Pelo fim da hipocrisia – Carta de Marcos Palmeira sobre a tragédia da Região Serrana do Rio

Dono de fazenda em Teresópolis, ator pede fim da hipocrisia

” Tenho a fazenda Vale das Palmeiras há 15 anos e nesse tempo todo venho acompanhando o aumento do desmatamento na região sem que nada seja feito. Vejo leito de rio sendo desviado sem que nada seja feito; vejo o aumento das construções irregulares sem que nada seja feito. Eu, lá no meu canto, tentando preservar, e o poder público ajudando a destruir.

Então, em mais um verão do descaso, a chuva leva tudo e todos! Vamos culpar a natureza? Ora, chega de hipocrisia! Se não tomarmos uma providência, se não cobrarmos dos políticos uma ação enérgica, ficaremos anos vivendo momentos como esse, onde todos se colocam para ajudar, mas os que tinham condições reais de ajudar nada fizeram! É revoltante!

Estou com a população: nesse momento vale a solidariedade e não a reclamação. Nós estamos ilhados, sem comunicação, mas não paramos de agir um minuto sequer. Nós e todos os vizinhos! Nesse momento a união vale mais do que mil palavras.

Até quando vamos acreditar que ” agora ” as coisas vão mudar? Estou revoltado porque o povo trabalhador, honesto, acredita e confia, e os políticos aproveitam para atuar em benefício próprio. Não estou culpando esse ou aquele governo, já que o problema vem de anos, mas está na hora de darmos um basta nessa hipocrisia! Vamos cobrar e fiscalizar!

Temos que entender que o desmatamento como um todo no Brasil ajuda para que essas catástrofes aconteçam! Nós, da Vale, estamos na luta! “

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– Marcos Palmeira doou para os desabrigados de Teresópolis 50 toneladas de legumes e verduras orgânicas, toda a produção de sua fazenda nas últimas semanas. –

kits para doações: como fazer

Uma boa forma de ajudar as cidades afetadas pelas fortes chuvas e enchentes consequentes é através doações ordenadas. Foram criados kits básicos para as áreas essenciais da vida. Eleja o kit que considerar mais interessante e envie aos postos doadores. De bônus, compre máscaras anti-poeira, pois em estradas antes tomadas pela lama agora há nuvens de poeira que espalham-se por toda a parte. (Arnaldo)

 

KIT Bebê

Amido de Milho

Fralda descartável

Biscoito Maisena

Leite NInho

Neston

Papinha Nestle

Geleia de Mocoto

Leite em pó infantil

Hipoglós

Lenço umidecido

Shampoo Infantil

Escova de cabelo infantil

Chupeta

Sabonete neutro infantil

 

KIT Cesta Básica

Suco

Sal

Óleo

Massa de tomate

Macarrão

Leite em Pó

Lata ( atum, sardinha, milho, ervilha, etc…)

Fuba

Feijão

Farinha

Café

Biscoito Salgado

Biscoito Doce

Arroz

Açucar

Achocolatado

 

KIT Higiene

Absorvente

Algodão

Condicionador

Cotonete

Desodorante

Escova de dente

Fio dental

Pasta de dente

Pente/escova

Prestobarba

Sabonete

Shampoo

 

KIT Limpeza

Aguá Sanitária

Álcool

Bombril

Balde

Amaciante

Desinfetante

Detergente

Escova

Esponja

Marial inseticida

Pano de Chão

Rodo

Sabão em barra

Sabão pastoso

Sacos de lixo

Vassoura

Atualize os drivers e tire o máximo potencial de seu computador!

Dicas de Computador por Arnaldo V. Carvalho

Talvez você não saiba, mas o sistema operacional, ou seja, o programa que controla a “parte máquina” do seu computador, precisa de outros programinhas, chamados “drivers”, que servem para ele controlar diversos componentes. Através dos drivers, é que ele consegue controlar e te dar o controle do mouse, da unidade de CD, de USB, do teclado, e mesmo de sua tela.

Ocorre que, depois que você adquire seu equipamento, os fabricantes continuam atualizando os drivers, muitas vezes melhorando suas funções. Estar com um computador com drivers corretos e atualizados significa um computador com mais desempenho: mais rápido, com menos possibilidades de dar erro (inclusive os chamados “travamentos”, as telas azuis, entre outros), e as vezes até mesmo com recursos extras (como por exemplo aumento de resolução da tela).

Por isso mesmo, vale a pena atualizar todos os drivers. Mas como um leigo consegue fazer isso? Agora é fácil! Tem muitos programas que podem ajudar a fazer isso. Eles analisam o computador, seus componentes e os drivers para eles instalados, buscam na Internet pelos novos, e os instalam ou ajudam a instalar. E o melhor: existem alguns gratuitos. Segue uma lista de indicações:

Device Doctor – identifica menos drivers desatualizados, e de forma menos clara, mas funciona razoavelmente bem.

Driver Easy – Bom programa, interface simples de usar, analisa o computador rapidamente… Mas na hora de fazer o download dos novos drivers é uma lesma, pois é esse o diferencial da versão gratuita (limita a conexão) para a versão paga.

Slimdrivers – Nosso campeão, pois tem velocidade para analisar e baixar, gerencia todo o processo de forma limpa, clara e rápida. Totalmente gratuito! RECOMENDO!

Qualquer dúvida sobre a utilização, basta me procurar ok! Boa sorte!

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Tragédia da Região Serrana do Rio

Amigos, talvez eu diminua os contatos com todos na próxima semana. Nenhum compromisso profissional ficará para trás. Meus parentes que vivem na Região Serrana do Rio estão bem. Mas meu coração pede que eu busque ajudar, e na prática isso poderá significar minha ida para lá esses dias.

Caso eu não atualize o Blog nos próximos dias, não se preocupem. Peço a todos os que puderem, que ajudem na tragédia da Região Serrana, de acordo com as seguintes orientações da notícia abaixo. Grato, Arnaldo

 

Com as fortes chuvas ocorridas nos últimos dias, as cidades de Teresópolis, Friburgo e Petrópolis estão com centenas de pessoas desabrigadas e desalojadas. Veja como ajudar as vítimas das enchentes:

Doações em produtos:

Cruz Vermelha
A Cruz Vermelha está recebendo doações na Praça da Cruz Vermelha, 10 – Centro do Rio.
Estão sendo arrecadados: água mineral, alimentos de pronto consumo (massas e sopas desidratadas, biscoitos, cereais), leite em pó, colchões, roupa de cama e banho e cobertores.

