esse é mais um apócrifo famoso. Muito antes da Internet ele já ocorria. Traduzido do original em INGLÊS para o espanhol, foi impresso em pôsteres, cartazes, jornais, etc. como de autoria de Jorge Luis Borges. Mais tarde começaram a dar outros nomes de autores, alguns até inventados. A “caça” pelo verdadeiro autor do texto acabou chegando no escritor e humorista Don Herold, que teria escrito o mesmo por volta dos anos 50.
Saiba mais:
Investigação excelente de Betty Vidigal:
http://www.blassoc.com.br/bettyvidigaltextobg.htm
Esclarecimento de Eugenio Siccardi, entre comentário da versão em inglês:
http://www.poemhunter.com/poem/instants/
Conta e Tempo
Deus pede estrita conta do meu tempo
É forçoso do tempo já dar conta;
Mas, como dar sem tempo tanta conta
Eu, que gastei sem conta tanto tempo!
Para Ter minha conta feita a tempo
Dado me foi bom tempo e não fiz nada
Não quis sobrando tempo fazer conta
Quero hoje fazer conta e falta tempo.
Ó vós que tendes tempo sem Ter conta,
Não gasteis esse tempo em passatempo:
Cuidai enquanto é tempo em fazer conta
Mas, ah! Se os que contam com seu tempo
Fizessem desse tempo alguma conta
Não choravam como eu o não Ter tempo!
Laurindo Rabelo (1826-1864)
* * *
NOTA: Mais um belo poema de autoria suspeita. O mesmo também é atribuído a Frei Antonio das Chagas (1631-1682) e outros dizem que é de Laurindo Rabelo (1826-1864). Pode mesmo não ser de nenhum, pois para mim há na linguagem traços que se mostram novos para ambas as épocas. Quem souber da autoria real, por favor me avise. (Arnaldo)