Blogueiro usa o verbete Shiatsu para falar mal contra regras impostas ao seu verbete preferido na Wikipedia – e ainda fica parecendo que a culpa é minha!

Venho por meio de meu Blog pessoal denunciar publicamente a equivocada crítica ao verbete Shiatsu presente na Wikipedia e seus conteúdos, em especial os que contaram com minha colaboração. No artigo sou inclusive acusado de colaborar para obter benefícios comerciais, isso só pra começar. Um horror!

O autor do artigo não me ofereceu chance de defesa, pois a carta que tentei inserir nos comentários não foi aceita. Dessa maneira, a carta passa a ficar publicada aqui, de maneira aberta para quem quiser. Ficam minhas boas vindas ao Igor, que pode obviamente contra-argumentar e quem sabe se sua sensatez lhe propiciar, se retratar pela forma com que lidou com o tema. Ataque gratuito, tiro sem perguntar, o que é isso companheiro?

O artigo do Igor encontra-se publicado em: http://scienceblogs.com.br/uoleo/2013/12/a-wikipedia-em-portugues-e-a-panelinha-editorial-pseudocientifica/ e precisa ser lido antes da carta que abaixo segue.

Arnaldo

Bom dia Igor!

Muito bom o artigo, no sentido da defesa a seriedade da Wiki e seus colaboradores.

Gostaria de defender algumas situações particulares concernentes ao verbete Shiatsu, alvo da análise que sustenta a crítica, e quem sabe colaborar um pouco para que o senhor possa seguir fazendo seu bom trabalho.

Quando encontrei o verbete pela primeira vez, ele de fato era pequeno, e cheio de erros técnicos. Não havia referências bibliográficas também. Como praticante e amante do Shiatsu, achei fundamental que o verbete da maior enciclopédia do mundo fosse um excelente e completo verbete. A primeira medida foi limpar os erros técnicos. A segunda, tornar o texto mais palatável e neutro (há muitas escolas e estilos de shiatsu). A terceira e mais significativa, foi traduzir material a partir das wikis em inglês, italiano, espanhol e francês (não pude ir além por não dominar línguas não latinas além do inglês), e compila-las para o verbete Shiatsu. A página do verbete em inglês de fato é a mais enxuta de todas, o que para mim não é sinônimo de seriedade, mas incompletude. Sabe Igor, fui criado em meio a enciclopédias impressas, e sem dúvida aprendi muito pela antiga Espasa-Calpe, a maior do mundo impressa. Quando eu queria informação rápida, ia na Britânica, na Barsa, Delta-Larousse, Labor, e outras (tínhamos umas 10 diferentes em casa), mas quando eu queria saber muito mais sobre um tema, era na Espasa que eu encontrava textos com mais do que três ou quatro linhas sobre o tema desejado. Talvez isso marque um pouco da diferença de visão entre americanos e europeus, e isso torna as versões linguísticas do verbete bastante antagônicas em concepção, quando se compara a versão em inglês com as das línguas latinas. Sem dúvida o caminho europeu me é muito mais abrangente e completo.

Mas vamos prosseguir. Depois de arrumar medianamente os textos, iniciei o processo de Wikificação por orientação da moderação e do próprio sistema Wiki. Todos os passos definidos nas páginas sobre tal ação foram rigorosamente cumpridos, e em ordem, e notificados devidamente na página de discussão do verbete. Também foi seguido o padrão pedido pelo “Wikipedia: livro de estilo”. Os pilares da Wiki, o senhor bem sabe, são clareza, qualidade da informação (que deve ser verificável) e a imparcialidade. Sob esses três aspectos, fiz o possível para que o verbete alcançasse a excelência. Como o senhor não teceu comentários a respeito da clareza do texto, então pontuarei as críticas no tocante a menção da ciência, e da imparcialidade (onde o senhor acertadamente se preocupa que este ilustre desconhecido esteja buscando tomar proveito da Wiki para obtenção de benefícios econômicos):

A seção “validação e produção” científica tem poucas linhas, e em nenhum trecho desta, ou qualquer outra parte do verbete, o Shiatsu é descrito como científico. Apenas a seção faz referência a um interesse crescente da ciência pelo assunto. Aliás, a ciência tem se mostrado interessada em compreender os mecanismos pelos quais operam uma série de terapias, em especial as que implicam em alguma forma de utilização de energia vital. Abundam estudos sobre o Reiki, Acupuntura, e outros. O Shiatsu está aí também. Se observares a data dos artigos encontrados por exemplo no Pubmed, verá que a medida que o tempo passa o interesse cresce.