Polícia Rodoviária Federal
Postos da PRF que receberão doações:

BR-116: KM 133 (Doações 24 horas)
BR-101: KM 269 (Doações 24 horas)
BR-040: KM 109 (Doações das 8h às 17h)
BR-116: KM 227 (Doações das 8h às 17h)

Maior necessidade é por água, leite em pó, materiais de higiene e limpeza e colchões.

Rodoviária Novo Rio
Avenida Francisco Bicalho, 1 – Santo Cristo
A Rodoviária Novo Rio recebe doações para a Cruz Vermelha. Os donativos são recebidos no embarque inferior, das 9 às 17 horas.

Polícia Militar
Todos os batalhões da Polícia Militar do estado serão centros de recepção de doações. Comandantes dos batalhões recomendam que sejam doados água mineral, alimentos não perecíveis e material de higiene pessoal.

Doações em dinheiro:

Diversas instituições de auxílio abriram contas para receber doações em dinheiro, que podem ser feitas por pessoas de todo o país:

Cruz Vermelha
Banco Real
Ag. 0201
C/C 1793928-5

Viva Rio
Banco do Brasil
Ag.: 1769-8
C/c.: 411396-9
Viva Rio
CNPJ: 00343941/0001-28

SOS Teresópolis – donativos
Banco do Brasil
Agência: 0741
Conta: 110000-9.

Doação de sangue:

HemoRio
O HemoRio precisa de doações de sangue para atender os feridos. Foram solicitadas até agora 300 bolsas de sangue, mas o Hemorio não tem como atender. Para doar sangue, o endereço é:
Rua Frei Caneca, 8, Centro do Rio.
Doações podem ser feitas todos os dias de 7h às 18h.

Doações locais:

Quem mora nas regiões afetadas pode ajudar doando diretamente para os posts de coleta da cidade. Veja abaixo:

Petrópolis
Há pontos de recolhimento de donativos nos seguintes endereços:

Centro de Cidadania de Itaipava, na estrada União da Indústria;
Igreja Wesleyana, no Vale do Cuiabá;
Igreja de Santa Luzia, na Estrada das Arcas;
Sede da Secretaria de Trabalho, Ação Social e Cidadania, na rua Aureliano Coutinho, 81, no centro da cidade.

Estão sendo recebidas doações de água, colchões e materiais de limpeza e higiene pessoal.

Teresópolis
Há pontos de recolhimento de donativos nos seguintes endereços:
Ginásio Pedrão – Rua Tenente Luiz Meirelles, 211 – Várzea.
Estão sendo arrecadados: alimentos, roupas, cobertores, colchonetes e itens de higiene pessoal.

 

Um abraço a todos,

Arnaldo

Palestra sobre Pensamento Reichiano em Niterói, RJ (via Shiatsu Emocional)

Peço que divulguem… Atendendo a pedidos, estarei repetindo a palestra gratuita nesta sexta-feira, dia 14, das 18:30 às 20:30horas, no mesmo local:   CENTRO DE ESTUDOS WILHELM REICH Rua José Bonifácio, 29 – 2º andar São Domingos – Niterói/RJ.   Para esse tipo de encontro não é necessário fazer inscrição e está aberto para estudantes e profissionais; pode, inclusive, convidar amigos e pessoas que tenham interesse em conhecer o Pensament … Read More

via Shiatsu Emocional

O Medo da Queda (Fernanda Carlos Borges)

A Vontade de Mudança e o Medo da Queda

Fernanda Carlos Borges é filósofa e doutora em comunicação e semiótica, estudiosa de Ciências Cognitivas, Reich e abordagens neo-reichianas.

A linha mestra da filosofia patriarcal é caracterizada pela tendência a conceber um mundo hierarquizado, que submete o corpo aos ideais transcendentais. Por exemplo, Aristóteles, “como um homem do seu tempo, teimará em provar que ‘a mulher não engendra por si mesma (…) a fêmea não possui a mesma alma que o macho. A alma cognitiva só se transmite através do macho” (BADINTER. 1986, pg.110). No entanto, uma outra tradição de pensamento vem conquistando espaço significativo desde o século XX. Manteve-se viva e minoritária ao longo dos séculos, resistindo à hegemonia do patriarcado, chegando agora a um momento de grande expressão, o que sugere uma mudança no eixo oficial da filosofia. Esta tradição atribui valor ao transitório, à perspectiva enraizada no corpo, ao poder vital da mulher.

No final do século XIX, Nietzsche desenvolveu uma potente crítica à tradição filosófica oficial da cultura ocidental, responsável pela operação perversa que permitiu afirmar que o principal valor da vida é a superação da vida: o transcendente, o paraíso, o imutável. Oswald de Andrade nos lembra que “Friedrich Nietzsche afirmou que o habitat dos grandes problemas é a rua” (ANDRADE. 1995, pg.102).

São muitas as palavras que correspondem ao mesmo tempo ao corpo em movimento e às operações ‘mais elevadas’ do espírito: posição e força da posição, postura e impostura, atitudes e atitude existencial, o caminho e do reto caminho, perder o rumo e achar o rumo, inventar caminhos, entre tantas outras similares. O estudo do cérebro deve ser acompanhado pelo estudo dos movimentos dos músculos, com ao quais nos organizamos e nos relacionamos no mundo. Nietszche chama a atenção para a perspectiva, colocando-a no lugar da verdade universal e incorpórea, a qual acabaria sempre por legitimar a negação da vida. O sistema sensório motor, antes de tudo, elabora e forma perspectivas.

