Descaso é mau trato! Animais domésticos merecem condições de viver com qualidade e quando em sofrimento, os tratamentos convenientes. Um dono que não leve isso em conta é autor de mau trato.
“A grandeza de uma nação pode ser julgada pelo modo que seus animais são tratados.”
(Mahatma Gandhi)

Até acontecerem situações próximas de onde se vive, talvez se pense que maus tratos a animais ocorrem somente em casos raros, em que o animal é torturado, ou colocado em rinhas etc. Mas mau trato não é só isso. Se um cachorro de grande porte passa a maior parte do tempo num corredor minúsculo do lado de fora da casa, isso é mau trato. Se um cachorro idoso está em sofrimento 24H por dia, com dores, e seus donos não tomam providências sobre o que fazer, isso é mau trato.
As leis orientam as pessoas a denunciarem esse tipo de crime, mas até para conseguir fazer isso é um desafio para qualquer um. Faze-las as leis serem aplicadas é mais complicado ainda. Mas antes das leis é preciso enfrentar o medo. Afinal de contas, possivelmente o autor do descaso mora ao lado, e um vizinho que maltrata seus animais é forte candidato a não gostar de ser denunciado e resolver retaliar, de muitas formas diversas.
Esse quase foi o caso ocorrido ao lado de minha casa. Um vizinho ganhou um Husky Siberiano cão lindo, de grande porte, que não se dá bem comb calor e precisa de espaço. Ele “plantou” o animal no corredor lateral, completamente apertado e inadequado. Não havia saídas, passeios, e a limpeza de seus excrementos era feita de forma precária. O bicho por meses latiu em sofrimento, e foi quando comecei a checar por formas de denunciar os vizinhos. Minha sogra, que já vive na região há mais de trinta anos, se assustou. Não queria problemas com os vizinhos, embora ela se sentisse igualmente sofrida pelo mau trato. A solução apontada por minha prima Teresinha, minha orientadora ativista protetora dos animais, era em primeiro lugar enviar uma notificaçao extra-judicial. Preparei-a e durante dias resolvi respirar para tomar coragem. Mas o jovem husky foi mais valente que eu, e tanto latiu diariamente que os próprios donos pelo visto perceberam que não tinham condições de cuida-lo e resolveram doa-lo (“finalmente não tem mais o cachorro chato”; “o cachorro mau foi embora”, ouvi por trás do muro uma vizinha reclamando e em outro momento explicando a uma criança sobre o “sumiço” do cão). Torço que o destino sorria a partir dali para aquela adorável criatura.
Mas os problemas não haviam acabado. Nessa mesma época, descobri que os mesmos vizinhos eram donos de uma husky já velha, que foi acostumada a ficar num espaço nos fundos e não reclamava. Adequou-se como uma enorme cerejeira se adequa em pequeno vaso de bonzai. Porém, após a passagem do cãozinho, ela passou a uivar e não parou mais. De um lado talvez tenha descoberto um meio de expressar sua dor. De outro, a idade avançada já não lhe permitia levantar-se, de modo que possivelmente tinha diversas dores pelo corpo. O problema aqui já não era falta de espaço – o tempo por espaço já havia passado. O problema era a completa falta de assistência ou gestos de amor. Os vizinhos faziam o mínimo. Resolveram dar remédio depois de dias dela reclamando, e siceramente não gostaria de pensar assim, mas penso que só se mexeram porque os ganidos noturnos lhes perturbavam o sono. Ouvi várias vezes os vizinhos reclamarem, brigarem com ela, dizerem “por que não cala a boca”, e até “porque não pode sofrer quieta”?Tomavam por suplício todo tipo de ajuda. E ela gemendo de dor quase que noite e dia, velha, e sem receber qualquer tipo de afago ou gesto amoroso. Há pouco tempo, ela foi para um hospital. Será que voltará? É triste pensar que talvez não deva voltar, pro bem dela.
O que vivi fez-me sentir o quão covarde sou. Durante esse tempo, não enfrentei os vizinhos. Não consegui criar uma solução – pois não teria como dar assitência a um cão doente no atual momento de minha vida. Não consegui vencer uma percepção egoísta de estar já tão assoberbado com meus próprios problemas que não poderia me envolver em outros. Talvez eu pudesse pedir ao menos que pudesse visita-la, e ao menos oferecer algum calor mamífero.
Sim, se ela voltar, é isso o que vou fazer. Que tudo dê certo.
Arnaldo V. Carvalho
PS: ATENÇÃO ESSES SÃO LINKS DE ORIENTAÇÃO SOBRE COMO DENUNCIAR MAUS TRATOS A ANIMAIS. NÃO HESITEM EM CONHECER E ACIONAR AS FERRAMENTAS DA SOCIEDADE QUANDO NECESSÁRIO
http://www.pea.org.br/denunciar.htm
http://www.sava.org.br/como_denunciar_maus_tratos.html
http://www.rio.rj.gov.br/web/sepda/exibeconteudo?article-id=130787
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