O fato da ciência se interessar em compreender não transforma um saber ou uma prática em ciência. Considero que a seção é relevante porque hoje em dia estamos passando por um período de desmistificação e/ou racionalização dos métodos terapêuticos que tem se mostrado eficazes por longos períodos. E a ciência tem papel fundamental nisso, e inclusive em conhecer não só o potencial mas as limitações de uma técnica. Además, se uma terapia alcança alguma popularidade, torna-se do interesse da própria sociedade que ela seja cientificamente investigada, não concorda? Fazer notar a embriogênese deste processo é sim relevante. Mas vale saber fazer que os professores de Shiatsu que defendem um “Shiatsu científico” constitui a porção minoritária.

A maioria considera que a introdução da racionalidade científica no tocante sobretudo à PRÁTICA é mais contraprodutiva do que benéfica. Os argumentos giram em torno da capacidade intuitiva e da razão não facilitar a promoção do equilíbrio energético na relação terapeuta-atendido. Obviamente a questão da “energia vital” é tema de discussões muito fora do escopo de seu artigo e de minha participação, mas vêm sendo alvo de investigação científica praticamente desde o surgimento do próprio método científico e é uma sugestão de abordagem para um artigo posterior de sua autoria.

Concordo que a seção supracitada precisa de revisão e novas colaborações. Ficarei bem satisfeito quando isso acontecer! Seria muito útil que o senhor ao verificar que há centenas e não milhares de citações, então imediatamente corrigisse o mesmo (já não lembrarei como cheguei por pesquisas à casa do milhar). Por não lembrar e não dispor do tempo para uma nova verificação, já fui lá alterar o trecho, confiando integralmente em vossa pesquisa.

Não é um problema para um verbete haver um colaborador ativo. O problema é haver poucos ou apenas um colaborador profícuo. Para o verbete Shiatsu, fui às comunidades de Shiatsu nas redes sociais, logo no início do meu trabalho, e pedia que entrassem e participassem. A adesão a participação é baixa, infelizmente. Pouca gente se interessa em aprender a usar o sistema, ler as regras da Wiki, incluir conteúdo relevante e imparcial. Como seria bom se minhas contribuições correspondessem a 0,1% do verbete, não porque fossem menos, mas porque o verbete seria amplamente enriquecido por uma quantidade e diversidade de especialistas!

Sobre outros aparentes equívocos de informação, não sei bem onde encontraste a informação sobre o Shiatsu ser milenar. Não voltarei lá, mas se essa informação errada foi inserida em algum momento, não foi por minha pessoa. E não me admiraria se, caso tenha visto essa informação, de tê-la eliminado, porque seria incorreto. O próprio verbete principia explicando exatamente que o Shiatsu surgiu na virada do sec. XIX para o XX.

Em relação a remoção das contraindicações, o fato é que quanto mais se aprende sobre Shiatsu, mais se observa que seus benefícios se estendem a sãos e enfermos de todos os graus e idades. Talvez você não saiba, mas cada vez mais o Shiatsu tem sido indicado como terapia complementar em oncologia. Aliás, em novembro passado a Associação Brasileira de Shiatsu recebeu Mercedes Avellaneda, uma profissional argentina que por mais de vinte anos vêm sendo indicada pelos médicos de Buenos Aires para tratamento complementar do câncer. É um tema que ainda é pouco conhecido no Brasil, que tem uma formação bastante deficiente em Shiatsu (um curso da técnica na Europa tem entre 3 ou 4 anos, na Argentina 2 a 3 anos, no Brasil apenas meses). Em Madrid, ninguém me contou, eu VI os bebês sendo tratados em UTIs neonatais com Shiatsu – belíssimo trabalho coordenado pelo espanhol Arturo Valenzuela, e que vem se ampliando para diversas áreas dos hospitais públicos de lá. Será o Shiatsu “só mais uma massagem”? Convido-o a conhecer mais a fundo a terapia e suas bases.