O sistema muscular não responde a uma forma perfeita e definitiva, está mais para um sistema aberto a se formar nas relações. O sistema sensório motor permite falar em contradição, em composição da contradição, em síntese, sem supor uma totalidade unificadora destas contradições. No entanto, a pouca margem de flexibilidade de um padrão de movimento dificulta a percepção das novidades emergentes, como se o sujeito, neste caso, impusesse seu mundo ao momento, colocando-se como referência totalizadora. O movimento ou a sustentação do corpo só é possível através da síntese de forças contrárias. Estas oposições não são fixas e nem sempre são as mesmas, mas múltiplas e dependentes das relações nas quais estão vinculadas, não têm uma essência oculta que as fundamente “em si”, independente do contato. O centro de gravidade, que harmoniza estas partes com relação à gravidade e possibilita o equilíbrio, também não corresponde a uma coisa que está no homem e “se coloca para fora”, o equilíbrio biomecânico não acontece “dentro” para, depois, ser “manifestado”. Não pensamos antes de agir. O equilíbrio é automático, singular e uma resultante contínua de compensação e integração das forças do conjunto. Então, o comum não é o semelhante, a média, mas o composto, o que está em relação, sem o que nada “em si” faz sentido. Seria o mesmo dizer: na diferença somos o mesmo.

As forças musculares que organizam nossa sustentação e movimento podem ser entendidas como vetores. Pode-se imaginar uma teia tecida por estes vetores de força, uma teia móvel, onde o sentido é continuamente mantido e transformado, e cada um de nós sintetiza de algum modo estas forças, mobilizando-as. Esta compreensão do sentido envolvido nos vetores não diz respeito a uma subjetividade isolada do contato, não diz respeito apenas ao sujeito. Tampouco diz respeito a uma origem transcendental e exterior que justifica os acontecimentos do mundo. Aparece aqui uma relação intrínseca entre a consciência e a comunicação, porque as forças envolvidas nestes vetores podem ser compreendidos também como informação. Esta informação é a forma do corpo, e o movimento que sugere: a atitude.

As atitudes estão envolvidas com fluxos de força que só se definem com clareza na ação. Estes fluxos de força correspondem aos processos de pensamento, de ponderação, se processa com uma certa autonomia, independente de um querer autônomo. Trata-se de um pensamento envolvido com a oscilação contínua do corpo, oscilação que aumenta quando uma situação nova nos surpreende. Os afetos que abalam o corpo provocam sensações e imagens que serão espontaneamente transformadas em uma composição vetorial, a partir da qual as coisas adquirem este ou aquele sentido, direção, significado. A composição vetorial não é idêntica ao desenho anatômico dos componentes do corpo, está mais próxima dos processos comumente chamados de racionais, mas trata-se de uma razão corpórea, e não transcendental.

Não existe uma subjetividade preservada do corpo na rua, autônoma e auto suficiente da experiência e do contato. Nossa biomecânica não é como uma máquina sem desejos, emprestada aos desejos de um fantasma que a dirige. Precisamos levar em consideração nossa biomecânica se quisermos compreender o que, quem ou, principalmente, como somos. Este enraizamento da subjetividade na biomecânica é importante porque foi por causa do comprometimento da mecânica do corpo com as leis naturais, em detrimento da liberdade da subjetividade humana, que fez Descartes identificar o homem com a razão não corpórea, como um Fantasma dirigindo Máquina1, e implica em uma determinada relação de poder: a humanidade incorpórea do homem move a mecânica do corpo. Que é o mesmo que: o pensamento domina o corpo, o espírito domina a natureza – e tais pares desembocam em outros, tais como o adulto domina a criança, o homem domina a mulher.

O biomecânico também tem poder sobre a “humanidade”, é mesmo condição dela. O jeito se acha fazendo, e não através de uma instância não corpórea que dirige a ação. Pensar antes de agir não é como deliberar antes de executar, mas imaginar movimentos. E explicar, etimologicamente, quer dizer: desfazer pregas. Em outras palavras, para que o corpo não fique dobrado e preso numa dobra. Explicar é desprender – ou seja, um movimento que leva a perceber como transita a força de um objeto para outro, fazendo os objetos mudarem de posição, distância e forma. Os movimentos do corpo estão envolvidos em, pelo menos, dois terços do cérebro, o que permite supor que a variabilidade dos movimentos do corpo é a mesma ou análoga aos possíveis estados cerebrais: beirando a noção de infinito. Não precisamos negar o corpo para alcançar o infinito, pois o infinito também está nas dobras das nossas articulações. Estamos falando de um processo de abstração que é, ao mesmo tempo, objetivo e subjetivo. Nenhuma ação pode ser atribuída a uma subjetividade absoluta, pois tudo o que fazemos está sujeito “ao mundo próprio da ortostática, dentro do qual o homem permanece de pé e fora do qual, cai” (GAIARSA. 1988, pg.155).

Esta ligação da razão com processos inconscientes remete ao conceito de vontade. Descartes a compreendeu como uma alavanca que provoca a ação, a mando da razão, depois que a razão conclui a respeito do que fazer, ou seja, o conhecimento racional deve anteceder ao movimento do corpo. Ou seja, é preciso conhecer antes de fazer. Hoje é possível dizer que o conhecimento prévio está comprometido com a memória e com o passado. O que está definido corresponde ao passado, ao que já foi organizado, sistematizado, resolvido: corresponde à memória. Quando se trabalha com a emergência da novidade, a vontade não pode ser entendida como uma alavanca do conhecimento prévio, pois o passado não pode resolver uma situação nova. A vontade está mais próxima das pulsões do corpo, como uma força auto organizadora que tem uma certa independência da memória, movida pelo futuro. A memória funciona mais como parâmetros que serão transformados. Os parâmetros da memória estão envolvidos com o sistema muscular, quer dizer, com a organização das posições e das atitudes do corpo, o que permite concluir que o passo seguinte sempre depende do passo anterior, mas não é, necessariamente, consequência dele. Mesmo Freud percebeu a vontade como um impulso motor: “desejos são acompanhados de um impulso motor, a vontade, que está destinada, mais tarde, a alterar toda a face da terra para satisfazer seus desejos. Esse impulso motor é a princípio empregado para dar uma representação da situação satisfatória, de maneira tal que se torna possível experimentar a satisfação por meio do que poderia ser descrito como alucinações motoras” (FREUD. 1969, pg.106).

