Moro no Rio há uns poucos anos.
É a primeira vez que tenho saudades de Niterói.
Não é a cidade. Não é o que tem lá. É a vida, a origem: minha mãe, minhas filhas.
Deu vontade de voltar. Mas como?
A razão me fez sair. A emoção queria de volta o que jamais poderia ser.
Dos prodígios, à saudade de casa, minha viagem se conclui com o filme I. A., cujo final acidentalmente me chegou quando liguei a TV.
Minhas memórias de anos atrás haviam registrado o que se passou na história de Spielberg, somente até o encontro do protagonista (o menino android David) com o futuro distante: muitas eras se vão, ele é resgatado do gelo, seres evoluídos lhe confortaram. Nada mais.
Comecei a assistir exatamente dessa parte – o “The End” que ficara registrado em minha mente. Esperei anos para talvez dar a importância devida ao final programado para a película.
Lembrava que o todo do texto de I. A. era excepcional. Revendo com os olhos de hoje, digo que é ainda melhor. No instante em que revi a passagem final, ela ressonava em meu instante, em minha saudade. Naquilo que nunca voltará.
Chorei. Chorei como a criança que David sonhara ser. Fui humanamente criança naquele instante. Uma simples criança que por um instante só queria estar de volta. Ao lar, aos braços e colos e abraços de sua mãe.
O menino David tem seu dia final com a mãe, e faz dele o dia perfeito. Ao final, adormece com as palavras: “eu te amo. sempre te amei”.
Concluí (e desejei), em meio às lágrimas, que terminar assim é mesmo um bom sono; e um bom fim.
“E pela primeira vez, ele foi para o lugar onde os sonhos nascem”.
Rio de Janeiro, 16 de outubro de 2017
Arnaldo V. Carvalho