Nota benne: não estamos falando de Shiatsu como método de cura, mas de tratamento. O Shiatsu se funda em cuidar da pessoa e não de lidar com doenças, e sob este paradigma opera seus resultados, coadjuvantes às diversas iniciativas curativas que venham a ser adotadas por quem o pratica.

Sobre o julgo de ter colaborado com a Wiki com intenções comerciais, considero a afirmativa tola ou ingênua (má fé tenho certeza que não é). Claro que quando um especialista participa da Wiki em verbete que lhe é tema de estudo, recebe o benefício de tornar seu tema predileto mais e melhor conhecido, e isso eventualmente pode despertar o interesse do leitor em aprofundar-se. Se o benefício indireto de tal fato pode aleatoriamente fazer com que alguém venha buscar por uma aula ou terapia com o profissional que colaborou com a enciclopédia, então os especialistas devem ser todos proibidos de escrever, pois isso é inevitável! Tomei e tomarei sempre o cuidado da imparcialidade. Não há menções diretas a minha pessoa no verbete, e por mim nem haverá a menos que em algum momento minha vida profissional ofereça alguma colaboração contundente e marcante no cenário do Shiatsu. Quanto as menções indiretas, está citado o meu livro “Shiatsu Emocional”, que trata em especial de minhas investigações acerca das possibilidades de convergência teórica entre os princípios do Shiatsu e das psicoterapias de base analítica e reichiana. Ele foi editado em 2007 sob o selo Portal Verde, que por sua vez está apenas mencionado como editora na referência bibliográfica. Devemos retirar o livro porque o colaborador é seu autor? Ele deve ser retirado mesmo sendo relevante e tendo sido mencionado em função do texto corrente? Deve ser retirado da bibliografia mesmo tendo sido usado na colaboração, sendo ainda um dos poucos livros de Shiatsu de autor nacional?

Uma informação ligeira: O Portal Verde é uma marca que funciona como uma Ong, e além da edição do livro, é um site que disponibiliza uma série de artigos sobre saúde natural, de diversos autores, sendo um serviço não lucrativo que presto por ideologia própria. Mas isto não é utilizado em momento algum do verbete, não tem porque. Mas aproveitando o parênteses, ao contrário do afirmado, meu currículo não está lá, e sim em: http://www.arnaldovcarvalho.com

Agora, achei bem curiosa a associação do Shiatsu como uma “terapia de brancos” em função de sua pesquisa no Google Imagens. O Shiatsu, como sabe, é de origem japonesa. Coloque na ferramenta de busca o termo em Kanji: 指圧 e a predominância das imagens passa a ser de pessoas orientais. Infelizmente, pessoas com traços afro e/ou indígenas são menos vistas pelo mesmo infortúnio pelo que passam todos os descendentes dos povos oprimidos por dominação territorial pela força, espúria e sem sentido: acesso atrasado a terapias que chegam às Américas e a Europa através de pessoas com situação socioeconômica mais privilegiada.

O senhor deseja com razão que tão breve como possível as notificações da moderação observáveis no verbete “Pseudociências” seja removida. E eu faço coro, incentivando-o a seguir o mesmo processo que segui, descrevendo cada passo seu na página de discussão do verbete. Foi assim que aos poucos, as notificações da moderação foram sendo removidas. O pedido para que a página do verbete Shiatsu seja Wikificada retornou, e com certeza já é hora de revisão, melhoria, ampliação. Rogo que ocorra logo e repito, com colaborações de muitos outros usuários, principalmente de especialistas.

Torço para que o senhor um dia experimente as “dedadas” do Shiatsu, desmanche a má impressão e reforce suas energias para continuar o bom combate à informação desencontrada, à pseudociência e ao charlatanismo.

Um abraço, e no que precisar ou desejar fico a disposição. Bom 2014!
Arnaldo