Novamente, então, a perspectiva como questão fundamental. A questão da perspectiva é uma questão de posição, com tudo que esta palavra tem de conotação social, psicológica e existencial. Os centros de gravidade do corpo estão relacionados com o self, enquanto princípio organizador da consciência. Uma estrutura corporal tão instável e articulada exige uma elaboração contínua e sofisticada dos movimentos através dos centros de gravidade do corpo. Isso acontece espontaneamente e no ‘invísível’, pois os centros de gravidade não serão achados em nenhuma parte do corpo, nem no cérebro. Estão no espaço, organizando nosso corpo e a relação deste corpo com os outros corpos. Nossa existência poderia ser assim expressada: nosso sistema sensório motor move… nossa humanidade! Corresponde a uma filosofia que entende que as concepções humanas têm relação com a composição de forças, tendências de movimento, inclinações, envolvidas nos posicionamentos e nas atitudes dos corpos nas situações.

Reich, discípulo de Freud, separou-se do mestre, pelo qual tinha um profundo respeito, porque não concordava com algumas das hipóteses de Freud, como o instinto de morte, Tanatos. Para Reich, Tanatos não era um instinto, mas uma energia de decadência: “hoje sei que ele pressentia algo no organismo humano que era mortal. Mas ele pensava em termos de instinto. Assim, chegou ao termo instinto de morte. Isso estava errado. ‘Morte’ estava certo, ‘instinto’ estava errado. Porque não se trata de nada que o organismo deseje. É algo que acontece no organismo. Logo, não é um ‘instinto’(…). Ele era teoricamente muito bom. Devem permitir-se erros a um homem que tem que lidar com uma área tão vasta como a do inconsciente” (REICH. 1977, pg.90). Reich estava preocupado com o NÃO à vida, cujo bom exemplo é o nascimento de uma criança: a gestação num útero ‘a-aorgonótico’ (com pouca vitalidade), num parto onde as crianças eram separadas das mães logo no momento do nascimento, característica das maternidade européia do seu tempo, ficavam horas sem comer e depois encontravam mães que sem leite e nem condições de receber bem, biológica e afetivamente, seus bebês, bebê cujo afeto será sistematicamente reprimido ao longo da vida. Ele diz que esta situação desenvolve “o NÃO, o despeito, a recusa, a ausência de opinião, a incapacidade para resolver o que quer que seja. As pessoas são insípidas, inertes, indiferentes. E assim, desenvolvem os seus pseudo contratos, falsos prazeres, falsa inteligência, as coisas superficiais, as guerras, etc. As implicações são profundas (…) Enquanto isso continuar, nada acontecerá na direção correta. Nada! Nem constituições, nem parlamentos, nada ajudará” (REICH. 1877, pg.42).

Gaiarsa também não concorda com o instinto de morte proposto por Freud, mas desenvolve sobre Tanatos uma idéia diferente da desenvolvida por Reich, que o entendia como uma qualidade de morte, como uma energia de “qualidade pantanosa. Sabe o que são pântanos? Água estagnada, morta, que não corre, que não metaboliza” (REICH. 1977, pg.90). Embora não se coloque contra a hipótese de Reich, não a reforça. E propõe a hipótese de que Tanatos corresponde às forças não vivas que agem no corpo, mas que no entanto são fundamentais para o desenvolvimento de alguns seres vivos: “tensão mecanicamente necessária (por vezes digo apenas mecânica), é aquela que decorre de nosso peso, inércia e exigências de equilíbrio; além do mais, é aquela determinada pelo objeto que manipulamos, e que se solidariza mecanicamente conosco” (GAIARSA. 1988 pg.67). Mas estas tensões participam das relações humanas e dos processos da consciência. Não estão isoladas nem separadas das forças vivas. Estas são o que ele chama de tensões não mecânicas: “tensões não mecânicas são as tensões afetivas, que armam e moldam o corpo em função de um desejo, um temor ou um instinto” (GAIARSA. 1988, pg.67), estas correspondem a Eros.

Na postura acontece a ligação entre a morte de Tanatos e a vida de Eros, porque a “postura de um ser é sua forma dinâmica ou tensional, aquela forma de estar que ele mantém à custa de esforço ativo e contínuo. Essa forma tensional não se confunde com sua estrutura. Esta é a soma de suas partes rígidas, ossos, carapaças, dentes, unhas” (GAIARSA. 1988, pg.190). A postura depende da relação, embora esteja sempre comprometida com as estruturas com as quais conta. A estrutura do corpo humano é bastante instável e móvel, o esqueleto tem inúmeras articulações e o fato de sermos eretos aumenta muito as possibilidades articulares. Então, “o corpo humano pode assumir um número ilimitado de formas – posições – nenhuma delas podendo ser chamada de “natural” em prejuízo das demais” (GAIARSA. 1988, pg.169). E por isso experimentamos aquilo que chamamos liberdade: não temos forma determinada. A instabilidade e versatilidade estrutural e dinâmica da postura humana corresponde a dois eixos fundamentais da questões existenciais: atitude e posição.

Tanatos, então, não corresponde ao desejo de morte, como disse Freud, mas ao não vivo no homem. No entanto, como Freud, corresponde à resistência à mudança. Qualquer mudança eqüivale a uma mudança no padrão da ação. E essa mudança compromete a postura e o equilíbrio do corpo, então a resistência à mudança é uma resistência ao tombo, e resistimos ao tombo porque arriscar-se a cair é como ficar vulnerável ao ataque do predador. Mas Gaiarsa observa que não é somente assim que estamos relacionados com Tanatos: um movimento inibido faz aumentar a sensação de peso e massa. E aqui pode ser relacionado como NÃO à vida, do qual Reich fala. Esta identificação do corpo com coisa permite um desenvolvimento intelectual cujo caminho pode se dirigir contra a vida. Reich percebeu que “a função intelectual é ela própria uma atividade vegetativa, e segundo, a função intelectual pode ter uma carga afetiva não menos intensiva que a de qualquer reação meramente afetiva. O trabalho caráter-analítico, além disso, revela uma função defensiva específica do intelecto. A atividade intelectual tem muitas vezes uma estrutura e uma orientação tais que transmite a impressão de ser um aparelho extremamente inteligente, precisamente pela evitação dos fatos, de ser uma atividade que realmente deprecia a realidade” (REICH. 1977, pg.70). Portanto, em Gaiarsa, Tanatos corresponde a algo que faz parte da vida humana, como em Freud, assim como de algo que ‘acontece’ na vida humana, mas poderia ser evitado, como em Reich. Tanatos trabalha em parceria com Eros. Eros supera a passividade de Tanatos e encontra nele uma força cooperativa.

Toda ação reprimida se faz posição e atitude, quer dizer, em pré-disposição para aquela ação: para segurar um soco as pessoas apertam as mãos. Portanto, a repressão impede a ação mas não impede a formação de atitudes, que serão sempre ambíguas. Esta preparação é o inconsciente: o corpo visível e sensível, que na maior parte das vezes está fora do foco da atenção. Neste processo está envolvido um sentimento de divisão: uma força do bem, que segura, e uma força do mal, que está pronta para agir. Uma divisão que não elabora a contradição, porque a força inibida é entendida como o ímpio, não pode ser integrada. Os processos biomecânicos estão comprometido com uma inibição inevitável e indispensável para a manutenção contínua do equilíbrio. Tanto uma inibição inerente do sistema biomecânico quanto das forças do ambiente. Devemos entender que muitos conflitos e temores que vivemos são coletivos. Sofremos muito quando atribuímos a uma deliberação auto suficiente do sujeito a responsabilidade por questões de equilíbrio, que estão fora de um controle deliberativo, como o medo da queda e os reflexos posturais. Assim, “uma atitude inconsciente – má preparação – nos põe deslocados na situação; daí em diante os erros se somam e, se não houver um bom humor salvador, poderá haver tragédia” (GAIARSA. 1988, pg.98). Tão imperativo quanto o temor da morte é o temor do próximo passo, o temor da queda.

Do ponto de vista da motricidade humana, as coordenadas fundamentais: posição, orientação, localização e conformação, são parâmetros não fixos, momento estável de uma simples organização do movimento, estão comprometidas com a necessidade de manter o equilíbrio nas relações em curso. E toda força exercida sobre o corpo provoca um movimento que a absorve, devolvendo-a, de um certo modo, ao mundo. No entanto, pode-se resistir àquilo que afeta o corpo, e entender essa força como uma força do mal que impede a perpetuação do mesmo, do esquema idealizado perpetuado na fixação dos parâmetros envolvidos na forma do corpo. Esta resistência é contra a percepção, aceitação, afirmação e assimilação do diferente. São forças que podem chegar à expressão conservadora, colocar-se-ão então contra o contato, contra o afeto, apegadas a um mesmo padrão de movimento, de ação, serão forças reativas, agindo repetidamente. Este movimento é característico de todas as religiões apoiadas na luta do bem contra o mal, num mal objetivado, exterior, com relação ao qual deve-se manter puro, e para tanto deve-se reproduzir um modelo de comportamento universalmente válido.

A dificuldade em alterar os padrões de equilíbrio eqüivalem a impor determinado mundo ao momento. Epistemologicamente, corresponderá à sensação subjetiva de dominar a verdade e, eticamente, à necessidade de defendê-la, impondo-a através da dominação. Com relação à comunicação, corresponderá a um modelo de comunicação apoiado na persuasão. No extremo, chega ao rompimento e à desagregação. Um outro movimento pode desenvolver implica o valor da compreensão, que é a ênfase que Morin dá à consciência da culpa: “e regresso ao lugar da minha fé: a possibilidade de arrependimento e de redenção, a virtude do perdão. Contra os ‘castigai’, ‘castigai’, ‘castigai!’, há as palavras sublimes: ‘Perdoai-lhes porque não sabem o que fazem’. ‘Eles não sabem o que fazem’ não é somente uma verificação de antropossociólogo para quem, como mais ou menos Marx dizia no princípio da Ideologia Alemã, os homens não sabem nem quem são nem o que fazem. É a expressão do verdadeiro conhecimento (das engrenagens, das possessões, do paradoxo do ser humano) que subjaz a mensagem, superior à injustiça e à justiça, do perdão sobre a cruz” (MORIN. 1995, pg.85). Isso lembra Reich, que acredita ter sido o erro de Jesus aceitar ser o salvador: armadilha que o impediu de defender-se.

BIBLIOGRAFIA

FREUD. Sigmund. Totem e Tabu e outros trabalhos. Edição Standart Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Volume XIII. Rio de Janeiro: Imago Editora ltda, 1969.

completas de Sigmund Freud. Volume XXI. Rio de Janeiro: Imago Editora ltda, 1974.

GAIARSA, J. A. “A Estátua e a Bailarina”. Ed. Ícone, São Paulo, 1988, 2a. edição.

MORIN, Edgar. Os Meus Demônios. Portugal: Publicações Europa América, 1995.

PINKER, Steven. The Blank Slate. New York: Penguin Books, 2002.

RAMACHANDRAN, V.S. e Sandra Blakeslee. Fantasmas no Cérebro. Uma investigação dos Mistérios da Mente Humana. Rio de Janeiro: Editora Record, 2002.

REICH, Wilhelm. Análise do Caráter. São Paulo: Martins Fontes, 1995.

______________ O Assassinato de Cristo. São Paulo: Martins Fontes, 1995.

1 Expressão tornada conhecida pelo filósofo Gilbert Ryle , em O Conceito de Espírito, 1970.

 

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Texto liberado pela autora para publicação nos Blogs Arnaldo V. Carvalho, Portal Verde e Shiatsu Emocional. Consulte Fernanda Carlos Borges antes de republicar.

De um Pai para suas Filhas

Apenas nesta manhã, eu vou deixar a louça na pia e, deixar! você me ensinar a montar seu quebra-cabeças.

Apenas nesta tarde, eu vou desligar o telefone, manter o computador fora do ar e, sentar-me com você no quintal e soltar bolhas de sabão.

Apenas nesta tarde, eu não vou gritar nenhuma vez, nem mesmo resmungar, quando você gritar e acenar para o carrinho de sorvetes; e vou comprar um se ele passar.

Apenas nesta tarde, eu não vou me preocupar com o que você vai ser
quando crescer.

Apenas nesta tarde, eu vou deixar você ajudar-me a assar biscoitos e não vou ficar atrás de você, tentando consertá-los.

Apenas nesta tarde, vamos ao McDonald’s e, comprar um Mc Lanche Feliz para nós dois, para que você possa ganhar dois brinquedos.

Apenas nesta noite, vou segurá-lo em meus braços e, contar-lhe uma
história sobre como você nasceu e, como eu amo você.

Apenas nesta noite, eu vou deixar você espirrar a água da banho e não ficar nervoso.

Apenas nesta noite, vou deixar você ficar acordado até tarde, enquanto ficamos sentados na soleira, contando todas as estrelas.

Apenas nesta noite eu vou me aconchegar ao seu lado por horas e, perder meus shows favoritos na TV.

Apenas nesta noite, quando eu passar meus dedos entre seus cabelos
enquanto você reza, eu vou simplesmente ser grato a Deus por ter me dado o maior presente do mundo.

Eu vou pensar nas mães e pais que procuram por seus filhos perdidos; nas mães e pais que visitam a sepultura de seus filhos, ao invés de suas camas; nas mães e pais que, estão em hospitais vendo seus filhos sofrerem, sem que isto tenha sentido e, gritando por dentro que não podem mais suportar isto.

E, quando eu te dar um beijo de boa noite, vou te segurar um pouquinho mais forte, por um pouquinho mais de tempo.

E, é então que, eu vou agradecer a Deus por você e, não pedir nada a Ele… exceto mais um dia.

(Autor Desconhecido)

 

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Gostaria muito de saber o autor desse texto, mas não encontrei nenhuma referência na Internet. Ao ler com atenção percebe-se que as sentenças foram construídas originalmente na língua inglesa. Busquei pela mesma e encontrei várias versões. O site Snope já havia feito um belo trabalho investigativo, inclusive demonstrando que o texto foi modificado inúmeras vezes e utilizado em campanhas fictícias para crianças igualmente fictícias a morrer de câncer e congêneres… http://www.snopes.com/inboxer/medical/arlington.asp

A autoria desse belo texto, contudo permanece desconhecida, embora seu apelo seja sempre um lembrete aos pais workaholics, a todo aquele que tem dificuldade de sair de seu próprio mundo por algumas horas e olhar para o Outro em formação, que no caso é seu próprio filho.

Arnaldo V. Carvalho

Mensagem a Garcia

Há muitos anos, meu avô mandou fazer uma rodagem de muitas cópias deste texto, pois o considerava profundamente. Compartilho aqui. Arnaldo

Uma Mensagem a Garcia

Elbert Hubbard (1856-1915)

Em todo este caso cubano, um homem se destaca no horizonte de minha memória como o planeta Marte no seu periélio. Quando irrompeu a guerra entre a Espanha e os Estados Unidos, o que importava a estes era comunicar-se rapidamente com o chefe dos insurretos, Garcia, que se sabia encontrar-se em alguma fortaleza no interior do sertão cubano, mas sem que se pudesse precisar exatamente onde. Era impossível comunicar-se com ele pelo correio ou pelo telégrafo. No entanto, o Presidente tinha que tratar de assegurar-se da sua colaboração, e isto o quanto antes. Que fazer?

Alguém lembrou ao Presidente: “Há um homem chamado Rowan; e se alguma pessoa é capaz de encontrar Garcia, há de ser Rowan”.

Rowan foi trazido à presença do Presidente, que lhe confiou uma carta com a incumbência de entregá-la a Garcia. De como este homem, Rowan, tomou a carta, meteu-a num invólucro impermeável, amarrou-a sobre o peito, e, após quatro dias, saltou, de um barco sem coberta, alta noite, nas costas de Cuba; de como se embrenhou no sertão, para depois de três semanas, surgir do outro lado da ilha, tendo atravessado a pé um país hostil e entregando a carta a Garcia – são cousas que não vêm ao caso narrar aqui pormenorizadamente. O ponto que desejo frisar é este: Mac Kinley deu a Rowan uma carta para ser entregue a Garcia; Rowan pegou da carta e nem sequer perguntou: “Onde é que ele está?”.

Hosannah! Eis aí um homem cujo busto merecia ser fundido em bronze imarcescível e sua estátua colocada em cada escola do país. Não é de sabedoria livresca que a juventude precisa, nem instrução sobre isto ou aquilo. Precisa, sim, de um endurecimento das vértebras, para poder mostrar-se altivo no exercício de um cargo; para atuar com diligência, para dar conta do recado; para, em suma, levar uma mensagem a Garcia.

O General Garcia já não é deste mundo, mas há outros Garcias. A nenhum homem que se tenha empenhado em levar avante uma empresa, em que a ajuda de muitos se torne precisa, têm sido poupados momentos de verdadeiro desespero ante a imbecilidade de grande número de homens, ante a inabilidade ou falta de disposição de concentrar a mente numa determinada cousa e fazê-la.

Assistência irregular, desatenção tola, indiferença irritante e trabalho mal feito parecem ser a regra geral. Nenhum homem pode ser verdadeiramente bem sucedido, salvo se lançar mão de todos os meios ao seu alcance, quer da força, quer do suborno, para obrigar outros homens a ajudá-lo, a não ser que Deus Onipotente, na sua grande misericórdia, faça um milagre enviando-lhe como auxiliar um anjo de luz.

Leitor amigo, tu mesmo podes tirar a prova. Estás sentado no teu escritório, rodeado de meia dúzia de empregados. Pois bem, chama um deles e pede-lhe: “Queira ter a bondade de consultar a enciclopédia e de me fazer uma descrição sucinta da vida de Corrégio “.

Dar-se-á o caso do empregado dizer calmamente: “Sim, Senhor” e executar o que se lhe pediu?

Nada disso! Olhar-te-á perplexo e de soslaio para fazer uma ou mais das seguintes perguntas:

Quem é ele?

Que enciclopédia?

Onde é que está a enciclopédia? Fui eu acaso contratado para fazer isso ?

Não quer dizer Bismark?

E se Carlos o fizesse?

Já morreu?

Precisa disso com urgência?

Não será melhor que eu traga o livro para que o senhor mesmo procure o que quer?

Para que quer saber isso ?

E aposto dez contra um que, depois de haveres respondido a tais perguntas, e explicado a maneira de procurar os dados pedidos e a razão por que deles precisas, teu empregado irá pedir a um companheiro que o ajude a encontrar Garcia, e, depois voltará para te dizer que tal homem não existe. Evidentemente, pode ser que eu perca a aposta; mas, segundo a lei das médias, jogo na certa. Ora, se fores prudente, não te darás ao trabalho de explicar ao teu “ajudante” que Corrégio se escreve com “C” e não com “K “, mas limitar-te-ás a dizer meigamente, esboçando o melhor sorriso. “Não faz mal; não se incomode “, e, dito isto, levantar-te-ás e procurarás tu mesmo. E esta incapacidade de atuar independentemente, esta inépcia moral, esta invalidez da vontade, esta atrofia de disposição de solicitamente se pôr em campo e agir – são as cousas que recuam para um futuro tão remoto o advento do socialismo puro. Se os homens não tomam a iniciativa de agir em seu próprio proveito, que farão quando o resultado do seu esforço redundar em benefício de todos? Por enquanto parece que os homens ainda precisam de ser feitorados. O que mantém muito empregado no seu posto e o faz trabalhar é o medo de se não o fizer, ser despedido no, fim do mês. Anuncia precisar de um taquígrafo, e nove entre dez candidatos à vaga não saberão ortografar nem pontuar – e, o que é mais, pensam que não é necessário sabê-lo.

Poderá uma pessoa destas escrever uma carta a Garcia?

– Vê aquele guarda-livros?, dizia-me o chefe de uma grande, fábrica.

– Sim, que tem?

– É um excelente guarda-livros. Contudo, se eu o mandasse, fazer um recado, talvez se desobrigasse da incumbência a contento, mas também podia muito bem ser que no caminho entrasse em duas ou três casas de bebidas, e que, quando chegasse ao seu destino, já não se recordasse da incumbência que lhe fora dada .

Será possível confiar-se a um tal homem uma carta para entregá-la a Garcia?

Ultimamente temos ouvido muitas expressões sentimentais externando simpatia para com os pobres entes que mourejam de sol a sol, para com os infelizes desempregados à cata do trabalho honesto, e tudo isto, quase sempre, entremeado de muita palavra dura para com os homens que estão no poder.

Nada se diz do patrão que envelhece antes do tempo, num baldado esforço para induzir eternos desgostosos e descontentes a trabalhar conscienciosamente; nada se diz de sua longa e paciente procura de pessoal, que, no entanto, muitas vezes nada mais faz do que “matar o tempo”, logo que ele volta as costas. Não há empresa que não esteja despendindo pessoal que se mostre incapaz de zelar pelos seus interesses, a fim de substituílo por outro mais apto. E este processo de seleção por eliminação está se operando incessantemente, em tempos adversos, com a única diferença que, quando os tempos são maus e o trabalho escasseia, a seleção se faz mais escrupulosamente, pondo-se fora, para sempre, os incompetentes e os inaproveitáveis. É a lei da sobrevivência do mais apto. Cada patrão, no seu próprio interesse, trata somente de guardar os melhores – aqueles que podem levar uma mensagem a Garcia.

Conheço um homem de aptidões realmente brilhantes, mas sem a fibra precisa para gerir um negócio próprio e que ademais se torna completamente inútil para qualquer outra pessoa, devido à suspeita insana que constantemente abriga de que seu patrão o esteja oprimindo ou tencione oprimi-lo. Sem poder mandar, não tolera que alguém o mande. Se lhe fosse confiada uma mensagem a Garcia, retrucaria provavelmente: “Leve-a você mesmo”.

Hoje este homem perambula errante pelas ruas em busca de trabalho, em quase petição de miséria. No entanto, ninguém que o conheça se aventura a dar-lhe trabalho porque é a personificação do descontentamento e do espírito de réplica. Refratário a qualquer conselho ou admoestação, a única cousa capaz de nele produzir algum efeito seria um bom pontapé dado com a ponta de uma bota de número 42, sola grossa e bico largo.

Sei, não resta dúvida, que um indivíduo moralmente aleijado como este, não é menos digno de compaixão que um fisicamente aleijado. Entretanto, nesta demonstração de compaixão, vertamos também uma lágrima pelos homens que se esforçam por levar avante uma grande empresa, cujas horas de trabalho não estão limitadas pelo som do apito e cujos cabelos ficam prematuramente encanecidos na incessante luta em que estão empenhados contra a indiferença desdenhosa, contra a imbecilidade crassa e a ingratidão atroz, justamente daqueles que, sem o seu espírito empreendedor, andariam famintos e sem lar.

Dar-se-á o caso de eu ter pintado a situação em cores demasiado carregadas? Pode ser que sim; mas, quando todo mundo se apraz em divagações quero lançar uma palavra de simpatia ao homem que imprime êxito a um empreendimento, ao homem que, a despeito de uma porção de impecilhos, sabe dirigir e coordenar os esforços de outros e que, após o triunfo, talvez verifique que nada ganhou; nada, salvo a sua mera subsistência.

Também eu carreguei marmitas e trabalhei como jornaleiro, como, também tenho sido patrão. Sei portanto, que alguma cousa se pode dizer de ambos os lados.

Não há excelência na pobreza de per si; farrapos não servem de recomendação. Nem todos os patrões são gananciosos e tiranos, da mesma forma que nem todos os pobres são virtuosos.

Todas as minhas simpatias pertencem ao homem que trabalha conscienciosamente, quer o patrão esteja, quer não. E o homem que, ao lhe ser confiada uma carta para Garcia, tranquilamente toma a missiva, sem fazer perguntas idiotas, e sem a intenção oculta de jogá-la na primeira sarjeta que encontrar, ou praticar qualquer outro feito que não seja entregá-la ao destinatário, esse homem nunca, fica “encostado” nem tem que se declarar em greve para, forçar um aumento de ordenado.

A civilização busca ansiosa, insistentemente, homem nestas condições. Tudo que um tal homem pedir, ser-lhe-á de conceder. Precisa-se dele em cada cidade, em cada vila, em cada lugarejo, em cada escritório, em cada oficina, em cada loja, fábrica ou venda. O grito do mundo inteiro praticamente se resume nisso: Precisa-se, e precisa-se com urgência de um homem capaz de levar uma mensagem a Garcia.

*   *   *

Sobre esse texto, em 1913 o autor escreveu:

Esta insignificância literária, UMA MENSAGEM A GARCIA, escrevi-a uma noite, depois do jantar, em uma hora. Foi a 22 de fevereiro de 1899, aniversário natalício de Washington, e o número de março da nossa revista “Philistine” estava prestes a entrar no prelo. Encontrava-me com disposição de escrever, e o artigo brotou espontâneo do meu coração, redigido, como foi, depois de um dia afanoso, durante o qual tinha procurado convencer alguns moradores um tanto renitentes do lugar, que deviam sair do estado comatoso em que se compraziam, esforçando-se por incutir-lhes radioatividade.

 

A idéia original, entretanto, veio-me de um pequeno argumento ventilado pelo meu filho Bert, ao tomarmos café, quando ele procurou sustentar ter sido Rowan o verdadeiro herói da Guerra de Cuba. Rowan pôs-se a caminho só e deu conta do recado – levou a mensagem a Garcia. Qual centelha luminosa, a idéia assenhoreou-se de minha mente. É verdade, disse comigo mesmo, o rapaz tem toda a razão, o herói é aquele que dá conta do recado que leva a mensagem a Garcia.

 

Levantei-me da mesa e escrevi “Uma mensagem a Garcia” de uma assentada. Entretanto liguei tão pouca importância a este artigo, que até foi publicado na Revista sem qualquer título. Pouco depois da edição ter saído do prelo, começaram a afluir pedidos para exemplares adicionais do número de Março do “Philistine”: uma dúzia, cinquenta, cem, e quando a American News Company encomendou mais mil exemplares, perguntei a um dos meus empregados qual o artigo que havia levantado o pó cósmico.

 

– “Esse de Garcia” – retrucou-me ele.

 

No dia seguinte chegou um telegrama de George H. Daniels, da Estrada de Ferro Central de Nova York, dizendo: “Indique preço para cem mil exemplares artigo Rowan, sob forma folheto, com anúncios estrada de ferro no verso. Diga também até quando pode fazer entrega “.

 

Respondi indicando o preço, e acrescentando que podia entregar os folhetos dali a dois anos. Dispúnhamos de facilidades restritas e cem mil folhetos afiguravam-se-nos um empreendimento de monta.

 

O resultado foi que autorizei o Sr. Daniels a reproduzir o artigo conforme lhe aprouvesse. Fê-lo então em forma de folhetos, e distribuiu-os em tal profusão que, duas ou três edições de meio milhão se esgotaram rapidamente. Além disso, foi o artigo reproduzido em mais de duzentas revistas e jornais. Tem sido traduzido, por assim dizer, em todas as línguas faladas.

 

Aconteceu que, justamente quando o Sr. Daniels estava fazendo a distribuição da Mensagem a Garcia, o Príncipe Hilakoff, Diretor das Estradas de Ferro Russas, se encontrava neste país. Era hóspede da Estrada de Ferro Central de Nova York, percorrendo todo o país acompanhando o Sr. Daniels. O príncipe viu o folheto, que o interessou, mais pelo fato de ser o próprio Sr. Daniels quem o estava distribuindo em tão grande quantidade, que propriamente por qualquer outro motivo.

 

Como quer que seja, quando o príncipe regressou à sua Pátria mandou traduzir o folheto para o russo e entregar um exemplar a cada empregado de estrada de ferro na Rússia. O breve trecho foi imitado por outros países; da Rússia o artigo passou para a Alemanha, França, Turquia, Hindustão e China. Durante a guerra entre Rússia e o Japão, foi entregue um exemplar da “Mensagem a Garcia” a cada soldado russo que se destinava ao front.

 

Os japoneses, ao encontrar os livrinhos em poder dos prisioneiros russos, chegaram à conclusão que havia de ser cousa boa, e não tardaram em vertê-lo para o japonês. Por ordem do Mikado foi distribuído um exemplar a cada empregado, civil ou militar do Governo Japonês.

 

Para cima de quarenta milhões de exemplares de “Uma Mensagem a Garcia” têm sido impressos, o que é sem dúvida a maior circulação jamais atingida por qualquer trabalho literário durante a vida do autor, graças a uma série de circunstâncias felizes. – E. H.

 

 

 

East Aurora, dezembro 1, 1913

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Saiba mais sobre esse texto:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Mensagem_a_Garcia

http://www.administradores.com.br/informe-se/artigos/mensagem-a-garcia/25870/

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Nota: Há na Internet mais de uma versão do mesmo texto. Acredito ser questão de tradução e condensação em alguns casos. Não encontrei apócrifos. (Arnaldo)

309 ferramentas para Internet e rede? Fique com 5

Por Arnaldo V. Carvalho*

Sim, foram 309 ferramentas para Internet esmiuçadas para você, leitor de nosso blog. Elas formam a lista de softwares para Internet GRATUITOS oferecidos no site baixaki.com.br. Após verificar uma a uma – funcionalidade, objetivos, etc., detectei as que mais podem ser úteis para qualquer usuário de computador. Pequenos programinhas que realmente ajudam a gente a se organizar, e que descrevo rapidamente aqui, já com link direto para baixarem:

Vamos a eles?

1 – Help me find a Site:

Esse programinha serve para encontrar sites com domínio similar. Se você está pesquisando um nome para seu site, ou quer conhecer sites com nomes parecidos com um que você queira, encontrou uma forma super simples e tranquila de faze-lo.

2 – Antiplagio

Essa ferramenta parece particularmente útil para professores, que sempre topam com plágio na hora de corrigir provas e trabalhos. O Antiplagiarist verifica e compara textos, apontando onde existem trechos com plágio.

 

3 – O endereço de verdade, qual é?

Então, você recebeu de um amigo um link bem curtinho, “codificado”. Mas espere, os vírus estão por aí, e por vezes usam o nome de seus amigos para se aproveitar e te mandar para uma página maliciosa qualquer. Para resolver isso, basta ter o “Long URL Please“, que mostra o endereço completo para o qual o link curtinho está te mandando. Muito mais seguro!

4 – Verificar a visibilidade do seu site: O programinha Rank-Tracker é uma maneira fácil de descobrir como seu site está no ranking de pesquisa nos grandes sites de busca. Super simples e ajuda a montar sites com maior visibilidade!

5 – Valide os links dos seus favoritos!

Você já acumula sites favoritos há tanto tempo, mas volta e meia se decepciona, pois alguns deles saíram do ar e nem te avisaram… Com o Link200, isso já não te perturba mais. Ele verifica seus favoritos e o mantém atualizado, o tempo todo. Bom né?

 

* Arnaldo V. Carvalho é um usuário de computadores experiente, e  se interessa em facilitar a vida das pessoas.